Com quatro parcerias anunciadas nos últimos dias, a Disney+ impulsiona sua chegada ao Brasil, avaliam analistas.
Nos últimos dias, a empresa confirmou parcerias com a Vivo, Bradesco, Globoplay e Mercado Livre para pacotes de assinatura com desconto.
Nos quatro casos, clientes de serviços dessas empresas podem assinar a nova plataforma de streaming por preços mais em conta.
O Disney+ estreia no país no dia 17 de novembro e custará, no geral, R$ 27,90 mensais. O pacote anual na pré-venda, já disponível, sai pelo valor de R$ 237,90, ou R$ 19,82 por mês.
Mas na venda casada com a Globoplay, por exemplo, assinantes ganham desconto de até 25%. Já clientes do Mercado Livre poderão ter até seis meses grátis de assinatura, a depender do programa de pontos do site.
A título de comparação, a Netflix custa R$ 21,90; a Globoplay, R$ 22,90; e a Amazon, R$ 9,90.
“A parceria também permitirá ao consumidor final ter acesso a mais conteúdo que lhe interessa através de um serviço que ele já é cliente, resultando numa economia que faça sentido no final do mês”, diz Carolina Vargas, fundadora do grupo Stenna, que faz distribuição, intermediação e agenciamento de conteúdo.
Para ela, a estratégia faz sentido no Brasil, levando em consideração que o poder aquisitivo do consumidor nem sempre acompanha a assinatura de todos os serviços que deseja.
“Para o Disney+, é uma forma de atingir o público de grandes empresas já consolidadas e conseguir mais uma fatia do mercado, mesmo que isso signifique fechar negócio com empresas do mesmo segmento”, diz.
Vargas acredita que a estratégia pode avançar, por exemplo, para pequenos provedores de internet que atendem regiões do Brasil em que grandes operadoras não chegam.
“Uma vez que esses serviços são agregados, abrem a possibilidade de entrega de conteúdo de qualidade de maneira mais pulverizada, ficando mais atrativo aos olhos do consumidor.”
Presidente do Comitê de Vídeo Digital do IAB Brasil e Diretor Geral para LATAM na Magnite, Rafael Pallarés acredita que a tendência é a de que o brasileiro assine cada vez mais serviços. Nos Estados Unidos, por exemplo, a média hoje é de duas a três plataformas de vídeo sob demanda por consumidor.
“O mercado brasileiro de streaming está amadurecendo e ficando bem servido. Temos a Globoplay com conteúdo local, a Amazon Prime e a Netflix, que têm apelo para adultos, e o Disney+, que deve atrair mais crianças”, diz ele. “A tendência é de que as pessoas assinem mais de um serviço, e complementem com outros baseados em publicidade.”
Ele cita como exemplo de plataformas complementares a PlutoTV, da Viacom, e a TV+, da Samsung, que estarão disponíveis no país até o final do ano.
Já para Rodrigo Arnaut, da Esconderijo Criativo, a estratégia das duas marcas pode trazer confusão para o público. “Para a Disney, essa é uma campanha comercial. Mas a Globo está está levando assinantes para outra plataforma e eles podem decidir ficar por lá.”
Já era esperado que a chegada do Disney+ alterasse a distribuição no mercado brasileiros, em primeiro lugar, pelo potencial de seu catálogo, bastante conhecido do público. Além disso, a empresa desfalca os concorrentes ao tirar os produtos da marca dos demais serviços que antes os ofereciam, o que inclui também filmes da Marvel e Pixar, entre outros.
A plataforma chega ainda com estreias esperadas, como é o caso do filme “Mulan”, ainda inédito no Brasil. O live action também fez sua estreia diretamente no streaming nos Estados Unidos.
“O Disney+ vem com um diferencial de portfólio e os títulos fazem muita diferença para o mercado de streaming”, afirma Tayara Simões, diretora de marketing da NZN Intelligence. “Mas as parcerias com empresas já relevantes trazem potencial para além dos títulos, pois trazem facilidade para o consumidor, que segue o caminho da comodidade. O diferencial que cada plataforma consegue agregar é o que faz com que as pessoas busquem o serviço ou optem por mais de um.”
Ela ressalta como exemplo do comportamento de consumidor o fato de o Globoplay ter recentemente superado os números da Netflix no Brasil.
“O assinante entendeu que era mais cômodo ter na mesma plataforma a novela e os títulos que quer ver sob demanda.”
O Disney+ foi lançado nos EUA há exatamente há um ano, em novembro de 2019 e, desde então, chegou a outros 28 países.
O serviço soma hoje 60 milhões de assinantes mundialmente, número apenas menor que as concorrentes Netflix (190 milhões) e Amazon Prime (150 milhões).
À Folha, a Disney não quis comentar sobre eventuais novos acordos. Também disse não divulgar dados sobre faturamento e expectativa de assinantes.
Segundo um estudo da consultoria Strategy Analytics, o total de assinantes de plataformas de streaming de vídeos no mundo deve atingir 949 milhões até o fim de 2020, número alavancado pela pandemia e que deve também elevar o faturamento do mercado. No passado, o resultado ficou em US$ 24 bilhões (R$ 135 bilhões).
Mas embora as expectativas sejam grandes, Vargas ressalta os limites da realidade econômica brasileira.
“Uma vez que falamos em expectativa de penetração e faturamento, há de se pensar primeiro se essa solução se sustentará a longo prazo. Afinal de contas, o cancelamento de assinaturas é uma realidade tanto para o mercado de TV por assinatura quanto para o streaming. Sem contar que o mercado clandestino e incontrolável da pirataria ainda é uma grande questão para não sustentação de muitos negócios da indústria do entretenimento”, afirma ela.