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Chope com amigos custou 50 dias e 10 kg na vida de homem que pegou covid

Por UOL

Se é preciso esforço para ouvir e entender o que Wilson Assis de Carvalho, 61, fala ao telefone, o empenho do empresário é dobrado para completar uma única frase.

A voz rouca é consequência de uma traqueostomia feita durante os quase dois meses em que ficou internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital São Camilo, em São Paulo, pelas complicações da covid-19.

Foram 50 dias de luta, grande parte deles intubado e inconsciente, para conseguir se recuperar dos estragos causados pelo novo coronavírus.

Era um sábado de sol de janeiro quando Mindu, como Wilson é conhecido pelos amigos, assistiu ao casamento de um dos filhos em um cartório e teve a ideia de coroar a celebração com um chope com padrinhos e amigos em um bar na zona leste. Ao todo, a família conta que eram 60 pessoas, mais os clientes do bar.

Na terça-feira, Mindu acordou indisposto. Mediu a temperatura, confirmou que estava com febre, mas preferiu só tomar antitérmicos. Sentindo-se melhor, saiu de São Paulo e foi para a casa de férias da família, em Itu, no interior paulista.

Na quinta-feira, piorou e foi até um posto de saúde na cidade, onde a médica prontamente receitou ivermectina, remédio comprovadamente ineficaz contra a covid-19. “Tomei uma dose única com dois comprimidos. Não fez nenhuma diferença”, conta ao UOL.

No final de semana, enquanto aguardava o resultado de um teste PCR, foi informado que ao menos sete pessoas que estavam no bar haviam tido exames positivos para covid. Na segunda-feira, foi ao hospital e, de lá, só saiu na semana passada, com dificuldades para andar e 10 kg a menos.

‘Morri e voltei’

A filha de Mindu, Caroline Anunciato, disse que, a cada dia que passava, a angústia aumentava. “Cada vez que o médico ligava, parecia que piorava. É impressionante: o vírus vai apertando cada dia uma coisa. O rim para, o coração infecciona”, diz.

“Foi a pior situação que eu poderia ter passado na minha vida. É horrível, horrível, horrível. Eu morri e voltei, literalmente bati na trave”, diz Wilson.

Ele se lembra de pouca coisa enquanto esteve internado. “Sinceramente, eu tenho espasmos de lembranças, poucos. Com a medicação, comecei a delirar, misturar ficção com realidade. Fiquei na posição de prona, que foi o que fez meu pulmão voltar a funcionar, e não lembro absolutamente nada”.

Hoje se recuperando em casa, ele passa a maior parte do dia da cama. Qualquer esforço físico já cansa. “Eu não consigo andar sozinho ou subir escada. Não tenho mais força. Eu perdi a maioria da musculatura”.

Àqueles que menosprezam a doença, Mindu manda um recado: “Tomem vergonha na cara. Sejam responsáveis. Todo mundo acha que é uma gripe, não é. É muito mais sério do que você imagina. A covid mata, e está matando todo mundo”.

Ansioso para se vacinar, ele já decidiu qual será a primeira coisa que fará quando a pandemia estiver sob controle. “Eu vou ao santuário de Aparecida e agradecer, agradecer, agradecer. Eu só estou vivo por Deus, não tem outra razão, literalmente.”

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