Não é preciso ficar preocupado com a interrupção dos testes da vacina contra a covid-19, afirmam especialistas. A pausa da pesquisa clínica feita pela Johnson & Johnson, assim como ocorreu com a da Astrazeneca, é parte do processo e uma medida de segurança para o desenvolvimento da fórmula que pode trazer a imunidade contra o novo coronavírus. Um possível efeito colateral, no entanto, será um atraso no cronograma da vacinação contra a covid-19.
— A interrupção é comum e faz parte do protocolo. Toda vez que se tem um efeito adverso grave, o desenvolvimento de uma nova doença ou uma morte é preciso parar. Até mesmo quando a causa da morte não tenha nada a ver, o estudo precisa ser parado, pois a vacina pode estar relacionada. Por exemplo, o voluntário é atropelado e morre. Teoricamente, isto não tem nada a ver com a vacina, mas é preciso avaliar se a pessoa foi atropelada porque estava desorientada e se a vacina pode ter levado a um quadro neurológico que fez com que a pessoa ficasse nesta condição. Tudo deve ser analisado — afirma Alberto Chebabo, professor da UFRJ e infectologista do laboratório Sérgio Franco.
Ambas as vacinas que já tiveram seus testes interrompidos usam a tecnologia de vetor viral não replicante: usa-se um adenovírus enfraquecido e geneticamente moficado (com o material genético do vírus que se quer combater) para incentivar o sistema imunológico a produzir anticorpos. No entanto, esse adenovírus não é capaz de se reproduzir dentro do corpo humano. Apesar disso, ainda ajuda a produzir células de defesa.
Enquanto a Johnson & Johnson usa o Adenovírus 26, ou Ad26, — que já foi empregado na vacina contra o Ebola — a Astrazeneca utiliza um adenovírus de chimpanzé chamado ChAdOx1.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, explicou à época em que a Astrazeneca suspendeu seus testes que, durante uma pesquisa, toda e qualquer ocorrência grave, mesmo que os pesquisadores entendam que pouco provavelmente tenha a ver com a vacina, precisa e deve ser investigada.
— A pesquisa serve para isso. A interrupção ocorre enquanto não se investigar adequadamente outras possíveis causas para essa situação grave. Não vamos expor outras pessoas. Garantir uma vacina segura para a população é garantir que todas as etapas serão cumpridas. E foi o que aconteceu — explica a especialista.
A microbiologista, presidente do Instituto Questão de Ciência e colunista do GLOBO, Natalia Pasternak reforçou na ocasião que a interrupção a exemplo da AstraZeneca e, agora, da Johnson & Johnson, é protocolar e esperada:
— Efeitos adversos raros só vão aparecer quando se vacinaR milhares de pessoas. Então, é normal. Quanto mais gente você vai vacinar, maior é a probabilidade de aparecer algum efeito adverso grave. E a fase 3 serve exatamente para isso e é por isso que ela deve ser feita com um número grande de pessoas, porque assim testamos a eficácia e continuamos a testar a segurança. Isso mostra que os testes de segurança estão atentos e que estão acompanhando as pessoas e por isso que pegaram este caso grave. Não há motivo para pânico. [Foto de capa: Mark Ralston/AFP]