Sequestradores mandam foto de orelha cortada para exigir resgate

Durante as horas em que motorista de 30 anos foi mantido em cativeiro por quadrilha especializada em roubo de caminhões, neste fim de semana, em Campo Grande, o patrão dele foi chantageado e recebeu até fotos de uma orelha cortada como se fosse do funcionário sequestrado. Os bandidos pediram R$ 7 mil para liberar a vítima.

O sequestro aconteceu no fim da tarde de sábado (8), na região da MS-040 – entre Campo Grande a Sidrolândia – e terminou com três pessoas presas na madrugada de ontem: Edelson Padilha Conceição, 36 anos, o responsável por levar o caminhão roubado para a fronteira, Marcia Paschoala Espírito Santo, 43,  a líder da quadrilha, e o primo dela, Gemerson Matheus, de 26 anos.

Todos foram pegos em ação conjunta entre PRF (Polícia Rodoviária Federal) e Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Em depoimento, o proprietário do veículo explicou que no sábado alguém entrou em contato contratando a empresa para fazer frete de Campo Grande até Nova Alvorada do Sul. Imediatamente, disse, avisou um dos seus motoristas, que saiu da cidade em direção ao ponto de encontro com o cliente, uma fazenda às margens a MS-040.

Durante todo o tempo ficou em contato com o motorista e com o suposto cliente. Neste tempo, o contratante chegou a pedir dinheiro para o empresário, primeiro R$ 60 e depois R$ 80, sempre afirmando que devolveria junto com o pagamento do frete. Ele enviou os valores.

Depois de o funcionário avisar que estava na frente da fazenda, o patrão perdeu o contato com ele. O “cliente”, por outro lado, continuou a conversar, solicitando um terceiro depósito, de R$ 150. Neste momento, o motorista voltou aparecer e por mensagem de áudio alegou que o motor do caminhão estava esquentando. Como o veículo é novo e não tinha problemas mecânicos, o empresário começou a desconfiar da situação.

Na esperança de encontrar o funcionário ou “cruzar” com ele na rodovia, pegou a estrada com destino a Campo Grande, mas não o encontrou. Decidiu então avisar a polícia. Fez contato primeiro com a PRF e foi orientado a procurar a Polícia Civil. Foi até a delegacia de Nova Alvora e registrou um boletim de ocorrência.

O suposto cliente continuou ligando e perto das 2 horas de domingo confirmou o sequestro. A partir daí os bandidos passaram a exigir dinheiro para soltar a vítima.

Mandaram fotos do motorista sentado no meio do mato, com os olhos vendados e pediram transferência de R$ 7 mil para liberá-lo.

Nas supostas negociações, os bandidos chegaram a enviar foto de uma orelha cortada e afirmaram que era do funcionário sequestrado. Por causa do horário, o empresário não conseguiu mandar todo o dinheiro, mas enviou R$ 1 mil para a quadrilha. Em troca, recebeu mais imagens do motorista no cativeiro.

Horas depois, recebeu ligação do próprio funcionário avisando que havia sido liberado. O veículo foi recuperando antes mesmo do resgate, na cidade de Miranda. Lá aconteceu também a primeira prisão, de Edelson Padilha Conceição.

FOTOS: CAMPO GRANDE NEWS

Como foi – Após ser liberado, o motorista contou detalhes do sequestro e do tempo que passou em cativeiro. Contou que foi rendido por um homem armado e duas mulheres, que foi forçado a entregar a camiseta de uniforme que vestia, que foi vendado e mantido por um tempo em um matagal. Depois foi levado, dentro do porta-malas de um carro, para uma casa, onde ficou horas trancado em um quarto, sendo vigiado por um casal. Já de madrugada foi deixado na rua com a orientação de “correr e não olhar para trás”.

As prisões – Depois que o crime foi denunciado pelo empresário as equipes policiais passaram a monitorar as rodovias e o Batalhão de Choque a procurar pelo motorista na região de Campo Grande.

A primeira ação foi a prisão de Edelson Padilha. Ele confessou ter presenciado todo o sequestro. Contou que foi contratado por Márcia para levar o caminhão roubado até Corumbá e que para isso receberia R$ 5 mil. Afirmou também que possui uma dívida com um agiota e estava sendo ameaçado de morte, por isso aceitou participar do crime, mas que não era a primeira vez que ajudava o grupo criminoso.

Durante a prisão, os policiais descobriram que Edelson recebeu R$ 500 de Gemerson Matheus para custear a viagem até a fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia e repassaram a informação para os policiais do Batalhão de Choque. Em Campo Grande, os militares descobriram o endereço do suspeito e o prenderam em flagrante.

Gemerson negou o crime e afirmou que atendeu um pedido de empréstimo da prima, Marcia Paschoala Espírito Santo, por isso fez a transferência. A mulher também acabou detida. Conforme informações preliminares, ele é a responsável por organizar o crime, contratar os envolvidos e arrumar a casa usada como cativeiro. Entre os bandidos é conhecida como “Madrinha do PCC”.

Márcia não quis prestar depoimento na delegacia, mas em um primeiro momento alegou que organizou o crime para pagar uma dívida com a facção criminosa. A mulher é mãe de sete filho, os dois mais novos – meninas de 2 e 5 anos – ainda moraram com ela e por isso foi liberada da prisão em flagrante na manhã desta segunda-feira (10).

Em audiência de custódia o juiz levou em consideração a situação da família de liberou a mulher da prisão com uso de tornozeleira eletrônica. Já os dois homens tiveram a prisão preventiva decretada e permanecem na cadeia.

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