Gosto não se discute: O Estado e o mercado não são excludentes, e sim complementares

Uma pequena notícia que em meio a tanta tragédia trás paz, e em meio ao turbilhão passado, vira uma luz no fim do túnel. Em março desse ano, foi lançado o livro “Economia do Bem Comum”, de Jean Tirole, Prêmio Nobel de 2014.

O título provoca incômodo. A visão convencional opõe a economia de mercado à solidariedade e ao cuidado com o meio ambiente. Além disso, definir o bem comum implica juízo de valor, na contramão da economia, que enfatiza a diversidade dos indivíduos.

“Gosto não se discute”, é um velho lema dos economistas, e daí o seu liberalismo. Cada um deve poder fazer o que achar melhor, desde que não prejudique os demais.

O mercado, porém, não é um fim em si mesmo. Ele é apenas um mecanismo, em geral eficiente, às vezes imperfeito, para atingir o bem comum, como afirma Tirole.

Um antigo exercício abstrato utilizado por John Harsanyi e John Rawls ajuda a superar o impasse. Imagine que você tenha consciência antes de nascer, mas não sabe se vai ser rico ou pobre, saudável ou portador de genes atrapalhados. Em que sociedade preferiria viver?

A igualdade de oportunidades tenta corrigir os acidentes da infância, e o direito à saúde protege os portadores de deficiências congênitas.

A economia combina modelos teóricos que necessariamente simplificam a realidade para testar, com base na estatística, as implicações das diversas conjecturas. Nada fácil, como revela a pesquisa aplicada do último meio século.

Todos temos preconceitos. E o rigor ao analisar a evidência, é o melhor remédio para evitar decisões precipitadas, que produzem resultados inversos aos pretendidos.

Ao economista não cabe dizer o que fazer, apenas apontar as consequências de cada escolha, com base nos dados disponíveis.

O debate sobre desigualdade de renda é bem mais sutil do que se imagina. A depender das suas causas, a intervenção pública pode ser benéfica ou resultar em desastre. Um dos muitos casos repletos de nuances examinados no livro.

Estado e mercado não são excludentes, e sim complementares. A tese de que os indivíduos, sem a moderação do poder público, produzem o melhor dos mundos, é tão desprovida de evidência quanto a crença de que o Estado pode planejar eficientemente a economia.

Na sua carreira, Tirole estudou os desafios da regulação para lidar com falhas de mercado. Cada caso é um caso. Atenção à técnica e aos detalhes são fundamentais para que a intervenção seja eficaz e não destrutiva.

A crise de saúde pública e o distanciamento social desestruturam mercados e fragilizam famílias. Cabe ao governo coordenar as ações, com protocolos e gestão da escassez. A estultice de autoridades e a incompetência operacional, porém, podem agravar a letalidade da pandemia.

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Gosto não se discute: O Estado e o mercado não são excludentes, e sim complementares