Indagada em uma entrevista, aos 24 anos, como imaginava que estaria 30 anos depois, Claudia Raia disparou sem meias palavras: “Vou estar acabada, me rastejando”. Três décadas depois, revendo as imagens do programa Roda Viva, ela se diverte e deixa claro que é totalmente o oposto do que pensava. No Conversa com Bial, a atriz revelou: “Estou bem melhor, muito mais alegre, potente, versátil, tenho mais ferramentas, repertório, então, esses anos abriram as portas para mim, começou o segundo ato da minha vida, sabe, que é sempre melhor do que o primeiro. E ainda tem o grand finale, inúmeras situações pela frente. Realmente resolvi levantar a bandeira dessas mulheres dos 50 +, que ao olhar dos outros se parou de fertilizar, parou de existir. E absolutamente não é verdade. É aí que começa o seu momento. Você já foi mãe, esposa, pode recasar com a mesma pessoa ou com um marido novo, ter novos filhos. Hoje, mulheres mais maduras também podem engravidar, então, tudo isso junto, misturado te dá uma potência”.
E prosseguiu com um alerta: “Quem é a grande consumidora do mundo hoje? A mulher de 50 +. Essa mulher tem o poder aquisitivo. O mercado publicitário brasileiro tem um pouco de dificuldade de entender isso…O país está envelhecendo e a gente está em passos lentos, mas estou aqui com a bandeira erguida”, observou.
No programa global, Claudia relembrou histórias marcantes de sua vida que estão relatadas no livro de memórias Sempre Raia Um Novo Dia, lançado em novembro do ano passado, simultaneamente com outra obra, a fotobiografia Raia. O jornalista Pedro Bial frisou trecho do prefácio escrito por Miguel Falabella, no qual o ator, autor e diretor ressalta que Claudia tem prazer na disciplina. “Eu acho que tudo na vida se aprende. Você se tornar uma profissional da dança, principalmente no Brasil, é muito árduo, é uma carreira difícil, dolorida dos pés a cabeça. Costumo brincar que quando você coloca o pé para fora da cama e não sente nada, você pode ter certeza de que desencarnou, porque alguma dor vai acompanhar em algum momento do dia. Minha mãe (Odette Motta Raia, que morreu em 2019, aos 95 anos) sempre foi rigorosa, disciplinadora. Ela foi minha grande mestra. Ela me ensinou de uma maneira muito rígida, como a dança, tem que ser. Isso serviu para muitas situações, inclusive, na minha carreira de atriz. Sem a disciplina, eu não teria feito a carreira que fiz”, frisou.
Em 1979, aos 13 anos, Claudia foi sozinha para Nova York, estudar dança. Nos Estados Unidos, sofreu duas tentativas de estupro. “Venho de família extremamente feminista. Na época, a gente não falava tanto de feminismo, mas a gente dizia que eram mulheres que vestiam as calças e nós éramos essa mulheres. Minha mãe era muito moderna. Todos os dias, me ensinou: ‘Não permita que ninguém faça com você aquilo que você não quer, não permita que homem nenhum dite as regras da sua vida.’ Isso fazia parte da minha educação. O primeiro assédio foi no apartamento de um coreógrafo, onde eu fui morar, porque minha mãe tinha total confiança nele, que dava cursos na academia que ela teve durante 30 anos…Quando ele veio com a mão e me deitou e veio para cima de mim, bati na cabeça dele uma coruja de cristal e saí nas ruas do Harlem sozinha”, lembrou.
Por sorte, na rua, foi reconhecida por uma antiga professora de dança. “Em outro momento, na rua, estava indo ver o musical A Chorus Line, fui assediada por outra pessoa que me jogou no chão, veio em cima de mim, só que eu gritei e a polícia veio a tempo”, contou.
Aos 16 anos, quando retornou ao Brasil, após passar dois anos trabalhando em Buenos Aires como bailarina e dançarina, Claudia conseguiu o papel de uma mulher de 40 anos na montagem brasileira de A Chorus Line. “Esse poder de persuasão eu tenho certeza que veio da minha feiura. Sempre fui uma criança feia e minha irmã muito bonita. Tive que desenvolver um poder de persuasão. Tinha que ser carismática e induzir as pessoas através da minha comunicação. Autoconfiança não é exatamente a palavra, eu trocaria por cara de pau, porque quando vi pela primeira vez A Chorus Line, descobri que eu não queria ser só bailarina. Queria cantar, dançar e representar”, ressaltou, com bom humor, no programa.
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