Ícone do site ContilNet Notícias

Estudo alerta para iminência da ‘Era das Pandemias’

Por NOTÍCIAS AO MINUTO

Futuras pandemias surgirão cada vez com maior frequência, se espalharão mais rapidamente, causarão mais danos à economia mundial e matarão mais pessoas do que a covid-19, se não forem adotadas globalmente estratégias preventivas que incluam uma proteção maior ao meio ambiente. O alerta foi dado nesta quinta-feira, 29, por um painel internacional de cientistas que classificou o momento que vivemos como “Era das Pandemias”.

O trabalho, encomendado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), foi conduzido por um grupo de 22 cientistas que revisaram as evidências sobre a relação entre a expansão de doenças infecciosas transmitidas de animais para pessoas e a biodiversidade.

Eles indicam que é possível escaparmos dessa “Era das Pandemias” adotando medidas mais preventivas que reativas. Isso passa por adotar políticas e ações relacionadas à forma como lidamos com a natureza, que podem diminuir os riscos de futuras pandemias. A ideia é reduzir problemas que já levam a outros impactos – como desmatamento, por exemplo.

“As pandemias têm sua origem em diversos micróbios transportados por reservatórios animais, mas seu surgimento é inteiramente impulsionado por atividades humanas”, escrevem os pesquisadores no sumário executivo do relatório. “As causas subjacentes das pandemias são as mesmas alterações ambientais globais que impulsionam a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas. Isso inclui mudança no uso da terra, expansão e intensificação da agricultura e comércio e consumo de animais selvagens”, apontam.

De acordo com os pesquisadores, todas essas condições – que deixam animais de criação e pessoas próximos à vida selvagem – acabam facilitando aos micróbios dos animais se moverem para as pessoas, levando a “infecções, às vezes surtos, e mais raramente a verdadeiras pandemias que se espalham por redes rodoviárias, centros urbanos e viagens globais e rotas comerciais”.

Zoonoses

O trabalho destaca que 70% das doenças emergentes no mundo, como ebola e zika, e quase todas as pandemias (influenza, HIV/aids, covid-19) são zoonoses, ou seja, causadas por micróbios que infectavam originalmente animais. E o surgimento dessas doenças entre as pessoas está se acelerando – eles calculam cinco novas por ano.

Os pesquisadores estimam que possam existir cerca de 1,7 milhão de vírus hoje desconhecidos tendo como hospedeiros mamíferos, em especial os morcegos – como ocorreu com a própria covid-19 -, ou aves. Desses, entre 540 mil e 850 mil poderiam chegar a dar o salto das espécies e contaminar humanos.

O cerne da questão, ressaltam os autores, não é culpar a natureza, mas entender que o surgimento das doenças só ocorre porque estamos afetando o ambiente onde os micróbios estão quietos. O desmatamento, a expansão agrícola e o tráfico de animais causam aproximação. O aquecimento global e as mudanças climáticas, já associados, por exemplo, à encefalite transmitida por carrapatos na Escandinávia, podem aumentar o risco de surgimento de novas doenças ao impulsionar migrações de pessoas e de animais após algumas regiões se tornarem inabitáveis.

Prevenção

Reduzir todas essas pressões humanas, sugerem os pesquisadores, é mais barato que lidar com uma pandemia como a da covid-19. “Estima-se que as estratégias globais para prevenir pandemias baseadas na redução do comércio de animais selvagens e de mudanças no uso da terra, além do aumento da vigilância, custem entre US$ 40 bilhões e US$ 58 bilhões anuais (aproximadamente entre R$ 200 bilhões e R$ 290 bilhões) – duas ordens de magnitude a menos do que os danos causados pelas pandemias.” Eles comparam com estimativas que vão a um custo de até US$ 16 trilhões só nos Estados Unidos até o ano que vem – isso se uma vacina contra a covid-19 já estiver sendo aplicada.

A pesquisadora brasileira Mariana Vale, da UFRJ, que em julho publicou um estudo na revista Science com esse alerta, lembra que a relação entre desmatamento e emergência dessas doenças já é bem estabelecida pela ciência e não há por que adiar esse tipo de ação. “Ou a humanidade muda de atitude em relação à natureza, ou teremos de conviver com pandemias recorrentes como a covid-19”, disse ao Estadão.

A Amazônia, sofrendo com uma alta do desmatamento, diz ela, oferece risco particularmente alto para a aparição de novas doenças. Lá está a maior diversidade de morcegos do mundo – cerca de 120 espécies. Para a pesquisadora, é uma sorte que a devastação da Amazônia ainda não tenha resultado no encontro de humanos com um vírus potencialmente pandêmico.

Entre as recomendações do painel está a criação de um “conselho intergovernamental de alto nível” capaz de prever quais são as áreas de mais alto risco e de avaliar o impacto econômico de pandemias em potencial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Sair da versão mobile