A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, se tornou neste domingo, 17, a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Brasil. Ela foi imunizada com a CoronaVac, desenvolvido pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
Com a aprovação pela maioria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) neste domingo, do uso emergencial do fármaco, Calazans e outros profissionais de saúde indicados por hospitais públicos e que trabalham na linha de frente do combate à Covid-19 estão sendo vacinados pelo governo de São Paulo.
Diabética, obesa e hipertensa, a enfermeira faz parte de grupo de risco e trabalha na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Emílio Ribas, em São Paulo. A instituição é referência no tratamento de doenças infecciosas.
Em maio, quando a pandemia atingia alguns de seus maiores picos, Mônica Calazans se inscreveu para trabalhar no Emílio Ribas, mesmo ciente de que a unidade estaria no epicentro do combate à pandemia. A vocação falou mais alto, diz. A informação foi antecipada pela Folha de S.Paulo.
Mônica Calazans trabalhou como auxiliar de enfermagem durante 26 anos. O diploma universitário veio mais tarde, aos 47. Viúva e mãe, nem ela nem o filho de 30 anos se infectaram com a Covid-19. A família, entretanto, não passou isenta pela pandemia. Seu irmão caçula, auxiliar de enfermagem de 44 anos, ficou internado por 20 dias com a doença.
Mônica será vacinada na tarde deste domingo, logo após ao pronunciamento do governador João Doria no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela receberá a imunização das mãos da enfermeira Jéssica Pires de Camargo, de 30 anos, mestre de Saúde Coletiva pela Santa Casa de São Paulo. Na sequência, Mônica receberá do governador um selo simbólico com os dizeres “Estou vacinado pelo Butantan” e uma pulseira com a frase “Eu me vacinei”.
Entrega de vacinas
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou neste domingo que determinou ao Instituto Butantan a entrega das doses de CoronaVac ao Ministério da Saúde para que sejam distribuídas a outros estados brasileros logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial. “O Brasil tem pressa para salvar vidas”, escreveu, no Twitter. Ele não detalhou a quantidade de doses que serão entregues ao governo federal.
Doria acompanha do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a reunião da Anvisa que decidirá sobre o uso, em caráter emergencial, das vacinas do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele está no local ao lado do vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), e do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Técnicos e diretores da Anvisa estão reunidos, desde às 10h, em Brasília, para votar o uso emergencial das vacinas CoronaVac, produzida em parceria entre o Butantan e farmacêutica chinesa Sinovac, e a do laboratório anglo-sueco AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford e que deverá ser produzida pela Fiocruz a partir de fevereiro. Até agora, técnicos se mostraram favoráveis à aprovação de ambas.
Em guerra aberta contra o governo Jair Bolsonaro (sem partido) pelo crédito do início da imunização, o governador poderá vacinar, num primeiro momento, apenas grupos pré-definidos nos estudos entregues à Anvisa – idosos, profissionais de saúde, indígenas e quilombolas.
Para comercialização do imunizante e ampla vacinação sem necessidade de especificação de grupos é preciso obter o registro final da vacina.
Mais informações
A Anvisa fez uma ressalva na decisão deste domingo que o Instituto Butantan não enviou dados importantes sobre a vacina, como informações sobre anticorpos gerados na fase 3 do estudo, quando o imunizante é testado amplamente.
Entre as “incertezas” apontadas, a área técnica destacou: a duração da proteção proporcionada pela vacina, seu efeito em idosos e outros grupos específicos, como pessoas com comorbidades.
Também não pode ser avaliada a eficácia da vacina em pessoas que já tiveram a doença. A reportagem contatou o Butantan mas ainda não teve retorno sobre as ponderações da Anvisa sobre a CoronaVac.
Os dados incluem os voluntários do teste clínico que contraíram a doença, mas tiveram casos leves, o que mostra que o imunizante é capaz de proteger contra formas graves da Covid-19. A vacina supera o índice recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).