Em menos de 24 horas, sete integrantes de uma mesma família moradora do distrito Nova Maracanã, da zona rural do município de Faro, no oeste do Pará, morreram com sintomas da covid-19. Três mulheres e quatro homens (bisavó, avó, avô, mãe, pai, 2 tios) não resistiram muito tempo após complicações respiratórias entre a segunda-feira (18) e esta terça (19). A Unidade Básica de Saúde (UBS) da comunidade não tinha cilindros de oxigênio.
O sétimo integrante da família a morrer foi um homem, na tarde de hoje, após a chegada de seis cilindros de oxigênio ao distrito. Outro paciente também do sexo masculino, que estava sendo atendido em Nova Maracanã também morreu na tarde de hoje na UBS do distrito.
De acordo com a última atualização do boletim da covid-19, divulgado nas redes sociais na tarde desta terça, há 161 casos positivos confirmados ativos, 844 confirmados da doença e 100 continuam sob investigação. Ainda segundo o informativo, tem 41 pacientes internados e 7 mortes confirmadas; 120 pessoas estão em isolamento domiciliar e 1.353 pessoas notificadas.
O sistema público de saúde do município entrou em colapso na segunda-feira por falta de oxigênio. Não havia no hospital municipal da cidade, cilindros reservas para enviar ao distrito de Nova Maracanã, onde a família estava internada. A informação foi confirmada no início da tarde desta terça-feira (19) pelo secretário municipal de Meio Ambiente de Faro, Arthur Brasil.
Carregamento de Cilindros
Diante do aumento do número de casos suspeitos de Covid-19 em Faro, o prefeito Paulo Carvalho (PSD) fez um apelo às prefeituras de municípios vizinhos e também a empresários, e nesta terça recebeu 20 cilindros de oxigênio que serão divididos entre a UBS Morumbi, na cidade, e UBS de Novo Maracanã, que funcionarão como centros de atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Dos 20 cilindros que chegaram na madrugada de hoje a Faro, apenas seis foram enviados para o distrito de Nova Maracanã. Como o município havia emprestado cilindros de outras cidades, precisou devolver, sendo 1 para Terra santa (PA) e 2 para Nhamundá (AM). Os 11 restantes ficaram na UBS Morumbi, na zona urbana de Faro. O transporte dos cilindros de oxigênio para o distrito Nova Maracanã foi acompanhado pelo prefeito Paulo Carvalho.
Dificuldade para tratar pacientes
Segundo a secretária municipal de Saúde de Faro, Edilza Farias, com o aumento no número de casos da Covid-19 e o fato de a cidade não dispor de estrutura de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) fica difícil tratar os pacientes. “Esses pacientes precisariam ter que ser transferidos para Itaituba ou Juruti, que soubemos que ainda dispõe de leitos para receber pacientes graves”, disse.
Ainda de acordo com a secretária, um ofício foi enviado ao secretário regional de Governo no oeste do Pará, Henderson Pinto, e ele, acompanhado da diretora do 9º Centro Regional de Saúde (CRS) da Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), Aline Liberal, estiveram na comunidade Nova Maracanã.
“Estamos fazendo de tudo para transferir os pacientes que estão precisando de UTI, eles devem ser levados para Juruti, que fica mais próximo. Mandamos dois para Itaituba já”, ressaltou a secretária.
O que diz o Governo do Estado
Em visita em Santarém, durante cerimônia de imunização da primeira pessoa contra a covid-19, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que é fundamental que as estruturas municipais sejam fortalecidas para atender a demanda de pacientes acometidos pela doença.
“Ao distrito de Nova Maracanã, a cidade de Faro deve garantir a oferta de oxigênio. O governo do estado não estará mais omisso, por isso o secretário regional de governo e a diretora regional da secretaria de saúde estiveram lá na segunda-feira para nos colocar à disposição. Fiz questão de estar próximo para reunir com todos os prefeitos de cidades que fazem fronteiras com o Amazonas, dialogando com as empresas que ofertam oxigênio, que atuam na distribuição de oxigênio”, esclareceu Helder.
O governador disse ainda que a prefeitura municipal precisa cumprir com a sua obrigação no sentido de contratar os serviços para salvar a vida da população. “Nós não podemos permitir que a população não tenha oxigênio ou não tenha atendimento em saúde por falta de gestão. Abrimos 10 leitos em Juruti que fica próximo à cidade, além de cinco leitos clínicos e estamos com o serviço aeromédico para remoção de pacientes”, ressaltou.
Segundo Helder, foi feito um pedido à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para que fosse autorizado o pouso de aeronaves em Faro para fazer a remoção dos pacientes e deslocá-los para o Hospital de Juruti, Hospital de Santarém ou para o Hospital Regional de Itaituba.
“Nesse momento a região está com 90 leitos de UTI disponibilizados pelo Governo do Estado, temos oferta de leitos, garantimos o acesso, agora esse diálogo é decisivo para que nós não assistamos um cenário dramático das pessoas perderem a vida por falta do serviço. Quero tranquilizar a população, portanto não vamos confundir falta de gestão, como se o produto tivesse escasso, está longe de acontecer isso”, reiterou o governador do Pará.