Por muitos anos, o Manoel Julião foi tido como modelo de conjunto habitacional em Rio Branco. Muitos sonhavam com a moradia em um dos apartamentos com dois quartos, sala e cozinha. Esteticamente, os prédios de três andares dispostos em sequência, na época novidade na capital, atraíam a atenção de quem circulava pelo entorno.
Passados quase 33 anos de sua entrega, hoje o bairro amarga, segundo moradores, a decadência e o abandono, a exemplo de outras localidades de Rio Branco. A maior reclamação é sobre o saneamento básico. É comum caminhar pelas ruas do Manoel Julião e cruzar com bueiros a céu aberto e esgoto invadindo as pistas e calçadas.
O problema atinge até mesmo órgãos públicos situados no bairro, como é o caso da Fundação Garibaldi Brasil (FGB), ligado à prefeitura. Em frente e ao lado do órgão jorra resquícios de um esgoto localizado no entorno, provocando sujeira e mau cheiro.
Outra queixa é sobre o abastecimento de água nos apartamentos. Quem vive nos últimos andares sente o problema de forma mais intensa porque as bombas, antigas, não conseguem mais puxar a água até o topo dos prédios.
A servidora pública Amayra Cris morava no bairro até o ano passado e conta que se o prédio não tiver poço o abastecimento fica escasso. Além disso, segundo ela, a coleta de lixo é precária. “Vários prédios não têm aquelas lixeiras grandes, daí os entulhos ficam no meio da rua ou no pátio dos estacionamentos”, critica.
“Não tem organização em relação a síndicos, não há uma norma que trate sobre pagamentos de condomínio para comprar as coisas que precisam, como bombas d’água novas, por exemplo”, continua.
Um outro morador que não quis se identificar denuncia o abandono dos prédios por parte do poder público. Segundo ele, toda a manutenção predial é custeada pelos populares, inclusive a pintura externa.
“O poder público não faz. Se você quiser um prédio mais arrumado tem que se juntar com os demais moradores e tirar o dinheiro do próprio bolso. Tudo lá somos nós que fazemos. Do contrário, a parte externa das moradias fica abandonada, inclusive sem limpeza”.
Ele reclama ainda da criminalidade. “É um conjunto que fica no entorno de bairros violentos e de vulnerabilidade social. E isso acaba respingando na gente também, sobretudo com roubos e assaltos”.
“Melhorou muito”
De acordo com o presidente do bairro, Jordan Araújo, o Manoel Julião vem passando por melhorias importantes nos últimos anos. Ele reconhece que a maior dor de cabeça é em relação ao saneamento, mas ressalta que a limpeza e a pavimentação do bairro estão em dias, com coletas diárias, o que outras localidades de Rio Branco não têm.
“Não somos privilegiados, mas acontece que o Manoel Julião é tipo um mini-centro, com mais de 70 comerciantes, escolas, praças, mercados, igrejas. Temos tudo ali e por isso se faz necessário um reforço nas intervenções”.
Ele disse que no seu mandato mais de 400 garagens abandonadas foram derrubadas e no lugar foram levantadas outros espaços padronizados, com o número dos apartamentos. “Já chegamos a registrar até estupro naquelas garagens. Hoje a situação está bem mais tranquila. O policiamento não é 100%, mas se compararmos com outros bairros a nossa realidade é até tranquila em relação à segurança. Não temos mais problemas com facções”.
Ele ressaltou que, conforme previsto na legislação, a Companhia de Habitação do Estado do Acre (Cohab) deixou de ser responsável pela manutenção dos prédios após 25 anos da entrega das moradias e que após esse tempo são os moradores que ficam responsáveis pela função. Entre as ações que agora são de responsabilidade dos populares são iluminação, limpeza, pintura, entre outros.