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NYT: Fogo no Pantanal transformou a maior área úmida do mundo em um inferno

Por O GLOBO

Cerca de 25% da área úmida do Pantanal no Brasil, um dos lugares de maior biodiversidade do planeta, foi queimada em incêndios florestais este ano agravados pelas mudanças climáticas. O bioma, embora não seja conhecido mundialmente, é o lar de concentrações excepcionalmente altas de vida selvagem, como onças, antas, ariranhas ameaçadas de extinção e araras azuis brilhantes.

A planície úmida, que é maior que a Grécia e se estende por partes do Brasil, Paraguai e Bolívia, regula o ciclo de água de uma vasta área da América do Sul e armazena uma quantidade incontáveil de carbono, ajudando a estabilizar o clima.

— A extensão dos incêndios é impressionante — diz Douglas Morton, que chefia o Laboratório de Ciências Biosféricas do Goddard Space Flight Center da Nasa e estuda o fogo e a produção de alimentos na América do Sul. — Quando você destrói um quarto de um bioma, cria todos os tipos de circunstâncias sem precedentes.

O fogo de ocorrência natural desempenha um papel importante no Pantanal, além da queimada pelos fazendeiros, praticada durante séculos para limpar terrenos. As chamas geralmente são contidas pelo mosaico de água da paisagem. Mas a seca deste ano secou essas barreiras naturais. Os incêndios ficaram fora de controle, muito piores do que qualquer um desde o início dos registros de satélite.

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Os incêndios também são piores do que qualquer outro na memória do povo Guató, um grupo indígena cujos ancestrais vivem no Pantanal há milhares de anos.

Líderes Guató que vivem em um território indígena chamado Baía dos Guató disseram que os incêndios se espalharam pelas fazendas que cercam suas terras.

Quando o fogo começou a atingir a casa de Sandra Guató Silva, líder comunitária e curandeira, ela lutou para salvá-la com a ajuda de seu filho, neto e um capitão de barco com uma mangueira.

A família passou horas jogando desesperadamente baldes de água do rio e borrifaram a área ao redor da casa e seu telhado de folhas de palmeira. Eles conseguiram defendê-la, mas pelo menos 85% do território de seu povo foi queimado, de acordo com o Instituto Centro de Vida, um grupo sem fins lucrativos que monitora o uso da terra na área.

— Isso me deixa doente. Os pássaros não cantam mais. Até o tigre que uma vez me assustou está sofrendo — lamenta Guató Silva. — Agora há um silêncio vazio. Sinto como se nossa liberdade tivesse nos deixado, sido tirada de nós com a natureza que sempre protegemos.

As populações pantaneiras dependem de doações de água e alimentos. Elas temem que, assim que as chuvas chegarem em outubro, as cinzas corram para os rios e matem os peixes de que dependem para sua alimentação e sobrevivência.

Os cientistas estão lutando para determinar uma estimativa dos animais mortos nos incêndios. Embora grandes mamíferos e pássaros tenham sofrido baixas, muitos conseguiram fugir. A tragédia foi maior entre répteis, anfíbios e pequenos mamíferos. Um dos locais mais atingidos foi um parque nacional designado como Patrimônio Mundial das Nações Unidas .

Voluntários do resgate de animais migraram para o Pantanal, entregando animais feridos para estações de triagem veterinária e deixando comida e água para outros animais encontrarem. Larissa Pratta Campos, estudante de veterinária, ajudou no tratamento de javalis, veados-do-pantanal, pássaros, primatas e uma criatura parecida com um guaxinim chamado quati.

Na semana passada, o jornal O GLOBO noticiou que especialistas em combate a incêndios da principal agência de proteção ambiental do Brasil foram impedidos por procedimentos burocráticos, atrasando sua implantação em quatro meses.

Mais de 90% do Pantanal é propriedade privada. Os fazendeiros criam gado ali há centenas de anos, e os ecologistas enfatizam que muitos o fazem de maneira sustentável. Mas novos agricultores estão se mudando, muitas vezes com pouco conhecimento de como usar o fogo adequadamente, disse Cátia Nunes, uma cientista do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Pântanos. Além disso, a criação de gado nas terras altas pressionou os fazendeiros locais a aumentar o tamanho de seus rebanhos, usando mais terras ao fazê-lo. [Foto de capa: Araquém Alcântara]

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