Presidente da Anvisa diz que liberação de plantio para maconha medicinal depende do Congresso

Antonio Barra Torres, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao comando da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), disse nesta segunda-feira (19) que cabe ao Congresso discutir a liberação do plantio de maconha para fins medicinais. Barra Torres, que está interinamente na presidência da agência reguladora desde dezembro, foi relator do voto que permitiu a importação de remédios a base de cannabis, mas proibiu o plantio com essa finalidade no país.

— Não há nenhum problema com essas substâncias, desde que, é claro, haja um regramento firme no sentido de controlá-las para que não causem mais mal do que bem. E no caso do plantio, na época, o meu entendimento foi de que não cabia a uma agência reguladora usurpar um poder que é dos senhores senadores e deputados federais integrantes desse Congresso. Não posso aceitar, pelo menos pessoalmente, esse tipo de coisa — disse Barra Torres.

À época do pedido de vista, em outubro de 2019, Barra Torres ainda estava no cargo de diretor, para o qual tinha sido aprovado pelo Senado em agosto. A Anvisa analisava a possibilidade da agência autorizar o plantio de maconha por empresas. Na ocasião, Torres argumentou que  o processo não foi conduzido devidamente na agência e que a Anvisa não teria prerrogativa legal para autorizar a atividade.

Segundo o diretor-presidente substituto, que teve seu nome aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado na noite de hoje, não cabe a uma agência reguladora “criar uma atividade econômica” que não existe no país.

— O fulcro fundamental do meu voto àquela época foi que não caberia a uma agencia reguladora criar uma atividade econômica inexistente no país, e sim esta Casa. Então, a legitimidade dessa discussão está sendo feita no local exatamente apropriado, onde os senhores, vossas excelências, os legítimos representantes do nosso povo, têm não só o direito, como o dever, de posicionarem-se a respeito dessa questão — disse o presidente da agência.

Barra Torres foi questionado sobre o tema pelos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Mara Gabrili (PSDB-SP). A senadora paulista o questionou sobre a mudança de posição em relação ao tema, mas Barra Torres foi evasivo. Com a resposta esquiva, Mara voltou a cobrá-lo, afirmando que não estava dando mais poder à Anvisa como ele justificou.

— Quero também lembrar ao Dr. Antonio Barra que a primeira vez que nós conversamos sobre cannabis medicinal antes de você assumir como diretor substituto, a sua fala para mim foi outra. A sua fala foi bem diferente do que aconteceu depois de toda a ação. E eu não estou nem dando excesso de poder à Anvisa, nem tirando poder do Legislativo, pelo contrário, eu só estava mencionando uma mudança de colocação do senhor com relação a mim e com relação a esse tema, que primeiro o senhor demonstrou um interesse de uma forma e, depois que o senhor virou diretor substituto, o senhor teve uma atuação de forma diferente — apontou Mara.

Em julho do ano passado, quando foi sabatinado pela CAS para o cargo de diretor da agência, Barra Torres disse que era a favor de aprofundar os estudos que embasassem a liberação do uso medicinal do canabidiol, substância que é extraída da cannabis.

— Na medida em que os estudos vão sendo aprofundados, a aplicação [médica] poderia ser autorizada. Me causaria preocupação uma autorização geral para [a cannabis sativa] ser plantada, pois não seria possível fiscalizar — declarou ele à época.

A indicação do diretor para o comando da agência, que atualmente exerce interinamente, foi aprovada na noite desta segunda pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado por 15 votos favoráveis e 3 contrários. A indicação ainda precisa ser analisada no plenário do Senado.

Barra Torres é formado em Medicina pela Fundação Técnico-Educacional Souza Marques, no Rio de Janeiro e ingressou na Marinha em 1987. Em 2015 chegou ao posto de contra-almirante, uma das patentes mais altas da Força, e foi para a reserva no ano passado. O militar está desde 21 de dezembro do ano passado interinamente na presidência da agência de vigilância sanitária. Ele assumiu após o mandato de William Dib ser encerrado. [Foto de capa: Divulgação]

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