O norte-americano Joseph Robinette Biden Jr., de 77 anos, está na vida pública há mais de meio século, cumpriu seis mandatos como senador e foi vice-presidente do país por oito anos. Encarna, portanto, uma resposta pragmática à onda antipolítica que ajudou Donald Trump a conquistar a presidência dos Estados Unidos quatro anos atrás.
Apesar da polarização profunda que divide o país no momento, não há na trajetória do candidato democrata fatos que permitam identificá-lo com a esquerda, como tentou insistentemente o adversário Trump.
“Biden é um político tradicional, desses tão criticados pelos republicanos, do Tea Party. Um representante da ala conservadora do Partido Democrata, bastante tradicional nos costumes e liberal na economia. Nada esquerdista”, avalia o cientista político Julián Durazo-Herrmann, professor na Universidade do Quebéc em Montreal (UQAM), no Canadá.
Biden, por exemplo, apoiou a guerra do Iraque iniciada pelo republicano George Bush em 2002. Ele também participou da elaboração do Patriotic Act, que permitiu a formação de um enorme aparato de vigilância dos cidadãos norte-americanos. De acordo com o pesquisador, deve-se esperar do democrata, se ele for eleito, uma atuação no sentido de restaurar o poder do Estado internamente e o do país no mundo.
“Ele foi vice de um presidente que era bom de fala [Barack Obama], mas que não modificou a dinâmica política do país para um caminho mais progressista”, afirma o professor Durazo-Herrmann, que também é presidente a Associação Canadense de Estudos Latino-Americanos e do Caribe (Acelac).
Vida e carreira
Biden nasceu em Scranton, na Pensilvânia, em 20 de novembro de 1942, e se mudou ainda criança com a família para o estado vizinho de Delaware, em 1953.
Estudou história e ciência política na Universidade de Delaware e direito na Universidade de Syracuse.
Entrou para a política no início da década de 1970 como conselheiro em seu condado e, em 1972, tornou-se um dos senadores mais jovens da história dos EUA. Paradoxalmente, se eleito, será o presidente mais velho a assumir o país.
No Senado, cumpriu seis mandatos e trabalhou muito com relações exteriores. Por oito anos, entre 2009 e 2017, foi vice-presidente dos EUA.
Biden também se concentrou nas relações exteriores durante o período Obama, mais especificamente nos conflitos em que o país estava envolvido, como no Afeganistão e no Iraque.
O então vice-presidente teve proeminência na relação com a América Latina e pôde retomar algumas políticas de Obama, como a aproximação com Cuba, que foi cortada no período Trump.
Para a América Latina, aliás, Biden já sinalizou que pretende mudar outras políticas trumpistas – a maioria apoiadas pelo governo de Jair Bolsonaro.
Sobre a Venezuela, por exemplo, Biden já disse que os Estados Unidos não devem entrar no jogo de mudar regimes de países estrangeiros. A pressão americana deve ser, segundo ele, para que Nicolás Maduro permita a realização de eleições livres no país.
Na agenda ambiental, o democrata tem o ambicioso plano de preparar os Estados Unidos para que até 2050 seja utilizada, apenas, energia limpa. Ele também prevê medidas para a Amazônia e não esconde a ameaça de punir o Brasil economicamente, barrando comércios, caso o desmatamento e as queimadas não sejam reduzidos.
Na reta final da campanha, Biden reafirmou sua vontade de restaurar um clima de institucionalidade mais estável. “Quero recuperar a decência e a honra da Casa Branca. O país está sofrendo com o preconceito”, disse, no meio da rua em sua cidade natal nessa terça (3/11).
“Eu quero unificar este país e o país está pronto para essa unificação”, prosseguiu o ex-vice-presidente dos EUA.
Mortes precoces
A vida pessoal de Biden é marcada por algumas tragédias. Em 1972, sua primeira esposa, Nelia Hunter, morreu em um acidente de carro que também vitimou uma das filhas do casal, Naomi, ainda bebê.
Os filhos Beau e Robert Hunter também estavam no carro, mas sobreviveram. Cinco anos mais tarde, ele se casou com a atual mulher, Jill Biden, com quem teve uma filha, Ahsley.
A professora de 69 anos disse que não pretende deixar de trabalhar se o marido for eleito, rompendo uma longa tradição de primeiras-damas no país. Apesar disso, ela participou ativamente da campanha e buscou sempre pedir aos adversários republicanos por um ambiente de mais diálogo no país.
Na corrida presidencial, ela teve de lidar com uma acusação de assédio sexual contra o marido. Biden negou veementemente ter estuprado uma funcionária do Senado em 1993. O democrata também foi acusado de ter uma relação “muito física” com outras mulheres. Sobre isso, Jill respondeu que viu inocência no comportamento do marido e que ele aprendeu com as declarações das ex-funcionárias.
Outra tragédia
Em 2015, Biden perdeu o filho Beau, ex-procurador estadual em Delaware e veterano de guerra, vítima de um câncer cerebral.
O outro filho, Robert Hunter Biden, teve acusações de negócios irregulares na Ucrânia, que foram muito exploradas pelo adversário Donald Trump ao longo da campanha.