18 de abril de 2024

No ritmo atual, Brasil só conseguirá vacinar 70% da população em 2024

Se o Brasil mantiver o atual ritmo de vacinação, levará três anos para imunizar 70% da população contra Covid-19. A perspectiva de atingir só em 2024 a cobertura que permite a volta ao “velho normal” é desanimadora, mas há espaço para melhorar o desempenho, dizem cientistas. Além de, evidentemente, avançar na aquisição de vacinas, o Programa Nacional de Imunização (PNI) precisa, pontuam, azeitar sua logística, prejudicada pela escassez dos imunizantes— quanto menos vacinas, mais complexo é organizar a fila de vacinação e suas prioridades.

Até agora, o Brasil vacinou apenas 1,5% da população. Com problemas similares, outros latino-americanos avançaram ainda menos, casos de Argentina (0,8%), México (0,5%) e Chile (0,4%). Por terem se movimentado antes e comprado mais vacinas, nações ricas como Estados Unidos, Reino Unido, Israel e Emirados Árabes Unidos estão no caminho para chegar aos mágicos 70% ainda em 2021, segundo dados do projeto Our World In Data, da Universidade de Oxford (veja quadro ao lado).

Um cenário em que nações ricas controlam a Covid-19 dois ou três anos antes das pobres preocupa organismos multilaterais como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso levaria ao isolamento dos países em desenvolvimento por restrições de viagem e comércio, potencializando a desigualdade, além do risco de reintrodução do vírus nas regiões que conseguirem debelar surtos.

Apesar de o principal gargalo do plano de vacinação do Brasil ser a falta de vacina disponível, os problemas logísticos e de burocracia também têm um peso razoável. Tanto que, das 10 milhões de doses prontas para distribuição pelo SUS, só 3 milhões foram aplicadas até a última sexta-feira.

Se contados os 20 dias passados desde o início da campanha de vacinação, o país está vacinando cerca de 165 mil pessoas por dia, ritmo bem aquém da capacidade, diz José Cássio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa-SP:

— O PNI pode vacinar, tranquilamente, 2 milhões de pessoas por dia. E esta é uma estimativa conservadora, levando em conta que só exista um vacinador em cada uma das 40 mil salas de vacinação do país — diz o médico sanitarista, que defende a criação de equipes para auxiliar os cadastros e agilizar o processo.

Para Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a dificuldade de hierarquizar os grupos a serem vacinados — e evitar fura-filas — torna o processo do cadastro mais lento.

— Como não houve definição clara, ficou a critério dos gestores locais — conta Cunha, médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. — Na capital gaúcha foi instituída uma lista, que levou um certo tempo para sair, indicando “prioridades dentro da prioridade”. Nós, profissionais de saúde, fomos classificados em 12 subgrupos.

Reserva de doses

Outro motivo para a demora é que alguns estados e municípios estão reservando a segunda dose da vacina para as pessoas que já tomaram a primeira tenham o seu reforço garantido. Há, então, efeito perverso:a escassez agrava a lentidão.

— Como não temos o número de doses correto e elas chegam fracionadas, de pouco em pouco, é preciso controlar — afirma Tânia Chaves, vacinóloga da Universidade Federal do Pará. — Não dá para sair vacinando todo mundo sem garantir a imunização completa, com duas doses.

Os cientistas ouvidos pela reportagem não quiseram arriscar quando o país pode atingir os 70% da população vacinada, com ou sem uma otimização do PNI. Um relatório da consultoria Economist Intelligence Unit buscou dar essa resposta mapeando compras de vacina mundo afora e analisando a infraestrutura de diversos países.

A empresa inclui o Brasil dentro de um grupo de nações de renda média que conseguiriam vacinar o público não prioritário a partir de setembro deste ano. Isso permitiria ao país ter uma “volta ao normal” no meio de 2022 “caso sejam implementadas restrições”. Ou seja, o cenário otimista requer que as medidas de contenção da pandemia não sejam abandonadas até lá.

O que diz o governo

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou em nota já ter garantido 354 milhões de doses de vacina, suficiente para imunizar 83% da população (com duas doses). Esse número, porém, está em contratos que ainda precisam ser honrados, com a entrega de ingrediente ativo das vacinas CoronaVac e Oxford/AstraZeneca. O número também inclui doses a serem adquiridas via Covax, consórcio articulado pela OMS.

Questionado sobre o prazo em que espera atingir volume maior de vacinados, a pasta informou não ter data específica: “O escalonamento dos grupos populacionais para vacinação se dará conforme a disponibilidade das doses de vacina, após liberação para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária”.

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