Fotos: Fagner Delgado, Pedro Devani, Marcos Vicentti, Douglas Richer e Wania Pinheiro (ContilNet)
O lugar é fantástico, mas não é qualquer pessoa que consegue ir. Para chegar a este pedaço mágico e encantador do Acre, o turista tem que ter resistência e estar muito bem equipado com vestimentas que lhe ajude a enfrentar as adversidades encontradas ao longo do extenso caminho.
O Parque Nacional da Serra do Divisor, criado em 1989, o quarto maior do Brasil, é realmente lindo, um santuário ecológico. Um paraíso encravado no meio da grande selva amazônica. Nesta região exuberante são encontradas muitas espécies de plantas e animais exclusivos, como a Choca-do-Acre, uma ave rara descrita pela primeira vez em 2004.
São dez horas de barco subindo os rios Japim e Moa para chegar à Pousada do Miro, um lugar simples, rústico, mas muito aconchegante. As camas são boas, os lençóis bem limpos e cheirosos aliviam a cansativa viagem de barco. Os barqueiros precisam de muita habilidade para enfrentar a forte correnteza e entrar vez e outra nos ‘furos’, que são atalhos estreitos onde só se vê água e mata.
Com uma diária de R$ 120 você se hospeda na pousada com direito a café, almoço e janta. A comida é bem caseira, típica da região, e muito gostosa. Mas essa fantástica aventura sai mais em conta com os pacotes que o fotógrafo Marcos Vicentti oferece, porque nele já está incluído tudo, desde a viagem de ida e volta nos barcos, até alimentação, hospedagem e guia turístico.
Os 25 expedicionários que acompanharam a 8ª expedição de Vicentti ficaram encantados com o lugar. Muitos choraram de emoção ao conseguirem vencer o difícil caminho da cachoeira Formosa, onde você tem que andar cerca de sete horas para chegar, muitos com os pés em carne viva devido a calçados não adequados ou até mesmo a falta de preparo físico.
Foram sete dias em uma aventura que levaram os expedicionários a conhecerem as cachoeiras do Ar Condicionado, do Amor, além da cachoeira Formosa – a maior e mais desafiadora de todas.
O Buraco Central, onde jorra uma água morna, que, segundo Marcos Vicentti, contém enxofre, é outro atrativo das cabeceiras do Rio Moa. Esse buraco, com cerca de 700 metros de profundeza, onde você não afunda devido a força da água que vem de suas entranhas, foi cavado na década de 40 pela Petrobrás.
Os desafios para chegar até a Formosa
O lugar mais difícil para se chegar é a cachoeira Formosa. Quem tem disposição para visitá-la terá que andar cerca de cinco horas mata adentro até chegar ao igarapé Anil, onde os expedicionários ficam acampados por toda a noite em barracas ou em redes armadas nas árvores.
De lá para a Formosa são mais duas horas andando por dentro das correntezas do Anil, e vez e outra por suas margens, o que torna o caminho mais difícil. Na chegada, tem gritos de alegrias, choro de emoção e a certeza da superação. É muito emocionante.
Depois do banho, das fotos e muitas brincadeiras, todos pegam o caminho de volta para o acampamento. São mais duas horas. Ao chegarem ao local da dormida, no meio da floresta bruta, o Miro, dono da pousada, já está lá com as barracas armadas e o fogo aceso, onde é preparada uma comida bem improvisada. Ali, todos passam a noite confabulando com os amigos ou meditando. Outros dormem cedo tamanho é o cansaço.
Durante a expedição, também tem a subida ao pico da Serra do Divisor, um lugar onde se pode ver os rios Ucayali e o Juruá cortando a grande selva amazônica. Quem já foi lá conta que é um dos lugares onde o Sol nasce mais bonito. É onde existe a fronteira que separa o Brasil do Peru.
“Um Acre intocável, uma selva intocável”
“A subida do Mirante é o ponto mais alto da Serra do Divisor. Ele tem cerca de 1.200 metros de subida. Lá é conhecido como mirante, onde as pessoas sobem e observam as bacias do Rio Juruá e do Rio Ucayali, do lado peruano. É onde está uma das maiores biodiversidades do mundo, espécies endêmicas que só existem naquela região. Essa é a 8ª expedição que organizo para aquela localidade junto com a Pousada do Miro, onde os acreanos têm a oportunidade de conhecer um Acre intocável, uma selva intocável”, explica Marcos Vicentti.
A importância dos guias
A aventura na Serra do Divisor não seria possível sem o apoio dos guias florestais, os grandes heróis dessa aventura. Eles chegam a carregar nas costas cerca de 50 quilos em um caminho que passa por muitos igarapés e pontes improvisadas com árvores brutas. Além da carga, esses homens ainda auxiliam os expedicionários que enfrentam mais dificuldades na longa e cansativa caminhada, na travessia dos igarapés e em outros trechos mais difíceis. Muitas pessoas não conseguiriam chegar até a Formosa sem o apoio desses prestativos profissionais da selva.
Depoimentos dos expedicionários
“A expedição à Serra do Divisor me proporcionou um mais profundo processo de meditação vivido. A conexão com a natureza me proporcionou um reencontro com minha essência, o meu eu interior. Retorno da experiência com maior responsabilidade de ser guardiã da preservação e cuidado com o que temos de mais importante. Sem o equilíbrio ambiental não há água potável, ar respirável, não há alimento saudável, não há vida”. Vanda Gomes de Brito, professora
“Ainda estou em busca de palavras que possam definir o que vivi e aprendi nessa imersão que mostrou minhas fragilidades e também a capacidade de superar meus limites. Ainda estou impressionada com a solidariedade gerada entre as pessoas do grupo. Não faltou alimento, nem medicamentos, nem gargalhadas, nem alegria, nem empatia. Foi um lindo encontro entre irmãos e amigos de jornada que ficará guardada para sempre na memória e no coração de cada um. O Parque Nacional da Serra do Divisor faz parte de nós com toda sua intensidade, beleza e mistérios”. Jane Vasconcelos, jornalista
“A Serra do Divisor é a realização de um sonho para mim. Já viajei para tantos lugares e me sentia inconformada de não conhecer o cartão-postal mais lindo do meu estado. Estar na Serra do Divisor foi uma experiência sensacional. Contemplar esse lugar, ouvir o som da natureza, refletir, encontrar com a calmaria. Eu sempre sonhei com esse dia, mas não imaginava que seria tão incrível. Um dos momentos mais marcantes para mim foi a trilha de 12 quilômetros voltando da Cachoeira Formosa. Estava chovendo, o cansaço deu lugar a um sentimento de satisfação genuíno, escutando o som dos animais senti Deus naquele lugar, meus olhos encheram de lágrimas e um sorriso bobo surgiu. Uma experiência eternizada no meu coração”. Priscila Ribeiro, 27 anos – Arquiteta
“Estar na Serra do Divisor é um encontro com o seu eu interior, com a sua verdadeira essência. Parafraseando Manoel de Barros, é valorizar as miudezas da vida. Indescritível sensação, eu entrei em estado de Flow”. Eufrasia Cadorin, cirurgiã dentista e professora
“Acompanhada de um grupo de solidários amigos aventureiros, navegamos no Moa e trilhamos por densa floresta ao encontro de exuberantes cachoeiras. Foi uma imersão na dura realidade do isolamento dos amazônidas. Paralelo a isso, nos deparamos com a beleza selvagem das águas cristalinas e das belas cachoeiras. Como o coração dos acreanos, as águas mornas nos brindaram aliviando a dura e misteriosa jornada. O encontro com a perfeição de Deus foi o maior presente” Marcia Bittar, historiadora
“Compreender que a natureza, que aparentemente é externa, faz parte de nós, nos permite transportar mentalmente toda a força das lindas árvores para dentro do nosso coração, como uma simbiose entre ser humano e natureza, a maior de todas as riquezas e fonte de todos os sentimentos. Refleti sobre o quanto o nosso amor próprio precisa crescer, e assim ganhei um prêmio: o abraço mais apertado e acolhedor desse mundo, o meu mesmo!” Sabrina Gondim, administradora
“A expedição ao parque Serra do Divisor, mais do que um passeio, mais do que umas férias, é realmente uma aventura. E nesses dias que passamos juntos, tivemos a oportunidade de contemplar umas das maiores maravilhas da natureza, que é a Amazônia. É um local muito acolhedor, onde ficamos, repleto de muitas belezas naturais. Tivemos que desbravar com muitas dificuldades alguns trechos, mas ao vencermos, podemos comtemplar a beleza desse lugar tão maravilhoso. Fui convidado pelo Marcos Vicente, que é o idealizador dessa expedição, e tive a satisfação de acompanhar toda essa turma, como um dos fotógrafo da expedição. Registrei vários momentos bonitos, que expressavam a alegria, a luta , perseverança e a determinação de todos que participaram dessa incrível aventura na selva amazônica”. Fagner Delgado, fotógrafo.
“Umas das maiores experiências que já vivi. Aprendizagem, amizades, reflexões, alegria pela vida, gratidão pelas conquistas. Essas foram algumas das coisas que mais pensei nesses dias no Parque Nacional da Serra do Divisor. Lugar mágico, de paz, que traz conexão com a natureza e seu interior. Gratidão a todos pelo carinho, ao fotógrafo Marcos Vicente pelo cuidado, atenção. Obrigado por nos proporcionar momentos inesquecíveis nessa expedição fantástica. Às minhas amigas Márcia Bittar, Sabrina Gondim, Wania Pinheiro e todos dessa turma linda e alegre que tornaram esse encontro “INESQUECÍVEL”. Você precisa conhecer a Serra do Divisor. Nada do que for escrito e visto, descreverá tamanha beleza”. Douglas Richer, jornalista
“Me senti parte da serra, a serra estava em mim. Voltei para a essência de mim, para quem de fato sou. Me perdi ao longo dos anos, me desconectei de mim mesma em meio a um mundo em caos, acelerado e vertiginoso. Na serra sentia felicidade em ver sorri pessoas que eu não conhecia, seus sorrisos me enchiam de amor e carinho por eles, a energia da mata nos unio. Umas das melhores experiências da minha vida, Voltei a mim, ao meu centro onde quero permanecer para sempre, sem me perder”. Queila Batista, professora
A água brota morninha do chão
“Buraco Central. Esse é um lugar bastante procurado no Parque Nacional, mas que surgiu lá por “acidente”. Na década de 40, a Petrobrás perfurou a área em busca de Petróleo, mas isso deu origem a uma espécie de olho d’água. Desde lá a água não parou de jorrar do chão, dando origem a uma piscina natural excelente para se refrescar em meio a natureza. Além disso, o local é apelidado como “banheira de hidromassagem natural”, por ser super relaxante. A água brota morninha do chão”. Casal Nômade
Quem deseja conhecer a Serra do Divisor tem que pegar uma condução via terrestre ou aérea de Rio Branco até Cruzeiro do Sul, o segundo maior município do Acre. De lá, tem que seguir para Mâncio Lima (a cidade mais ocidental do Brasil), onde ficam os barqueiros que vão te levar até a Pousada do Miro, pelos rios Japim e Moa.
A viagem, em pequenos barcos, duram de oito a doze horas, dependendo do ‘humor’ e das condições dos rios. Se você for viajar no verão, poderá levar até doze horas ou mais porque os barcos encalham nos bancos de areia que se formam no leito do rio.
Muitas pessoas levam barracas, mas se não quiser ter trabalho carregando este equipamento, na Pousada do Miro tem barracas para alugar. Quem quiser dormir sem preocupações com mosquitos e animais peçonhentos, pode levar também um mosqueteiro.
O supermercado mais perto que você vai encontrar é em Mâncio Lima, por isso, aconselha-se que leve alimentos e água potável. Boa viagem!
Os aventureiros
1 Marcos Vicente
2 Valeria Teixeira da Costa
3 Sabrina Gondim
4 Wesley Barbosa de Moraes
5 Priscila Maria de Freitas Ribeiro
6 Queila Batista dos Santos
7 Fagner Gomes Delgado
8 Catherine Cristina Claros Leite
9 Cláudia Vasconcelos Alexandrino de Brito
10 Gabriela Jucá da Silva
11 Harley Araújo da Silva
12 Ana Paula Falcão Freire
13 Jane Vasconcelos
14 Tamyris Maria Dourado Lima
15 Wania Pinheiro
16 Maria Targino do Sacramento
17 Ricardo Melo Neto
18 Fiama Cristina Farias de Souza
19 Pedro Devani de França do Nascimento
20 Vanda Gomes de Brito
21 Eufrásia Santos Cadorin
22 Elaine Teixeira Ferreira
23 Marcia Bittar
25 Tone Eli da Silva Roca