A sociedade atual ainda consensua, tragicamente, que as mulheres são biologicamente frágeis, culturalmente menos capazes e socialmente mais estigmatizadas. Friedrich Nietzsche ousou dizer, em 1908 (talvez porque já estivesse morto), que “mulher é vingativa: isso é determinado por sua fraqueza”. “Mas que mentira absurda”, não é mesmo? Esse rótulo impresso ao longo dos anos vem sendo desconstruído por nós mulheres através de experiências nem sempre tão gratificantes, mas certamente engrandecedoras.
Ser mulher no Brasil é um desafio, já que somos o 5º país que mais mata mulheres no mundo, mais que na guerra da Síria, e tudo isso ocorre mesmo em meio a muita resistência e histórias de superação e coragem. Somos mulheres jovens ou não, ricas ou pobres, com ou sem acesso à educação, mas que lutamos dia após dia em busca do direito de sermos o que quisermos ser, de sermos amadas, de darmos amor, de decidir o que fazer com nossas vidas e acima de tudo, de nos mantermos vivas.
Porém, não buscamos nos livrar do rótulo de frágeis para recebermos outro, o de supermulher. Não somos assim, somos apenas corajosas, desafiamos as estruturas e crescemos muito em meio a separações não planejadas, a filhos com dificuldades, a abortos nunca pensados, a namoros frustrados, a mortes inesperadas. Somos todas, sempre, resultado das mazelas e delícias que a vida nos mandou, e as recebemos de peito aberto com a certeza de que somos capazes de acolhê-las.
Caso Nietzsche conhecesse a mulher de que falamos iria nos pedir desculpa por seu Ecce Homo, pois iria perceber que o que nos une, acima de tudo, é a solidariedade de umas com as outras, acrescida da certeza de que vale a pena continuarmos tentando ser felizes. Em um mundo em que de filólogos, filósofos a funkeiros vemos letras que matam, letras que depreciam, letras que nos reduzem à margem, nós só podemos resistir a cada dia e convidá-los todos a serem corajosos assim como somos.
Assim, quando formos pegas de assalto por um amor frustrado, por valores despedaçados, por filhos revoltados ou por calúnias programadas, lembremos da nossa história de muitas vitórias, de muitas superações e longe de querer ser exemplo, sejamos apenas o que sempre fomos: mulheres que crescem em meio às adversidades e que, acima de tudo, sabem ser felizes.
Nayra Claudinne Guedes Menezes*
Acreana. Professora. Mãe da Valentina. Consultora do Bird no MEC.