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Atendimentos psiquiátricos crescem na pandemia; veja como cuidar da sua saúde mental

Por O GLOBO, SOCIEDADE

Confira dicas práticas de como manter sua saúde mental equilibrada durante a pandemia Foto: André Mello

Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria respondida por seus médicos associados mostrou um aumento, de março para novembro de 2020, de até 25% nos atendimentos psiquiátricos e de 82,9% no agravamento dos sintomas de seus pacientes.

Esse salto evidencia como a pandemia no Brasil não mexeu apenas com a rotina das pessoas, mas também com a saúde mental.

— Temos percebido que a pandemia não é apenas infecciosa, mas também é uma pandemia de saúde mental.

Com tantas fatalidades decorrentes da Covid-19, a população tende a estar em um estado de alerta constante, o que tem deflagrado sintomas ansiosos e depressivos em muitas pessoas.

Informar sobre saúde mental ajuda a lidar com a fragilidade emocional coletiva que o momento gera — afirma o psiquiatra Higor Caldato, sócio-fundador da Nutrindo Ideais.

O conceito de saúde mental está ligado à maneira como uma pessoa reage a desafios, mudanças e exigências da vida e, desta forma, como consegue equilibrar suas emoções.
Manter o equilíbrio emocional após mais de um ano de pandemia é fundamental para continuar passando por este momento da melhor maneira possível.

— Ter à mão dicas de como cuidar da saúde mental auxilia as pessoas agirem para prevenir possíveis doenças mentais, assim como ajuda na identificação de quando é o momento de pedir ajuda a um profissional da área.

É muito benéfico as pessoas saberem que cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física — avalia a psicóloga Alessandra Augusto.

Estar munido de informações sobre como cuidar da saúde mental ajuda também a melhorar a produtividade no trabalho.

— Toda e qualquer dica que tenha um olhar voltado para o trabalhador é sempre muito valiosa para que ele possa se sentir encorajado a tirar o pé do acelerador, respirar e voltar sem se sentir culpado — afirma Jorge Martins, especialista em RH e sócio da Bullseye Executive Search.

Para ajudar os leitores a equilibrar melhor seu lado emocional, O GLOBO elaborou dicas de como diminuir o impacto desta crise sanitária na saúde mental, sobretudo em relação ao trabalho.

O guia abaixo é uma iniciativa de utilidade pública realizada pelo GLOBO e apoiada por Amil.

  Foto: André Mello

  Foto: André Mello

O que é saúde mental?

A saúde mental está relacionada à forma como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida e, consequentemente, como equilibra suas ideias e emoções.

Viver é ter experiências boas e ruins, portanto podemos definir que uma boa saúde mental contempla, entre outros pontos, a habilidade de manter bem-estar e harmonia mesmo em momentos de adversidades, conflitos e diante das próprias deficiências.

  Foto: André Mello

A importância de manter o equilíbrio mental na pandemia

Após mais de um ano de pandemia, a saúde mental e o equilíbrio viraram fatores essenciais para a qualidade de vida.

Mesmo com a esperança trazida pelas vacinas contra a Covid-19, saiba que é normal sentir-se mentalmente cansado, assim como ter momentos de tristeza e desânimo.

Assim, devemos pensar na nossa saúde mental como a metáfora de um equilibrista: em algum ponto, você vai desequilibrar, mas logo retornará ao equilíbrio e continuará seguindo em frente.

  Foto: André Mello

Como reduzir o estresse mental se trabalhando presencialmente

Proteja-se ao máximo com as medidas já conhecidas, como uso de máscara de boa qualidade (como as PFF2 ou N95), higiene constante das mãos, evitando levá-las aos olhos, boca e nariz, e fuja de aglomerações.

No trabalho, se puder, procure um ambiente arejado e de preferência a 1,5m de distância dos demais.

Para aliviar o estresse: evite o excesso de informação, principalmente de fontes não confiáveis, e aproxime-se virtualmente de pessoas positivas, que sejam suas referências e que lhe façam bem.

Ao fim do dia, relembre coisas boas e agradeça por elas: a gratidão tem um grande impacto positivo na redução do estresse.

  Foto: André Mello

Como reduzir o estresse mental se trabalhando em home office

Muitas vezes, a falta de um ambiente adequado para o trabalho em casa gera estresse. Organizar a rotina é fundamental: trabalhe na hora de trabalhar, descanse na hora de descansar.

Monte uma rotina diária e se esforce para segui-la. Anote o que precisa ser feito dentro do expediente e estabeleça prioridades.

Na medida do possível, faça as coisas mais importantes primeiro, pois, ao longo do dia, a energia vai diminuindo.

Evite fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo, pois isso cansa o cérebro mais rapidamente. A cada duas/três horas, faça pequenas pausas de cinco minutos.

  Foto: André Mello

Saiba como montar um local de trabalho mais produtivo

Um ambiente de trabalho adequado melhora muito o bem-estar emocional, o que impacta positivamente na produtividade.

Prefira ambientes mais silenciosos, com iluminação natural e boa circulação de ar.

Deixe a mesa e o espaço à sua volta bem organizados — o cérebro precisa fazer um esforço maior para raciocinar em ambientes bagunçados.

Se você trabalha sentado com computador, vale investir em uma cadeira confortável e, de preferência, giratória e com regulagem de altura, facilitando os movimentos e acomodação.

Mantenha o monitor na altura dos olhos e o teclado um pouco abaixo da altura dos cotovelos.

  Foto: André Mello

A importância do contato com os colegas de trabalho (mesmo à distância)

O trabalho não está relacionado somente às atividades laborais, mas também à manutenção das relações sociais de uma pessoa.

Por isso, é importante manter o contato com colegas de trabalho, mesmo com a dinâmica do home office, pois ajuda a minimizar o peso do distanciamento social.

Aproveite as reuniões virtuais para ver o rosto e ouvir a voz dos seus colegas. Isto traz uma sensação maior de proximidade.

  Foto: André Mello

Como estabelecer uma rotina menos estressante para você

Corpo e mente gostam de rotina. Saber exatamente o que precisa ser feito e quando diminui o estresse.

Alguns pontos são fundamentais: sono de qualidade; a prática de atividade física pelo menos três vezes por semana (procure profissionais de educação física ou treinos virtuais); uma alimentação saudável; um momento de lazer e relaxamento (que tal meditação?); e atividades “offline”.

Mantenha contato virtual com pessoas amadas e separe um tempo para seu/sua companheiro(a) e filhos.

Divida os afazeres domésticos pelos dias da semana e distribua tarefas entre membros da casa.

Evite álcool e drogas lícitas ou ilícitas, pois seus efeitos geram uma sobrecarga no corpo e na mente, além do risco do vício.

  Foto: André Mello

Como criar uma rotina menos estressante para as crianças

As crianças também estão estressadas com as mudanças provocadas pela pandemia. Para ajudar a reduzir a tensão, elas também precisam de uma rotina.

É importante estabelecer horários para acordar, dormir, comer, estudar, divertir-se e passar tempo com os pais.

O cronograma deve ser feito em comum acordo com a criança/adolescente para que o seu cumprimento seja harmônico.

As crianças também precisam de um ambiente adequado para estudar em casa. O ideal é que os adultos se revezem no cuidado das crianças pequenas.

Incentive atividades divertidas e silenciosas enquanto os pais trabalham, como desenho, pintura, massinha, colagem etc.

  Foto: André Mello

A importância do sono

Já percebeu que um celular fica com as funções limitadas quando está com pouca bateria?

O mesmo acontece com o seu corpo! Um adulto precisa dormir, em média, de 7 a 8 horas diárias para recarregar as energias.

Dormir bem faz você ficar mais atento às situações do dia a dia e ajuda a raciocinar melhor.

Uma noite ruim de sono deixa você mal humorado, menos empático, mais suscetível ao estresse e à irritabilidade, além de diminuir seu autocontrole.

Para dormir bem, pratique atividades físicas no dia, faça a última refeição pelo menos duas horas antes de se deitar, tome um banho morno, desconecte-se de telas uma hora antes de ir pra cama e durma em um ambiente escuro, silencioso e fresco.

  Foto: André Mello

Entenda como a natureza pode ajudar

Uma plantinha em cima da mesa de trabalho não é um mero item de decoração. As cores, a textura e o cheiro das plantas nos ajudam a relaxar.

Além disso, cuidar delas é um ótimo recurso terapêutico. Se você não pode passar o período de isolamento no “meio do mato”, traga o ambiente verde para dentro da sua casa.

Se não tiver muita prática com as plantas, comece com cactos e suculentas, que demandam menos cuidados.

Mas, se por algum motivo você não puder ter plantas em casa, vale investir em um papel de parede com estampa de folhagem ou trocar o descanso de tela/imagem de fundo do computador ou celular para uma foto de natureza.

  Foto: André Mello

Saiba identificar os sinais de que algo não vai bem

Pequenas alterações em nossa rotina e comportamento já podem acender o sinal de alerta para o adoecimento mental.

Por exemplo, mudanças na rotina de sono e alimentação, para mais ou para menos, aumento da irritabilidade, falta de concentração e perda de interesse nas atividades antes consideradas prazerosas já podem indicar que algo não vai bem com a saúde mental.

Se o sentimento de tristeza ou o desânimo estão influenciando negativamente o seu trabalho ou seus relacionamentos, é preciso pedir ajuda.

  Foto: André Mello

A importância de procurar ajuda

Procurar ajuda psiquiátrica e psicológica logo ao perceber as primeiras alterações é fundamental, pois quanto mais cedo se começa o tratamento, melhor é o prognóstico.

A demora em buscar atendimento pode significar a piora de quadros que antes seriam tratados de forma mais simples, aumentando a complexidade do acompanhamento médico/psicológico.

As doenças psiquiátricas possuem manifestações de leves a graves, e a intervenção precoce pode impedir o avanço dos sintomas e, consequentemente, a perda da qualidade de vida daquela pessoa. Procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem.

  Foto: André Mello

Onde procurar ajuda sem pesar no bolso

A maioria dos cursos de graduação em psicologia de universidades públicas e privadas oferecem atendimento gratuito ou a preço popular, assim como há ONGs e outras instituições que também ofertam esse tipo de serviço a preços acessíveis.

Veja alguns:

SPA Estácio

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade Estácio de Sá oferece atendimento gratuito realizado por alunos e professores de vários campi espalhados pelo Brasil. A marcação deve ser feita pelo e-mail do campus mais próximo de você, veja aqui algumas unidades.

SPA Uniabeu

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Uniabeu também oferece atendimento gratuito. Para se cadastrar e agendar uma consulta, ligue (21) 2104-0450 e peça para transferir para o 247.

SPA UVA

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade Veiga de Almeida oferece consultas a preços populares, que variam de R$ 2 a R$ 50. Para receber atendimento da unidade Tijuca, basta mandar um e-mail para spa@uva.br.

PUC-Rio

A Clínica de Psicologia oferece atendimentos em várias abordagens com valor social de R$ 1 a R$ 50, que varia de acordo com a renda do paciente. O contato é pelo WhatsApp: (21) 99328-2539.

Terapia pra todos

O projeto conecta pessoas que precisam de psicoterapia e profissionais que atendem com valor social. Inscrições no site www.terapiapratds.com.

  Foto: André Mello

Não fique calado (como enfrentar o tabu)

Enquanto um assunto é mantido em segredo por causa de vergonha ou medo, ele continua sendo um tabu.

Por isso, é importante que as pessoas que tenham sido diagnosticadas com algum transtorno mental conversem sobre o tema com pessoas de sua confiança.

Externar seus sentimentos ajuda as pessoas em volta a entenderem melhor o seu quadro, e isso gera empatia.

Cada vez mais, doenças como a depressão estão perdendo o estigma e sendo mais bem compreendidas pela sociedade.

As empresas têm um papel muito importante no enfrentamento à psicofobia, que é o preconceito contra os portadores de transtornos mentais.
É essencial que empregadores invistam em iniciativas em prol da saúde mental de seus colaboradores para combater o preconceito com funcionários que apresentam quadro psiquiátrico.

Fontes: Antônio Geraldo da Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, e Dulce Pereira de Brito, coordenadora médica de Saúde Populacional do Einstein.

Reportagem: Evelin Azevedo. Ilustrações: André Mello. Diagramação: Pablo Tavares. Edição: Flavia Martin.

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