Um animal pré-histórico encontrado há cerca de dez anos em São João do Polêsine, na Região Central do Rio Grande do Sul, estampou a capa da edição de 17 de dezembro da revista científica britânica “Nature”, publicada semanalmente (veja imagem abaixo).
O ixalerpeton polesinensis, como foi batizado o fóssil, viveu há cerca de 230 milhões de anos e é tema do artigo “Enigmáticos precursores de dinossauros preenchem lacuna até a origem dos Pterosauros”.
O animal é objeto de estudo de um grupo internacional de pesquisadores desde que foi encontrado, entre 2009 e 2010, no sítio Buriol, na cidade gaúcha. O professor e paleontólogo Sérgio Cabreira, da Associação Sul Brasileira de Paleontologia, é um dos autores da descoberta e assina o artigo, junto com especialistas de vários países, como Argentina e Estados Unidos.
O achado marcou a primeira vez em que o lagerpetídeo, um tipo ainda raro de animal pré-histórico, foi encontrado no Brasil. Esses pequenos animais são os antepassados dos pterossauros, que por sua vez são uma espécie de antepassado dos dinossauros que voavam. Também têm semelhanças com os antepassados das aves.
Segundo Sérgio Cabreira, o ixalerpeton encontrado tem mais ou menos o mesmo tamanho da ave quero-quero. O animal estava na mesma rocha em que foram localizados os fósseis do buriolestes schutlzi, um dos precursores dos dinossauros.
Animal possui características evolutivas semelhantes às dos pterossauros, dinossauros voadores, e das aves — Foto: Reprodução/Nature
Embora estivesse desarticulado, o fóssil do ixalerpeton estava completo, diz o professor. “Partes do crânio, as mandíbulas, esqueleto da coluna, dos membros, muitas peças foram encontradas. Isso trouxe novas informações.”
Com o material completo, o bom estado dos ossos e as tecnologias de estudo – como uma ferramenta que possibilita a realização de imagens internas dos fósseis –, foi possível aprofundar os estudos sobre o até então pouco conhecido grupo de animais.
O lagerpetídeo, por exemplo, possui o labirinto ósseo (que fica no ouvido) bastante desenvolvido, o que está ligado à capacidade de voar. O animal encontrado no RS não voava, mas fornece elementos para desvendar as origens dos pássaros.
“[O animal] Tinha um sistema de equilíbrio extremamente complexo, parecido com o sistema de equilíbrio dos pterossauros, que eram animais voadores. E muito parecido com o labirinto das aves”, diz o professor.
Também foi possível observar que o lagerpetídeo tinha um metabolismo acelerado, o que é pré-requisito para a atividade do voo, que exige muita energia.
“Essas pré-adaptações são necessárias. Não tem como o animal se lançar ao espaço pra voar sem que previamente ele tenha adquirido condições”, afirma Cabreira.