Muitos vírus continuam a se espalhar mesmo muito depois de os sintomas da pessoa infectada já terem desaparecido — tosse ou febre não são os únicos indicadores de que uma pessoa pode infectar outras com um vírus.
É o caso do do novo coronavírus, Sars-Cov-2, que pode continuar sendo contagioso mesmo depois dos sintomas terem sumido, apontam as pesquisas. Mas por quanto tempo?
E no caso de pessoas que nunca chegaram a ter sintomas ou nas quais os sintomas foram tão leves que passaram despercebidos?
Incubação
Desde que o Sars-Cov-2 foi detectado na China em dezembro passado, várias equipes científicas têm investigado o período de incubação do novo coronavírus — ou seja, quanto tempo o vírus fica no corpo.
Um desses estudos, conduzido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e publicado no jornal científico “Annals of Internal Medicine” em maio, estimou que o período médio de incubação para o novo coronavírus é de 5,1 dias.
Mas esse é o período médio — pode ser maior ou menor, dependendo do organismo da pessoa. A maioria (97,5%) dos infectados que desenvolvem sintomas o fazem antes de chegar aos 11,5 dias desde o momento em que uma pessoa foi exposta ao vírus pelo nariz ou pela boca, segundo o estudo.
“A capacidade de infectar outras pessoas, de transmitir esse vírus a outras pessoas, dura de 7 a 10 dias mais a partir do aparecimento dos sintomas”, explica o infectologista Vicente Soriano, professor da Universidade Internacional de La Rioja, na Espanha, e ex-conselheiro da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Ele acrescenta que, a partir desse momento, quando os sintomas já passaram ou desapareceram, a possibilidade de infectar outras pessoas também diminui.
O especialista ressalta, porém, que os testes de PCR usados para detectar o vírus podem continuar a dar positivo por vários dias ou semanas após a infecção pelo vírus. Ou seja, o vírus pode continuar no sistema da pessoa.
“O PCR, que detecta fragmentos do genoma do vírus, pode permanecer positivo após uma, duas ou até três semanas após a cura da doença”, ressalta Vicente Soriano.
“Mas aquele PCR positivo não reflete contagiosidade. O que o PCR detecta são fragmentos de vírus, ou ‘sequências de lixo’, que são fragmentos do genoma do vírus que estão no trato respiratório e que expulsamos por várias semanas depois que a doença foi curada.”
De fato, a sensibilidade dos testes diagnósticos é um problema conhecido desde que começaram a ser aplicados e é um exemplo de como as pesquisas sobre Covid-19 ainda estão em fase inicial.
Mas, como enfatiza o Soriano, “a contagiosidade do coronavírus é basicamente de 7 a 10 dias, um ou dois dias antes do início dos sintomas e enquanto os sintomas ocorrem”, acrescenta.
Ou seja, um pessoa com coronavírus deixa de ser contagiosa cerca de 10 dias após o início dos sintomas. Mas é preciso tomar cuidados antes de sair do isolamento: se certificar de que não tem mais nenhum sintoma e de que não se tem febre há pelo menos 24 horas sem o uso de remédios que a controlam.
Casos assintomáticos
Mas o que acontece quando uma pessoa está infectada com o coronavírus e não apresenta sintomas? Como saber que não vai infectar outras pessoas?
Embora diversos estudos tenham sido publicado sobre a porcentagem de pessoas contaminadas que são assintomáticas, a OMS afirma que não é possível cravar um número exato.
O posicionamento oficial da organização pontua que uma revisão sistemática recente da literatura científica mostra que os casos assintomáticos poderiam variar entre 6% e 41% dos casos de contaminação, ou seja, ainda há grande incerteza sobre qual a proporção de casos assintomáticos entre os contaminados.
A OMS explica que “a maioria dos estudos incluídos nessas revisão tinham importantes limitações quanto ao relato dos sintomas, ou não definiram propriamente quais sintomas estavam sendo investigados”.
Além disso, explica a entidade, muitas pessoas que acreditam ser assintomáticas na verdade tiveram alguns sintomas, mas bem leves, que acabaram passando despercebidos.
Há também o caso de pessoas que foram diagnosticadas com Covid-19, ainda não têm sintomas, mas vão desenvolvê-los no futuro — são as pessoas pré-sintomáticas.
De qualquer forma, os pesquisadores descobriram que as pessoas sem sintomas e com Covid carregam uma alta quantidade de vírus no corpo — a mesma quantidade de vírus que pacientes com sintomas. E ambos permanecem com essa carga viral pelo mesmo tempo.
Por isso, os especialistas ressaltam a importância do uso de máscaras e da observação do distanciamento social. Essas duas medidas podem ajudar a reduzir o risco de que uma pessoa com Covid-19 e sem sintomas infecte outras pessoas.
“Basicamente, pessoas sem sintomas podem transmitir vírus a outras pessoas por uma semana, assim como aquelas com sintomas, mas a menos que a pessoa tenha um teste de antígeno (para detectar que tem a doença) ou um PCR, essa pessoa passa despercebida “, diz Soriano.
“Daí o interesse em fazer rastreamentos para identificar pessoas que possam ter estado em área de contágio e façam o teste de antígeno ou PCR a partir de 48 horas após o evento.”
Dessa forma, afirma o especialista, os assintomáticos e pré-sintomáticos podem ser identificados e mantidos isolados por 10 dias para evitar outras infecções.
Pacientes sérios
Essas recomendações, no entanto, não se aplicam a pessoas que apresentaram sintomas mais graves de covid-19 e não foram hospitalizadas.
Conforme apontado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, em muitos casos, quando uma pessoa estava gravemente doente e não foi hospitalizada, ela terá que ficar em casa até 20 dias após o aparecimento inicial dos sintomas.
Além disso, pessoas com doenças do sistema imunológico ou sistema imunológico enfraquecido que tiveram a doença precisarão ficar em casa por mais tempo e consultar o médico para saber quando podem parar de se isolar.