Líderes mundiais parabenizaram neste sábado o democrata Joe Biden pela vitória na eleição para a Presidência dos Estados Unidos, mas nem o presidente Jair Bolsonaro nem porta-vozes do seu governo se pronunciaram por enquanto. Os europeus, que viveram atritos com o presidente Donald Trump ao longo dos seus quatro anos na Casa Branca, foram os primeiros a felicitá-lo, enquanto os líderes da China, Xi Jinping, da Rússia, Vladimir Putin, e de Israel, Benjamin Netanyahu, ainda não falaram, ao menos publicamente.
Biden teve sua vitória projetada na tarde deste sábado por todos os principais meios de comunicação dos EUA, cinco dias após o dia final de votação para definir o futuro ocupante da Casa Branca pelos próximos quatro anos. Ele assegurou a vitória com o anúncio dos resultados no estado da Pensilvânia, somando 273 votos no Colégio Eleitoral, três a mais do que mínimo de 270 necessário para garantir a Presidência.
Um dos primeiros a comentar a vitória, o premier do Canadá, Justin Trudeau, lembrou a amizade entre os dois países e felicitou o recém-eleito e sua colega de chapa, Kamala Harris: “Nossos dois países são amigos íntimos, parceiros e aliados. Compartilhamos um relacionamento único no cenário mundial. Estou realmente ansioso para trabalharmos juntos”, escreveu no Twitter.
‘Amizade transatlântica’
Os principais líderes dos países da União Europeia se manifestaram. O presidente francês, Emmanuel Macron, que teve divergências com Trump em relação a temas como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a pandemia do coronavírus, ao felicitar Biden e Harris, afirmou que há “muito a fazer para superar os desafios de hoje”. Vamos trabalhar juntos!”, completou.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que já fez críticas veladas ao unilateralismo do republicano, disse no Twitter estar “ansiosa por uma futura cooperação com o presidente Biden”. “Nossa amizade transatlântica é insubstituível se quisermos enfrentar os grandes desafios de nosso tempo”, escreveu.
O premier britânico, o conservador Boris Johnson — que tinha um bom relacionamento com Trump, mas tensas com Biden e Barack Obama, quando estes estavam na Casa Branca —, parabenizou Biden e, principalmente, Harris pelo que chamou de sua “conquista histórica”. A vice eleita é a primeira mulher a ocupar o cargo, além de ser também a primeira pessoa negra e a primeira pessoa asiática no cargo. Boris citou ainda, no Twitter, que, entre as prioridades para a cooperação entre os dois países, estão as mudanças climáticas, o comércio e a segurança.
O premier espanhol, Pedro Sánchez, por sua vez, desejou sorte aos futuros ocupantes da Casa Branca e disse que está pronto para cooperar com os Estado Unidos para enfrentar os grandes desafios globais. Na mesma linha, o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, afirmou que o democrata “tem sido um verdadeiro amigo” da Irlanda: a família do presidente eleito tem origens no país. “Joe Biden tem sido um verdadeiro amigo desta nação ao longo de sua vida e estou ansioso para trabalhar com ele nos próximos anos. Também estou ansioso para recebê-lo de volta em casa quando as circunstâncias permitirem!”
Já o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ao felicitar Biden pela eleição, fez uma crítica velada a Trump ao afirmar estar “ansioso para trabalhar” com o democrata, “um defensor ferrenho da Aliança Atlântica”. Em seu governo, o republicano chegou a se referir à Aliança Atlântica como obsoleta, enquanto pressionava os outros membros a aumentarem seus gastos em defesa, para aliviar a contribuição dos EUA.
Voz dissonante, o primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa, alegou no Twitter que o processo eleitoral não acabou, já que Trump havia entrado com pedidos na Justiça. Dias atrás, Jansa havia felicitado Trump pela “reeleição”.
Já o premier indiano, Narendra Modi, felicitou especialmente Kamala Harris, filha de pai jamaicano e mãe indiana: “Seu êxito é desbravador e fonte de um imenso orgulho para todos os indiano-americanos.”
‘Expressão da vontade popular’
Na América Latina, as manifestações foram de felicitações a Biden a alfinetadas em Trump. O presidente argentino, Alberto Fernández, destacou o comparecimento recorde nas eleições, “uma clara expressão da vontade popular”, além de o fato de o país ter uma futura vice-presidente mulher.
O presidente colombiano, Iván Duque, próximo a Trump em questões como a crise na Venezuela, desejou sucesso ao novo governo e afirmou que os dois países irão trabalhar juntos para fortalecer uma “agenda em comum em comércio, meio ambiente, segurança e na luta contra o crime transnacional”.
No Uruguai, Luis Lacalle Pou também falou sobre cooperação, assim como o chileno Sebastian Piñera, que afirmou que o Chile e os Estados Unidos “compartilham valores como a liberdade, a defesa dos direitos humanos e desafios como a paz e a proteção do meio ambiente”. O presidente do Equador, Lenín Moreno, seguiu a mesma línha. “Que as relações entre nossos países permaneçam firmes e prósperas em seu período, sempre em benefício de objetivos comuns. Sucesso em suas funções”, escreveu.
O venezuelano Nicolás Maduro, presidente de fato do país, parabenizou o povo americano pela escolha e disse que a “Venezuela sempre estará disposta ao diálogo e ao entendimento com o povo e o governo dos Estados Unidos”. Juan Guaidó, seu principal adversário e reconhecido pelos EUA como presidente, também saudou Biden. “Juntos, trabalharemos para garantir a restauração da democracia, da liberdade e dos direitos humanos para o povo da Venezuela”, escreveu.
Por sua vez, o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, muito criticado durante seu governo por Donald Trump, comentou no Twitter: “A derrota eleitoral de Trump é a derrota das políticas racistas e fascistas. Suas práticas intervencionistas foram derrotadas e, também, seus ataques desumanos contra a Mãe Terra”, escreveu Morales.
Já o governo de esquerda de Andrés Manuel López Obrador, no México, informou que não irá se manifestar enquanto os processos judiciais não forem encerrados.
Governo brasileiro não comenta
No Brasil, líderes políticos se manifestaram nas redes sociais parabenizando a vitória de Biden. Pelo Twitter, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que a vitória do democrata “restaura os valores da democracia verdadeiramente liberal, que preza pelos direitos humanos, individuais e das minorias”.
O governador de São Paulo, João Doria, seguiu a mesma linha e disse eu que a vitória de Biden seria boa para o Brasil e para os Estados Unidos. “Feliz com a vitória do candidato eleito presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Ele é um defensor da democracia e das relações multilaterais. Bom para os EUA, bom para o Brasil”, disse Doria. O governador também enviou uma carta a Biden parabenizando o democrata.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, também parabenizou Biden pela vitória nas eleições. Barroso acompanhou as eleições americanas como membro de uma delegação de observadores internacionais. “Democracia significa eleições limpas, alternância no poder e respeito aos resultados. E, também, civilidade. Cumprimento Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, e a vice Kamala Harris, primeira mulher eleita para a função no país”, disse Barroso em uma postagem no Twitter.
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro também parabenizou o democrata por meio das suas redes sociais. “A democracia norte-americana continua forte. Parabéns ao presidente eleito, Joe Biden. Brasil e US têm muito em comum e continuarão tendo”, disse Moro.
Ex-presidentes brasileiros também falaram sobre a vitória de Biden. Michel Temer parabenizou o democrata e recordou seu encontro com o americano quando assumiu a Presidência do Brasil. Lula, por sua vez, além de parabenizar Biden, também fez críticas ao governo de Trump.
“O mundo respira aliviado com a vitória de Biden. Neste momento tão importante em que o povo norte-americano se manifestou contra o trumpismo e tudo o que ele representa, de rejeição de valores humanos, ódio, abandono da vida e agressões contra nossa querida América Latina”, escreveu Lula no Twitter. “Saúdo a vitória de Biden e manifesto a esperança de que ele não só internamente, mas também em suas relações com o mundo e com a América Latina, se paute pelos valores humanistas que caracterizaram a sua campanha.”
Já o presidente Jair Bolsonaro e o Itamaraty mantêm um silêncio desde que a vitória de Biden começou a ser anunciada pelas principais redes de notícias dos Estados Unidos, no início da tarde deste sábado. A estratégia de manter silêncio já era esperada dentro do governo, uma vez que Bolsonaro vinha manifestando seu apoio à reeleição de Trump. [Capa: Chris Wattie/Reuters]