Polícia prende fiscal de supermercado Carrefour que filmou agressão a João Alberto

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu esta terça-feira (24) a agente de fiscalização Adriana Alves Dutra, que presenciou a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, na última quinta-feira, no estacionamento do supermercado Carrefour na Zona Norte de Porto Alegre. Ela se apresentou à polícia e ficará detida temporariamente por 30 dias.

Adriana filmou os vigilantes Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva espancarem João Alberto até a morte. Nas imagens obtidas pelos investigadores, também aparece com um rádio na mão e ameaçando “queimar na loja” um motoboy, ao ver que ele gravava a cena.

Para a polícia, Adriana é suspeita de envolvimento da morte de João Alberto e da prática de homicídio doloso triplamente qualificado, assim como os dois seguranças que foram presos em flagrante na última sexta-feira.

– Entendemos que ela (Adriana) tem uma participação decisiva nas agressões sofridas por João Alberto, uma vez que se identificou que tinha poder de mando sobre os dois seguranças  e teria o poder de fazer cessar as agressões e não o fez – disse a diretora do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrez.

O celular de Adriana foi apreendido pela polícia. Os investigadores pretendem verificar se há no aparelho indícios sobre a motivação das agressões contra João Alberto.

A polícia apura se caso ocorreu em razão de desavenças anteriores entre a vítima e os seguranças e/ou se o crime ocorreu por racismo. Cerca de 20 testemunhas já foram ouvidas.

Segundo a delegada Roberta Bertoldo, que também atua na investigação, Adriana disse que tem sido alvo de ameaças e alegou que João Alberto já tinha tido outros incidentes no supermercado.

Adriana, a mulher que aparece de blusa branca nas imagens gravadas, disse à polícia que estava no setor de bazar quando foi chamada para atender uma situação de atrito entre um cliente (João Alberto) e uma funcionária — que é fiscal de caixa e aparece vestida de preto nas imagens.

No depoimento, Adriana diz que um cliente, que ela soube ser policial militar, já tentava apaziguar a situação. Mas, na verdade, essa pessoa que Adriana chamou de cliente era o policial militar temporário Geovane Gaspar da Silva, segurança da Vector, contratada pelo Carrefour.

Disse à polícia, também, que João Alberto empurrou uma senhora dentro da loja. O circuito de imagens, no entanto, mostra apenas o cliente abordando, mas sem encostar, numa vigia de preto próximo a um dos caixas, e que se distancia conforma ele se aproxima.

Outro trecho evidencia mais incoerências no testemunho de Adriana:

“Que a depoente fez a solicitação para chamar a Brigada, pelo rádio, e ligou para o Samu, quando viu sangue, e que a vítima havia desmaiado. Que a vítima proferia xingamentos durante a contenção, mas não ouviu a mesma pedir ajuda. Que a depoente pediu várias vezes aos rapazes que largassem a vítima”.

Adriana também afirmou que não ouviu a vítima pedir ajuda, embora as gravações mostrem que ele gritou diversas vezes, inclusive pedindo ajuda à mulher, Milena Borges Alves, que foi empurrada por um dos vigias ao tentar socorrer o marido.

O Samu só foi acionado após os fiscais constatarem que João Alberto morreu asfixiado. O atendimento, segundo testemunhas, teria demorado quase uma hora até chegar ao Carrefour.

Magno e Giovane foram presos em flagrante e cumprem prisão preventiva. Segundo a delegada Roberta Bertoldo, além dos vigias, cinco pessoas eram investigadas por omissão de socorro. Seus nomes, porém, não foram revelados.

Procurada, a defesa de Adriana não quis comentar o caso. [Capa: Reprodução]

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