O grupo Mulheres do Brasil, liderado pela empresária Luiza Trajano, está atuando para dar mais visibilidade a candidaturas femininas que se comprometam com a defesa da democracia, o combate à discriminação, a defesa da saúde e do ensino públicos de qualidade e outras premissas da organização. O compromisso é estabelecido através de uma carta elaborada pela entidade e assinada pelas postulantes aos cargos de prefeita e vereadora. Até o momento, 194 candidatas de 27 partidos já assinaram o documento e outras 344 estão em processo de adesão.
O objetivo do grupo, que se define como suprapartidário, é ampliar a participação das mulheres na política, incentivando uma representatividade feminina mais qualificada, independentemente do partido ou da corrente ideológica da candidata. A ideia é que mulheres ocupem cargos políticos, mas que o façam comprometidas com uma agenda básica de defesa da democracia, explica Trajano.
— Não adianta ter mulher no poder se ela não defender esses compromissos básicos — disse a presidente do conselho de administração do Magazine Luiza em conversa com jornalistas nesta terça-feira (10).
lideranças do Mulheres do Brasil, que hoje já reúne mais de 70 mil voluntárias, e correspondem as pautas inegociáveis para o grupo. A contrapartida do movimento é dar visibilidade às candidatas que aderirem à carta, uma vez que o grupo tem milhares de participantes com forte presença nas redes sociais.
A candidata que assinar o documento se compromete a atuar na defesa dos direitos humanos; da democracia plena e da liberdade de imprensa; na luta contra qualquer tipo de discriminação; no apoio a ações afirmativas transitórias que visem à reparação de desigualdades históricas; na defesa da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres; no combate à violência contra a mulher; na luta pela educação pública e saúde pública de qualidade; e na busca pela sustentabilidade ambiental.
Atualmente é possível conferir quais candidatas já assinaram a carta de compromisso no site da organização. A consulta pode ser feita por estado, cidade ou partido. O grupo espera aumentar o número de adesões até o primeiro turno das eleições municipais (15), no próximo domingo.
A ideia é que, depois das eleições, o grupo possa monitorar as candidatas eleitas ao redor do país para garantir que os compromissos estão sendo cumpridos. O monitoramento será feito a partir dos 70 núcleos regionais do Mulheres do Brasil. Apesar de não ter um intuito fiscalizatório, caso alguma signatária atue contra os princípios determinados, será excluída da plataforma.
A iniciativa, explica Trajano, é um laboratório para os próximos passos da entidade, que pretende ter mais voz política nas eleições de 2022. Criado há sete anos por empresárias e executivas, o Mulheres do Brasil hoje reúne também lideranças comunitárias e está presente em 22 estados. O grupo se organiza através de comitês temáticos e núcleos regionais.
O Mulheres do Brasil se define como feminista e levanta bandeiras da igualdade de gênero e do fim da violência contra mulher, mas também defende uma pauta política e econômica mais ampla. O movimento defende, por exemplo, a criação de cotas para mulheres e pessoas negras, como forma de reparação de desigualdades históricas. A defesa do SUS e do ensino público também estão entre as principais metas globais da organização.
As premissas e metas são estabelecidas por consenso, através de assembleias. Assuntos mais controversos, como aborto, ainda não estão na agenda da entidade, pois ainda não foram discutidas pelas integrantes, afirma a empresária, dizendo que a organização preferiu se dedicar inicialmente a temas mais abrangentes em que é possível estabelecer concordâncias.
Uma das lideranças femininas mais atuantes no Brasil, Trajano tem bom trânsito em Brasília, especialmente no Congresso, mas por ora não pensa em candidatar a um cargo público.
— Essa é a pergunta que mais ouço, principalmente nas mais de 400 lives que fiz para pequenos e médios empreendedores [na pandemia]. Nunca me filiei a partido. Não dá para falar o que vai acontecer na minha vida, mas nunca me passou pela cabeça. Mas eu sou uma política. O que eu faço é política. Mas uma política apartidária que acredita na força de um grupo — diz. [Capa: Agência O Globo]