Voluntário de vacina contra covid-19 fez pré-vestibular social para entrar em universidade

O médico João Pedro Rodrigues Feitosa, de 28 anos, foi descrito pela namorada, pela família e por amigos como “o Feitosa dos vídeos sem sentido, dos jogos de tabuleiro, das noites em claro apenas conversando, do amigo que sempre esteve presente”. Em suas redes sociais ele se mostrava apaixonado por Pokémon e pelo Japão.

O médico participou da pesquisa clínica que testa a segurança da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. No entanto, fontes afirmam que João Pedro tomou a vacina contra meningite, e usada como placebo para o grupo controle do estudo, e não a dose desenvolvida para combater o novo coronavírus.

Apesar de recém-formado, ele estava desde março atuando na linha de frente do combate à covid-19, atendendo pacientes em UTIs e emergências. Ele trabalhava em dois hospitais: um privado e outro da rede municipal, ambos na Zona Norte do Rio.

João Pedro se formou em julho de 2019 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com direito a “distinção de dignidade acadêmica ‘Cum Laude’, quando o aluno finaliza a graduação na UFRJ com coeficiente de rendimento acumulado igual ou maior que 8. João teve nota final 8,7”, informa a universidade em nota de despedida.

Mas o caminho para chegar à faculdade de medicina não foi fácil. Estudante da rede pública, ele fez um pré-vestibular social para conseguir entrar na faculdade. Num primeiro momento, abriu mão do sonho de se tornar médico e optou por prestar vestibular para Enfermagem. João Pedro iniciou o curso no segundo semestre de 2011. Três anos depois, conseguiu ingressar em medicina por meio de um processo seletivo interno na UFRJ, iniciando no novo curso em 2014.

Durante a faculdade de medicina, ele foi bolsista-monitor porque precisava de ajuda financeira para se manter. Morou em Olaria durante o curso, mas, quando se formou, mudou-se para a Lagoa. Segundo o grupo de recém-formados, ele ganhou R$ 40 mil num mês trabalhando exaustivamente, inclusive dobrando plantões. De acordo com os amigos, a luta pela sobrevivência o fez aprender rápido e trabalhar muito. Ele foi o primeiro de sua turma a tirar o CRM, em 2 de julho de 2019, segundo o cadastro do Conselho Federal de Medicina.

A morte surpreendeu e chocou os mais próximos, já que o médico, segundo amigos, tinha boa saúde e não sofria de qualquer comorbidade. Ele teria recebido a dose de uma substância parte do estudo clínico da AstraZeneca/Oxford no fim de julho. O médico adoeceu em setembro e seu quadro se agravou até falecer, em 15 de outubro. [Foto de capa: Reprodução/Redes sociais]

PUBLICIDADE