17 de abril de 2024

Biden diz que EUA ‘estão de volta e prontos para liderar o mundo’

O presidente eleito Joe Biden deu, nesta terça-feira (24), contornos mais claros à doutrina que vai reger a política externa americana nos próximos anos, marcada pela ênfase na questão climática, pela retomada do diálogo com antigos aliados, muitos esquecidos por Donald Trump, e pela defesa do multilateralismo como forma de recolocar os Estados Unidos em uma posição de liderança global.

— Essa é uma equipe que reflete o fato de que os EUA estão de volta. Prontos para liderar o mundo e não para se retraírem — declarou Biden na tarde desta terça-feira, ao apresentar sua equipe de segurança nacional e política externa. — Essa equipe adota minha visão de que os EUA são mais fortes com os seus aliados.

O democrata fez o pronunciamento um dia depois de Trump ter, finalmente, autorizado o início da transição formal de poder — uma forma enviesada de reconhecer sua derrota eleitoral. A notícia levou as bolsas americanas a baterem recordes, influenciadas também pela indicação já dada como certa de Janet Yellen, ex-presidente do Fed, para a Secretaria do Tesouro, o que indicaria mais gastos do governo para estimular a economia.

A reformulação da diplomacia americana após quatro anos de Donald Trump era um dos pilares da campanha de Biden, que prometia uma política de reinclusão dos EUA nos cenários multilaterais logo em seus primeiros movimentos. Com isso, quebraria o isolacionismo dos anos Trump, nos quais os EUA abandonaram uma série de acordos, a começar pelo Acordo de Paris para o clima, e puseram de lado antigos parceiros, como as nações europeias.

Por isso, Biden ressaltou, ao lado de seus indicados, que eles ajudariam a “reimaginar a política externa americana”, deixando um legado para as futuras gerações e, dessa forma, restabelecendo o papel dos EUA no mundo, “especialmente sua liderança global”.

A ideia da necessidade de reconstruir relações foi ressaltada pelo indicado para comandar o Departamento de Estado, Antony Blinken.

— Como o presidente eleito afirmou, não podemos resolver todos os problemas do mundo sozinhos. Nós precisamos trabalhar com outros países. Precisamos de sua cooperação. Precisamos de sua parceria.

Na mesma linha, a indicada para chefiar a missão dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, fez coro às palavras que Biden pronunciara minutos anos.

— Os EUA estão de volta, o multilateralismo está de volta, a diplomacia está de volta — declarou a diplomata, listando uma série de desafios a serem enfrentados pelo novo governo, como a pandemia do novo coronavírus e seu impacto social, além da situação dos refugiados. Para ela, são questões que podem ser resolvidas se os EUA agirem em conjunto com a comunidade internacional.

Destaque à questão climática

Nenhuma prioridade diplomática mereceu tanta atenção de Joe Biden como a questão climática. Em sua fala, ele ressaltou que pela primeira vez os EUA terão um representante em tempo integral para o tema, John Kerry, ex-secretário de Estado que trabalhou na elaboração do Acordo de Paris para o clima. Biden afirmou que ele terá uma “ampla estrutura” de trabalho na Casa Branca, e participará de reuniões do alto escalão, além de representar o país em fóruns internacionais.

— Não subestimo por um minuto as dificuldades em cumprir meus ousados compromissos na luta contra as mudanças climáticas. Mas, ao mesmo tempo, ninguém deve subestimar, nem por um minuto, minha determinação — afirmou o presidente eleito, declarando que a escolha de Kerry simboliza esse compromisso. — Pela primeira vez, haverá alguém no Conselho de Segurança Nacional que fará com que as mudanças climáticas estejam na pauta.

O ex-secretário de Estado no governo de Barack Obama fez sua primeira declaração como “czar do clima” defendendo o retorno imediato do governo ao Acordo de Paris, abandonado por Trump em 2017, mas dando um passo adiante: para ele, as atuais metas para a redução de emissões não são mais suficientes para enfrentar a crise climática.

— Sabemos que precisamos fazer mais. Daqui a um ano, em Glasgow, todas as nações precisam aumentar suas ambições — afirmou, se referindo à próxima conferência da ONU sobre mudanças climáticas, marcada para o fim de 2021 na Escócia. — Precisamos usar todas as ferramentas disponíveis para chegar a esse objetivo.

Antes dele, a indicada pra a direção da Inteligência Nacional, Avril Haines, primeira mulher a ocupar o cargo, pôs o clima entre as principais ameaças aos americanos.

— Será crucial ajudar esse governo, não apenas em temas como ataques cibernéticos ou terrorismo, mas também nos desafios que vão definir a próxima geração, como as mudanças no clima, a pandemia e a corrupção.

Batalha da aprovação

Apesar da recepção calorosa, Biden sabe que terá dificuldades para aprovar todos os nomes em um Senado que poderá continuar sendo controlado pelos republicanos, parte dos quais ainda defende a mentira de que Donald Trump ainda não perdeu a eleição.

As críticas também já começaram a povoar o noticiário político de Washington e as redes sociais — Marco Rubio, que integra a Comissão de Relações Exteriores do Senado, afirmou que os nomes “serão os responsáveis pelo declínio dos EUA”. John Cornyn afirmou simplesmente que vai negociar os indicados com a Casa Branca, “se Biden se tornar presidente”. Mitch McConnell, líder da atual maioria, promete ser duro nas aprovações, sem negar a possibilidade de agir para vetar alguns dos nomes.

O controle do Senado será definido em um segundo turno das eleições para as duas vagas do Senado pela Geórgia, em 5 de janeiro. Caso os democratas conquistem as duas cadeiras em disputa, ficarão empatados com os republicanos em número de senadores, sendo que a vice-presidente, Kamala Harris, terá o voto de desempate. Neste cenário, a pressão republicana poderia ser amenizada. Mas, caso os atuais governistas saiam vencedores de pelo menos um das corridas, Biden, que passou 36 anos no Senado, poderá ter problemas.

“Eles vão sentir que venceram, mesmo que Trump não esteja na Casa Branca. Vão sentir que há uma vantagem para que continuem a campanha”, afirmou a diretora da escola de graduação em Gerenciamento Político da Universidade George Washington, Lara Brown, à Reuters.

Na fala desta terça, Biden não mencionou as batalhas vindouras no Senado, mas não deixou de celebrar o início oficial da transição de poder, finalmente anunciado pela Administração de Serviços Gerais, órgão do governo federal, na segunda-feira. Com isso, o democrata passa ter acesso à verba destinada ao processo de mudança de governo e a documentos internos, como os briefings de segurança nacional. A decisão veio depois de muita pressão, incluindo de republicanos, e 16 dias depois de a vitória de Biden na eleição presidencial ser projetada. [Capa: Joshua Roberts/Reuters]

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