Dia do Enfermeiro: profissionais no AC lutam contra pandemia, falta de piso e jornada abusiva

Cerca de 70% de todos os procedimentos hospitalares realizados no Acre são feitos pelas mãos de um enfermeiro. Na atenção primária, esse número pode chegar a 80%. No Dia da Enfermagem e do Enfermeiro, a reportagem do ContilNet teve acesso a esses dados em conversa com o vereador Adailton Cruz (PSB).

Adailton já foi presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) no Acre, além de ser membro do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Como vereador, ele conta que a luta é maior: a categoria precisava de representatividade no Legislativo.

“Temos projetos importantes, como o PL 2564/2020, que estabelece a redução da jornada de trabalho e o piso salarial dos profissionais de enfermagem. Infelizmente, por falta de representatividade, pautas como essas acabam sendo preteridas. Nosso desafio é ganhar notoriedade e apoio em todas as escalas: federal, estadual e em todos os municípios do Acre”, relata.

Profissionais de saúde querem piso salarial e jornada de trabalho definida. Foto: Reprodução

Os mais de 8.800 profissionais que trabalham hoje no Acre – como explica o vereador – não possuem um piso salarial definido (por este motivo, leva-se em consideração o salário mínimo praticado) e nem jornada definida (leva-se em consideração, nesse caso, a carga horária de 44hs semanais previstas na CLT – Consolidação das Leis do Trabalho). A realidade vai de contramão a maioria das profissões da área de saúde, como médicos, fisioterapeutas, e outros.

Os profissionais sentem na pele. Iara Jaccoud, que atua na linha de frente que combate à Covid-19, conta que esse cenário já era desafiador antes mesmo da pandemia que assola o mundo. “Em se tratando de saúde pública, o cenário já era difícil antes mesmo da pandemia da Covid-19, posto que “déficit de profissionais, escalas defasadas, falta de insumos, etc.” já existia. A Covid-19 expôs tais dificuldades em potencial mais elevado. E somando-se a isto, agora temos o “receio” ou “medo” pelo fato de estarmos na linha de frente, lidando com pessoas sem saber se estão contaminadas pela Covid-19”, conta, em conversa com a nossa reportagem.

Iara Jaccoud, que atua na linha de frente que combate à covid-19/Foto: arquivo pessoal

Para Iara, ainda que os profissionais adotem os diversos protocolos, o risco de contaminação é uma realidade vivida diariamente. “Vivemos na iminência de sermos contaminados (ainda que estejamos, na maioria, vacinados) e transportar para dentro de nossos lares essa terrível doença. A expectativa é que as autoridades constituídas possam realmente gerenciar da melhor forma possível os recursos voltados ao combate da Covid-19, para que o mais breve possível possamos ter dias melhores. Com fé em Deus e os devidos cuidados, vamos vencer a pandemia”, desabafa.

Equipes do Coren-AC e RO e fiscais da Força Nacional de Fiscalização realizando uma série de ações no estado. Foto: Assessoria

E toda essa realidade é vivida por profissionais que precisam de reconhecimento. “A aprovação do PL 2564/2020 além de regular a carga horária de trabalho, também dá isonomia, em âmbito nacional, ao piso salarial desta categoria. Daí a importância para todos os profissionais envolvidos (Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem, Auxiliares de Enfermagem e Parteiras), que se doam sem reservas ao ofício da enfermagem, pondo em sacrifício o convívio familiar e até social, a fim cuidar com responsabilidade daqueles que nos confiam o seu bem maior que é a vida”, opina Iara sobre a Proposta, que tramita no Senado e, no Acre, já recebeu apoio da senadora Mailza Gomes (Progressistas).

Dessa forma, melhor do que uma felicitação ao Dia do Enfermeiro, Iara desabafa: quer a aprovação da lei que vai dar garantias à categoria mais exposta na pandemia dentro dos hospitais. “É uma forma de reconhecer e compensar os sacrifícios empregados por parte dos profissionais de enfermagem, ainda mais neste cenário pandêmico no qual vivemos. Não bastam os aplausos dados por muitos, precisamos da aprovação desse Projeto de Lei. É uma questão que garante o mínimo de dignidade humana aos profissionais envolvidos”, finaliza.

Semana de conscientização

Para chamar a atenção das autoridades e sociedade e trazer à discussão o projeto de lei que ganhou destaque nesta semana, Adailton conta, ainda, que alguns atos estão programados para esta semana. A “Semana da Enfermagem” quer trazer para os acreanos a realidade da categoria e os riscos que eles enfrentam, diariamente.

“Na Semana da Enfermagem, vamos chamar a atenção da sociedade. Fomos os profissionais que mais adoeceram e que jamais saíram da linha de frente. Principalmente na pandemia. Para esta sexta, temos uma carreata programada, que finaliza no Palácio Rio Branco. Queremos o apoio das autoridades e da população”, relata.

Carreata acontece na sexta (14) e o ponto de saída será no Lago do Amor. O início está programado para às 8h.

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