Economia voltará a encolher com segunda onda da pandemia, diz ex-presidente do BC

O economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, afirmou nesta terça-feira (17) que a recuperação econômica mundial deverá ser em W, em razão da queda da atividade econômica que a segunda onda da pandemia tem ocasionado em países da Europa. Ele disse acreditar que o Brasil provavelmente enfrentará o mesmo cenário.

– Existem sinais extremamente preocupantes [em relação à segunda onda]. A recuperação econômica em V corre um enorme risco de virar um W. Na Europa, isso já está claro. Alemanha, Bélgica, Espanha e França são casos de economias que encolhem agora. Estados Unidos muito provavelmente irão para o W também. No Brasil, há aumento no número de casos em capitais que acendem uma luz vermelha muito grande no painel – afirmou.

O ex-presidente do BC criticou a concessão do auxílio emergencial de maneira que considerou ampla demais. Para Pastore, é preciso que o governo identifique, com precisão e rapidez, as parcelas das populações mais vulneráveis e que necessitam de ajuda financeira.

– O governo não teve competência para poder examinar e identificar o número de pessoas que precisariam de fato da ajuda [de R$ 600 mensais do auxílio emergencial]. Foram 66 milhões de pessoas [beneficiados], mais do que a população da Itália. Demos uma ajuda emergencial para todos os que precisavam, mas demos também para muitos que não precisavam também. Se existir uma segunda onda, o desequilíbrio fiscal que virá complica ainda mais a situação – disse ele.

Pastore diz que a retomada da atividade econômica ocorre de maneira mais rápida do que a esperada no início da pandemia, mas ressaltou que ela é desigual entre os setores. Enquanto a indústria já opera em níveis similares aos anteriores à pandemia, os serviços (que representam 65% do PIB brasileiro) têm desempenho mais lento.

O economista afirma que é provável que o PIB do terceiro trimestre tenha crescido 8% e que o do quarto repita o desempenho, em linha com as projeções de uma retração entre 4,5% e 5% para o PIB em 2020.

O crescimento de 3,5% previsto pelo mercado para 2021, no entanto, significa que o nível de atividade econômica ficará estagnado no próximo ano, segundo Pastore.

– Uma alta de 3,5% significa que a recuperação econômica foi rápida, mas se restringirá estritamente ao carregamento estatístico deste ano. Temos um desafio grande no Brasil que é retomar o crescimento econômico – afirmou durante evento da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

Pastore defendeu ainda o uso de instrumentos de política monetária para a retomada do crescimento no médio prazo, bem como a manutenção da taxa básica de juros baixa.

– Para que a gente possa utilizar estímulos monetários, vamos precisar manter as taxas de juros baixas para que a economia volte a crescer. Para isso, o Brasil precisa reforçar a sua âncora fiscal, o que não vai ser fácil – afirmou.

O economista ressaltou que a estratégia dos Estados Unidos para reativar a economia americana deverá passar por estímulos fiscais, o que deve levar a um dólar mais desvalorizado globalmente. [Capa: Antonio Scorza/Agência O Globo]

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