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Incêndio no prédio da Assembleia Legislativa do Acre completa 29 anos nesta sexta

Por TIÃO MAIA, PARA CONTILNET

Foto: reprodução

Eram 15h10min do dia 30 de abril de 1992, uma quinta-feira, quando uma sirene de alarme tocou no quartel do Corpo de Bombeiros, localizado no bairro Invernada, em Rio Branco: o prédio sede da Assembleia Legislativa, no Centro da Capital, estava em chamas. Não era trote. Era o início do maior sinistro já registrado na história do Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC), que destruiu, além do prédio, todo o acervo histórico e documentos do Poder Legislativo, de 1962 até aquele dia que está marcado até hoje na vida de muitas pessoas que assistiram ao sinistro ou que estavam no prédio e foram socorridas graças à ação dos heroicos militares do Corpo de Bombeiros.

Dos que viram a tragédia de perto, está o então soldado que arriscou sua vida para ir ao topo do prédio para socorrer pessoas que, caso não fossem imediatamente atendidas, ameaçavam se jogar no chão. Era o caso do casal Franciberto Castro e sua esposa Nazaré Jorge de Castro, então assessores na Casa, e a jovem Maria José Solon da Paz, então com 19 anos, que foram obrigados a se protegerem no terraço do edifício porque quando perceberam o incêndio, as escadas já estavam tomadas pelo fogo e fumaça.

Incêndio na Aleac completa 29 anos/Foto: reprodução

Para uns, mais um dos crimes misteriosos que aconteciam envolvendo a política no Acre naqueles tempos, quando levou inclusive ao assassinato do governador Edmundo Pinto num quarto de hotel, em São Paulo, no dia 17 de maio daquele ano de 1992. Para outros, um acidente qualquer mas que não deixou de ser o maior incêndio da história do Acre e que destruiu o prédio-sede da Assembleia Legislativa na tarde de 30 de abril, há 29 anos.

O que reforça a tese de que o Acre daqueles tempos foi levado ao olho da conspiração política foi o assassinato de Edmundo, a tiros, duas semanas após o incêndio da sede do Poder Legislativo, prédio que leva o nome do senador José Guiomard Santos, o autor da lei que permitiu a elevação do então território do Acre à condição de Estado membro da Federação brasileira, em 1962. Faltando menos de três meses para os 30 anos da vitória política de Guiomard com a assinatura da Lei 4.060, pelo então presidente João Goulart e o primeiro-ministro Tancredo Neves, a 15 de junho de 1962, a sede do prédio cujo nome foi dado em memória do senador, sediara, até momento antes de ser tomado pelas chamadas, mais uma sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigava denúncias de irregularidades na contratação de obras públicas executadas ou que deveriam ser pelo governo de Edmundo Pinto.

Uma das obras em questão era o já famoso “Canal da Maternidade”, em Rio Branco, que seria construído pela construtora baiana Norberto Odebrecht, que ficaria ainda mais famosa com as investigações da Operação Lava-Jato, em Curitiba, pela nada desprezível quantia de 110 milhões de dólares. De dólares, registre-se.

A CPI investigava as suspeitas e a movimentação de Luís Carlos Piestchan, um ex-empresário do ramo gráfico que havia chegado ao Acre pelas mãos do sempre polêmico empresário Zamir Teixeira, fazia menos de cinco anos. Em 1992, ainda imberbe, com 27 anos de idade, dono de incríveis olhos verdes que o levaram, em algum momento e com certo exagero, ser confundido com o ator norte-americano Brad Pitt, ainda também muito jovem a época, Luís Carlos Piestchman havia inclusive aportuguesado o sobrenome alemão para Pitiman, a fim de tornar-se mais palatável aos eleitores já que, se aquelas ocorrências trágicas não tivessem sido registradas, ele seria, naquele ano, candidato a prefeito da Capital do governador Edmundo Pinto.

Na CPI da Assembleia, os deputados queriam saber como aquele rapaz de incríveis olhos verdes havia se tornado tão poderoso, inclusive em Brasília, capaz de arrancar, do governo federal, quantias tão vultosas como aquela que deveria ser investida no Canal da Maternidade. Uma quantia que, em valores de hoje, superaria a casa de meio bilhão de reais. Ao responder a uma pergunta do relator João Correia, num interrogatório praticamente no mesmo estilo de uma entrevista à TV-5, ao repórter Demóstenes Nascimento, que ficaria famoso porque entrevistado e entrevistador saíram literalmente na porrada em frente às câmeras e ao vivo, Pitman deu um show à parte. Quando Correia o indagou sobre que milagre operava em Brasília em relação à quantia tão significativa de recursos que obtinha, Piestchman ou simplesmente Pitiman, disse, na cara dura e sem revirar os já famosos olhos verdes:
– Eu sei o caminho das pedras em Brasília, deputado.

Deveria saber mesmo. Dias antes deste interrogatório, o então ministro do Trabalho, Antônio Rogério Magri, cujo Ministério era também curador dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia Por tempo de Serviços), de onde sairiam a dinheirama para financiar o Canal da Maternidade, havia sido flagrado numa gravação por um assessor confessando candidamente ter recebido propinas, na ordem de 40 mil dólares, para liberar o projeto de construção de uma “vala no Acre”. A tal vala era o canal da Maternidade. Eram tempos do governo Fernando Collor.

Aqueles fatos iniciados em Brasília tiveram seu ápice naquele 30 de abril, faltando poucos minutos para o meio dia. Ainda havia expediente no prédio quando deram os primeiros alarmes sobre o incêndio. Funcionários dos andares superiores, que não conseguiram descer para o hall de acesso à saída do prédio, subiram para o terraço, onde as chamas já ameaçavam a chegar e alguns, dos que ali estavam, ameaçavam se jogar para uma morte menos cruel que morrer incendiado, como correra, nos ano de 1974, no Edifício Joelma, em São Paulo.

Mas, em meio a tantas tragédias, eis que surge, na época, um herói em carne e osso. Ele atendida pelo nome de Carlos Batista da Costa, um solado então com 20 anos de idade e hoje o coronel Batista, atualmente comandante CBMAC. Ele recusa o título de único herói do sinistro, embora tenha sido ele o que mais se arriscou. “Não fui herói sozinho. Por exemplo, para chegarmos ao topo da Assembleia, em meio ao fogo e fumaça, para salvar aqueles três pessoas, o casal de assessores e a senhoras Maria José, com equipamentos improvisados, eu tive a ajuda do então cabo Almeida, hoje já na reserva”, contou, com exclusividade ao ContilNet, o hoje comandante da corporação. Atuaram na operação pelo menos 50 bombeiros, inclusive os que não estavam em serviço. “Nossa maior dificuldade é porque, na época, não tínhamos o equipamento que temos hoje. Nem roupas apropriadas, como chamamos as roupas de aproximação. Enfrentamos a fumaça e o fogo apenas com os uniformes que vestíamos”, disse o coronel. “Escalamos o prédio por trás e chegamos bem próximo ás vítimas mas não tínhamos mais acesso por causa da falta de visibilidade por causa da fumaça. E ali constatamos que não tínhamos onde prender as cordas com as quais desceríamos as pessoas”, revelou.

Coronel Batista, na época soldado que participou da operação de salvamento/Foto: cedida

Às vésperas de completar  três décadas, aqueles acontecimentos fazem parte de um momento triste da história do Acre que a geração atual não quer que se repita. Ninguém pode afirmar com segurança se o sinistro foi criminoso ou não. O fato é que as investigações da CPI, como gravações em fitas cassetes, gravadores e documentos – tudo foi levado pelo fogo. Ninguém foi indiciado ou preso pelas suspeições apontadas no relatório produzido por João Coreia, o deputado-relator do processo. Se houve crime, como se suspeita, os criminosos foram ainda mais audaciosos porque, além de tocarem fogo na sede um Poder do Estado, também mataram o chefe do Executivo, o então governador Edmundo Pinto, exatos 18 dias após o incêndio.

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