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Trump chama votos contrários de ilegais e diz que está sendo trapaceado

Por O GLOBO

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um discurso repleto de alegações infundadas, em que chama de ilegais os votos contra si e denuncia, sem apresentar nenhuma prova, uma fraude eleitoral.

— Se você contar os votos legais, venci facilmente. Se contar os votos ilegais, eles me roubaram — afirmou.

O presidente pintou os resultados das eleições até o momento como parte de uma ampla conspiração entre autoridades eleitorais de cidades e estados, a mídia e os institutos de pesquisa.

Trump usou como argumento o fato de ter saído na frente na apuração em vários estados, como os ainda abertos Geórgia e Pensilvânia, e de ter visto sua vantagem cair conforme os votos enviados pelo correio eram apurados. Ele voltou a pedir para a contagem ser interrompida.

— Estávamos ganhando muito em todos os locais-chave, na verdade, e então nossos números começaram a miraculosamente encolher — afirmou. — E ainda estamos muito à frente, mas não tanto porque eles estão conseguindo votos. De repente, temos alguma correspondência nas cédulas. É incrível como as correspondências nas cédulas são tão unilaterais também.

O fenômeno de crescimento democrata já era esperado, porque, devido à politização da pandemia, democratas tiveram tendência muito maior a votar por via postal.

A pandemia acentuou um fenômeno conhecido como “miragem vermelha”, também verificado em outras eleições, no qual republicanos saem na frente, mas depois perdem a dianteira, conforme votos por carta, mais populares em áreas urbanas e democratas, e que demandam mais tempo para serem aferidos, são contados.

O pronunciamento do presidente aconteceu duas horas depois de seu adversário Joe Biden ir à TV manifestar confiança em sua vitória e pedir calma a seus eleitores.

Enquanto o discurso de Trump acontecia, foi anunciado que a sua vantagem na Geórgia caiu para apenas 4 mil votos. Trump parece prestes a ser derrotado também em Pensilvânia, Nevada e Arizona.

Várias redes de notícias de TV, incluindo ABC, NBC, CBS e MSNBC, pararam a transmissão dos comentários do presidente, por considerá-los mentiras não democráticas.

O comportamento do presidente tem recebido críticas por minar a confiança nas instituições americanas e questionar a integridade do processo democrático, em alegações sempre desprovidas de fundamento. Suas denúncias também inflamam sua base, que têm promovido protestos, às vezes armados, pelo país.

O cientista político Ian Bremmer classificou o discurso de Trump como “o discurso mais destrutivo proferido por um presidente americano”.

Trump denunciou um complô entre “a grande mídia, as grandes corporações e as grandes empresas de tecnologia” contra a sua candidatura, e disse que o Partido Republicano se tornou “o partido do trabalhador americano”.

Até a pandemia, grandes empresas e bancos americanos demonstravam apoio à política americana do governo do republicano, enquanto, até estas eleições, empresas do Vale do Silício como o Facebook eram acusadas de ser pouco rigorosas ao agir contra notícias falsas e desinformação ligadas a grupos ultraconservadores.

Trump argumentou que as pesquisas — que têm sido criticadas, por várias vezes terem apontado uma vantagem de Biden menor do que a verificada nas urnas — constituíram uma forma de supressão do voto, tendo desestimulado seus apoiadores. Segundo disse, as pesquisas tinham “o propósito de manter nosso eleitor em casa, diminuir nossa capacidade de obter fundos”.

Mas mesmo o suposto erro das pesquisas está sendo posto em dúvida à medida que a apuração avança. No voto popular, Biden já tem 4 milhões de votos de vantagem sobre Trump.

O presidente listou uma série de triunfos republicanos em estados americanos apurados ainda na terça-feira, sem considerar que não fazia sentido exaltar resultados que o favoreceram e ao mesmo tempo haver um complô para prejudicá-lo. Ele prometeu que os diversos processos na Justiça acionados por sua campanha serão bem-sucedidos.

Pouco depois do discurso de Trump, Biden foi ao Twitter, onde escreveu que “ninguém vai tirar nossa democracia de nós. Nem agora, nem nunca. Os Estados Unidos foram longe demais, travaram muitas batalhas e suportaram muito para permitir que isso acontecesse”.

Ex-procuradores condenam alegações de Trump

Dezenove ex-procuradores dos Estados Unidos — todos que serviram sob presidentes republicanos — divulgaram um comunicado logo depois do pronunciamento chamando as ameaças legais, alegações de fraude e falsas declarações de vitória do presidente Trump de “prematuras, sem fundamento e imprudentes”.

“Pedimos ao presidente que pacientemente e respeitosamente permita que o processo legal de contagem de votos continue, de acordo com as leis federais e estaduais aplicáveis, e evite quaisquer comentários adicionais ou outras ações que podem servir apenas para minar nossa democracia”, escreveram os advogados.

Os advogados contestaram as falsas sugestões de Trump de que é de alguma forma errado contar cédulas após o dia da eleição, algo que os estados fazem em todas as eleições. “Quer demore dias, ou mesmo semanas, para que o processo seja concluído, deve ser permitido que ocorra de uma forma aberta, justa e legal, e sem qualquer interferência política indevida”. [Capa: Brendan Smialowski/AFP]

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