Após anunciar força-tarefa para a Covid-19, Biden faz apelo para que todos usem máscara

Em seu primeiro dia útil como presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden anunciou nesta segunda-feira uma força-tarefa para combater a pandemia de covid-19, advertiu para um “inverno sombrio” pela frente e fez um apelo para que toda a população americana use máscara. Todos os nomes anunciados pelo democrata são médicos ou especialistas de saúde. Entre eles, há uma brasileira, a médica e acadêmica Luciana Borio.

O anúncio de Biden coincidiu com a notícia de que a vacina experimental desenvolvida em parceria da Pfizer e da BioNTech tem efetividade superior a 90%. Segundo o presidente eleito, a novidade é “excelente”, mas é necessário garantir que a vacina é segura e seu processo de aprovação, transparente e científico. Mesmo que sua eficácia seja comprovada, ele ressaltou, passarão meses até que esteja disponível para o público. Até lá, é necessário que todos usem máscaras:

— Não importa em quem você tenha votado, o que você achava antes da eleição, não importa seu partido, seu ponto de vista, podemos salvar dezenas de milhares de vidas se todos usarem máscaras pelos próximos meses. Não vidas democratas ou republicanas, mas americanas — disse o presidente eleito.

Referindo-se ao debate ideológico que se instalou no país sobre o uso da proteção, com presidente Donald Trump hesitando em recomendá-lo e grupos conservadores alegando que a obrigatoriedade da utilização fere as liberdades individuais, Biden completou:

— Eu imploro a vocês, por favor, usem máscaras (…). Elas não são uma declaração política, mas são uma boa maneira de começar a unir o nosso país.

No domingo, os Estados Unidos ultrapassaram 10 milhões de casos registrados de covid-19, mais do que qualquer outro país do planeta. Apenas nos últimos 10 dias, os EUA contabilizaram cerca de 1 milhão de novas infecções. Em cinco dos últimos sete dias, seus diagnósticos diários ultrapassaram 100 mil.

Até o momento, mais de 237 mil americanos já morreram. A estimativa, segundo Biden, é que mais 200 mil pessoas podem morrer nos próximos meses.

Brasileira na equipe

Mais cedo, o democrata havia anunciado que a força-tarefa do governo de transição será liderada pelos médicos David Kessler, que foi diretor da FDA, a Anvisa americana, durante os governos de George H. W. Bush e Bill Clinton; Marcella Nunez-Smith, da faculdade de Medicina da Universidade Yale; e Vivek Murthy, que foi chefe do Serviço de Saúde Pública nos EUA.

Entre os outros dez integrantes do conselho está a brasileira Luciana Borio, que começou a trabalhar no governo americano durante o governo de George W. Bush e assumiu posições de liderança durante os mandatos de Barack Obama e Donald Trump. Ela foi cientista-chefe da FDA e diretora para preparação médica e de biodefesa do Conselho de Segurança Nacional, cargo extinto pelo atual ocupante da Casa Branca. Parte de seu trabalho é focada na biodefesa e na preparação para lidar com pandemias. Hoje, é vice-presidente da In-Q-Tel, empresa de investimento em tecnologia de ponta para defesa e segurança nacional.

Outro integrante proeminente é Rick Bright, antigo funcionário da Autoridade para Pesquisa e Desenvolvimento de Pesquisas Avançadas em Biomedicina, braço do governo americano. Ele afirma ter sido demitido após questionar a defesa de Trump à cloroquina, droga sem qualquer evidência científica de eficiência contra o coronavírus, e alertar para a falta de remédios e equipamentos.

Segundo Biden, o objetivo do grupo é pôr em ação um plano para ser implementado após sua posse, em 20 de janeiro. O projeto, disse o presidente eleito, será não só fundamentado na ciência, mas deverá abordar as diferenças econômicas e sanitárias que fazem com que o vírus atinja com mais força grupos minoritários, como comunidades negras, latinas, asiáticas e indígenas.

A meta é aumentar a testagem e construir uma rede efetiva de rastreio de contatos. Biden também defende que a vacina deve ser prioritária para o grupo de risco, que haja diretrizes detalhadas de distanciamento, recursos para pequenos negócios. Ele também defende regras para a reabertura segura de creches e o aumento da produção de remédios, tratamentos e equipamentos.

— E, quando ela estiver pronta, garantir que uma vacina aprovada seja distribuída igualitária, eficiente e gratuitamente para todos os americanos — disse. — Nós vamos seguir a ciência.

Sem concessão, sem repasse

Segundo a Bloomberg, assessores de saúde do presidente eleito se encontraram com executivos do setor farmacêutico em setembro e outubro, para discutir sobre a operação Warp Speed, que busca acelerar o desenvolvimento de vacinas e tratamentos para a covid-19. De acordo com o veículo, os democratas não pretendem fazer mudanças que possam atrapalhar os planos de colocar novos medicamentos no mercado. A vacina da Pfizer não faz parte do programa de fomento da Casa Branca.

Ao contrário de Trump, que teve embates públicos com governadores democratas que defendiam quarentenas, Biden prometeu um esforço bipartidário com governadores e prefeitos. A força-tarefa, ele disse, também inclui especialistas em saúde global para “restaurar a liderança global dos EUA e lutar contra esta pandemia”.

— Nosso país está sob ameaça. Agora estamos sendo chamados a fazer o que gerações de americanos fizeram durante a História quando estavam diante de crises. Superar nossas diferenças, defender a força e a vitalidade da nossa nação — afirmou. — Esse é o caráter dos Estados Unidos. Precisamos fazer isso juntos.

Leia a íntegra do discurso da vitória de Biden: ‘Busquei este cargo para reconstruir a espinha dorsal da nação — a classe média’

Por mais que a campanha de Biden dê sinais de que não vai esperar o atual ocupante da Casa Branca ceder para começar a transição, a Administração de Serviços Gerais do governo ainda não reconheceu o resultado da eleição. Até que isto aconteça, a equipe democrata não terá acesso às agências federais ou às verbas destinadas para a transição.

O atual presidente ainda nem concedeu a derrota nas eleições da semana passada, alegando ter sido vítima de fraude eleitoral, mesmo sem qualquer evidência disto. Pondo os EUA em risco de uma crise institucional, Trump lançou uma série de processos para contestar o resultado do pleito nos estados mais disputados, alegando fraudes e demandando recontagens. Além disso, planeja também realizar comícios para mobilizar sua base. Seus avanços, no entanto, têm poucas chances de serem bem-sucedidos, alertam especialistas, e, segundo a imprensa americana, há pessoas próximas ao presidente que defendem que reconheça a derrota. [Capa: Jonathan Ernst/Reuters]

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