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Banho de São João de Corumbá se torna ‘Bem Cultural do Brasil’

Por LÚCIO BORGES - CORRESPONDENTE MS

CAMPO GRANDE | CORUMBÁ (MS) – Mato Grosso do Sul tem inúmeras belezas naturais como o Pantanal, Bonito, Jardim, Serra da Bodoquena, o Cerrado e muitos outros municípios com rios, cachoeiras e matas. Mas, o Estado também tem sua Cultura e seu povo com seus costumes, tradições e eventos populares, como Carnaval e o Banho de São João-festa junina de Corumbá, que agora é Patrimônio Cultural do Brasil. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), colocou a festividade Sul-mato-grossense no rol brasileiro de ‘festas e eventos’.

Conforme divulgação ou anuncio do  Iphan, o Brasil que tem as festas do povo, que são muitas e se tornam “patrimônios culturais”, agora, a partir deste mês de Maio, ganha mais uma e que fica em um dos municípios mais antigos de MS. O novo Patrimônio Cultural do Brasil, é a festividade que congrega o culto a São João Batista e ao orixá Xangô e reúne a população com fé e alegria no sincretismo religioso-cultural do “Banho de São João”, da Cidade Branca -Corumbá.

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado do Iphan, reconheceu, por unanimidade, o Banho de São João de Corumbá e Ladário (MS) como Patrimônio Cultural do Brasil, sendo inscrito no Livro de Registro das Celebrações. A festividade que congrega o santo católico e ao orixá, reunindo a população a 100 anos, teve o reconhecimento, e passa a ser acautelado pelo Iphan. O Instituto trabalha e é quem faz e atuará na salvaguarda da festa, coordenando a execução de políticas públicas para a reprodução e sustentabilidade da manifestação.

Também conhecido como festa junina no Pantanal, o Banho de São João, tem um roteiro que inclui a decoração de altares e andores, queima de fogueiras e realização de oferendas, além de rezas e terços, giras em terreiros e levantamento de mastros. Na passagem do dia 23 para 24 de junho, a população se dirige às margens do Rio Paraguai para realizar, assistir e participar do ritual do banho. Em Corumbá, o banho acontece no Porto Geral e, em Ladário, no Porto Ladário. Esse é o ápice da celebração pública, para onde convergem as festas das casas e dos terreiros localizados na região pantaneira do MS, às margens do Rio Paraguai. Os municípios que são vizinhos, ficam a 350 km da capital Campo Grande.

Importância

O diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan, Tassos Lycurgo, disse que a importância do registro é muito grande, porque coloca a festividade no cenário nacional, e faz com que haja agora políticas de salvaguarda do bem que foi registrado. “É uma importância central, inclusive para o desenvolvimento do local, para o aprimoramento das práticas que são realizadas no local”, disse Lycurgo.

Lycurgo ressalta que registrar não significa simplesmente dar um título. “O registro, acima de tudo, é a implementação de uma política pública. Não adianta sair registrando. A gente registra quando, efetivamente, pensa a forma de salvaguardar o bem registrado”.

Ele explicou que o registro pressupõe a implantação da política pública. “Nós estamos reforçando isso para que, já na análise prévia do registro, haja um aprofundamento maior dos métodos e formas com os quais nós poderemos salvaguardar os bens”. Trata-se de uma obrigação compartilhada entre os entes públicos e a própria sociedade. “Com parcerias e estratégias criativas, estamos aumentando as possibilidades de salvaguardas dos bens registrados”.
O planejamento do Iphan prevê registrar quatro bens imateriais este ano e mais cinco em 2022. Ele disse que a meta, em quatro anos, é atingir 60 bens registrados. Atualmente, incluindo o Banho de São João, já são 49 bens registrados.

Sem banho público devido a Covid 19

Em função da pandemia do Covid-19, o Banho de São João vem sendo realizado desde o ano passado apenas em âmbito doméstico. Novenas, terços, alvoradas e levantamento de mastro são promovidos em cada residência, limitando-se o acesso à comunidade e evitando aglomerações. O próprio banho na imagem do santo é feito dentro das casas, em bacias ou tanques.

Para o festeiro Alfredo Ferraz, o registro contribui para a valorização do Banho de São João e do Arraial do Banho de São João. “É um ganho imenso. Com o registro nacional, há mais visibilidade para uma festa que precisa ser conhecida, pois é realizado somente na região. O Brasil precisa conhecer, o mundo precisa conhecer. O registro é uma emoção porque, quando começamos a montar o processo, era só um sonho. Para os festeiros e devotos, hoje é uma grande vitória”, disse o devoto festeiro.

Processos

Em 2010, houve o reconhecimento da Celebração Banho de São João de Corumbá como Bem Cultural de Natureza Imaterial do estado do Mato Grosso do Sul, foi solicitado ao Iphan reconhecimento em esfera federal. Estudos realizados a partir de 2014 apontaram a necessidade de se ampliar o recorte espacial, incluindo o município de Ladário, onde a tradição também é realizada, informou o Iphan, por meio de sua assessoria de imprensa.

Em 2018, o Iphan firmou parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) para dar prosseguimento ao dossiê do Banho de São João. O trabalho contou com incursões a campo para acompanhar a preparação da festa, resultando em inúmeras entrevistas, sendo 25 delas gravadas com festeiros, devotos e autoridades religiosas e político-administrativas. O registro de bens culturais de natureza imaterial foi instituído pelo Decreto 3.551/2000.

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