Por que o dólar cai quando Biden avança nas pesquisas dos EUA? Entenda

Desde terça-feira, as eleições americanas seguem ditando o comportamento do mercado financeiro, que anteriormente já apoiou os republicanos, mas agora reage de forma positiva ao avanço democrata. Ainda não há vencedor definido, mas a apuração prévia demonstra que Joe Biden tem mais chances de levar a Casa Branca.

Com isso, o dólar tem registrado forte queda, enquanto as Bolsas têm subido. A justificativa para isso, dizem os especialistas, está na projeção de que uma gestão Biden terá menos atritos e mais diplomacia.

Somente nesta semana, a moeda americana caiu 6,01% contra o real, enquanto a Bolsa de São Paulo, em igual período, acumula ganhos de 7,23%. A tendência, caso a vitória de Biden seja confirmada, é de dólar mais comportado e mercado acionário com mais ganhos, avaliam os analistas.

Diferentemente da postura do atual presidente, Donald Trump, os investidores acreditam que o democrata terá uma agenda mais voltada para o multilateralismo com seus parceiros, ampliação do debate com a comunidade internacional e até mesmo um relacionamento menos belicoso com a China.

Confira, abaixo, quatro pontos que explicam por que o dólar cai e a Bolsa sobe à medida que Biden avança nas pesquisas:

Equilíbrio no Senado

Enquanto Biden aparece à frente de Trump na corrida pela Casa Branca e a onda azul (em referência à cor do partido democrata) na Câmara parece que será mantida, a força no Senado, ao que os dados preliminares indicam, ainda está com os republicanos.

Os especialistas explicam que, caso os democratas levassem as três Casas (Branca, Câmara e Senado), ficaria mais difícil barrar possíveis taxações contra grandes conglomerados e outras políticas de aumento de impostos, o que desagrada o mercado. Mas, com o Senado republicano, isso seria mais complicado.

— O mercado esperava uma onda azul, com democratas ganhando Casa Branca, Câmara e Senado. Entretanto, a apuração mostra que o Senado tende a ficar na mão dos republicanos. Se por um lado isso dificulta uma aprovação maciça de um pacote de estímulos, também tende a evitar uma onda de aumento de impostos, numa eventual vitória de Biden. Isso deixa os investidores menos receosos — sublinha Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos.

Governo mais previsível

O principal ponto apontado por gestores é de que, caso chegue à Casa Branca, Biden deverá ser um presidente que seguirá uma linha mais institucional, mantendo suas comunicações e posicionamentos por meio de canais oficiais.

No governo Trump, o mercado foi pego de surpresa em variados momentos com as postagens do presidente em sua rede social anunciando pacotes de tarifas contra países, saída de acordos supranacionais ou outras medidas de impacto global.

Mauricio Pedrosa, gestor da Áfira, sublinha que, no atual momento, o mundo precisa e pede por um líder americano mais comedido em seus atos:

— Se eleito, o mercado aposta que a gestão de Biden será previsível, e isso é positivo. O mercado tende a ficar menos avesso ao risco quando não há uma série de possíveis riscos no radar. A expectativa é que o democrata tenha um melhor relacionamento com seus aliados e melhor atuação no comércio internacional, outro ponto positivo.

Relação com a China

Outro ponto que movimentou para baixo o mercado ao longo dos últimos dois anos foi a relação belicosa entre as duas maiores economias do mundo, China e Estados Unidos. Durante o período, uma série de barreiras comerciais e sobretaxas foram impostas por ambos os lados, causando muitos ruídos em todos os mercados.

Em uma eventual gestão Biden, o mercado segue esperando que continue havendo divergências entre Washington e Pequim. Porém, acredita que os atritos terão um tom mais diplomático e menos emocional.

Caso os atritos com a China sejam mitigados, a perspectiva é de que o fluxo internacional de comércio tende a ficar menos volátil, podendo se recuperar em 2021, também com a retomada das economias depois da pior fase da pandemia da Covid-19.

Multilateralismo

Durante a gestão de Donald Trump, os acordos multilaterais foram perdendo espaço para negociações bilaterais. Estas medidas causaram impactos negativos no fluxo internacional de comércio e também propiciaram um aumento de tarifas.

Na avaliação do mercado, Biden seguirá uma postura que privilegiará relações maiores, com blocos e organizações, do que acordos entre Estados Unidos e um país apenas por vez.

— Para moedas de países emergentes, o protagonismo do multilateralismo é bom. Nos últimos anos, a política americana focou em relações bilaterais, o que criou muitas tarifas e levou muitas incertezas para o comércio internacional — sublinha Guilherme Motta, gestor de renda variável da GAP Asset. [Capa: Mohamed Abd El Ghany/Reuters]

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