“Como vai você, eu não quero saber da sua vida”, cantarola Sérgio Reis, 80, ao atender o telefone para a entrevista desta reportagem –e mudando um pouco a letra da música de autoria dos irmãos Antônio Marcos (1945-1992) e Mário Marcos. “Tirando as dívidas, o resto vai bem”, diz ele, em tom de brincadeira, na sequência.
Em 50 minutos de conversa, em meados de abril, o cantor sertanejo de “Panela Velha” e “Pinga Ni Mim” faz outras piadas, defende fervorosamente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e revela planos.
Artisticamente, o maior deles é o lançamento de um novo álbum com grandes sucessos e recheado de parcerias. Uma delas é com Zé Ramalho na música “Admirável Gado Novo”.
“É disco para ganhar Grammy”, avisa o cantor, que recebeu quatro vezes o prêmio de melhor álbum sertanejo (é o maior vencedor da categoria), sendo a última com “Amizade Sincera 2”, em parceria com Renato Teixeira e lançado em 2015.
O outro projeto é voltar à política. Sérgio Reis quer se candidatar a deputado federal em 2022.
Sairá pelo mesmo partido que disputou e ganhou em 2014, o PRB (Partido Republicano Brasileiro). Sua motivação, afirma, é investir em saúde.
Esse foi também o seu foco quando exerceu o cargo entre 2015 e 2018. Diz não ter destinado verbas a prefeitos para construção de pontes ou outros serviços que não tivessem relação com a área.
“Eu quero saber deles [prefeitos] como está a ambulância da cidade, o posto de saúde, só quero saber disso. Eu sei que a saúde é carente no Brasil, você está vendo agora.”
Durante a pandemia, o artista se isolou com a mulher, Ângela Márcia, em sua casa na Serra da Cantareira, em São Paulo.
“Aqui é grande, tenho mata, tenho um lugar que fiz para pôr comida para os papagaios, para os saguis virem comer aqui na minha mão. Ficar assim é bom, o duro é esse povo que fica em apartamentinho com duas, três crianças.”
“Então, eu sou uma pessoa até feliz”, complementa. Por outro lado, o cantor se mostra preocupado com a situação dos músicos e técnicos que trabalham nos bastidores de shows.
Diante disso já fez algumas lives com o objetivo de ajudar essas pessoas. “Está todo o mundo morrendo de fome. O negócio é esse.”
Defensor ferrenho de Jair Bolsonaro (sem partido), logo no início da entrevista, avisa que considera o presidente como um irmão.
“Se falar mal dele, não fala mais comigo”. “Ele é como eu, italiano, malcriado e fala o que tem que falar.”
Em outro momento, ao ser perguntado se o presidente tem uma conduta adequada na pandemia, afirma que Bolsonaro “fala pelos cotovelos”.
Mas diz que o político “acabou com a mamata” e já fez muito pelo país. Relata ainda que o governo federal teria montado um laboratório secreto com especialistas do mundo inteiro para o desenvolvimento de vacinas que será revelado em breve.
Sérgio Reis tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19, do laboratório AstraZeneca/Oxford, no início de março. Vai receber a segunda dose do imunizante na próxima quinta (27).
Assim como o governo de Bolsonaro, ele defende o tratamento precoce da Covid com a invermectina, apesar de estudos não apontarem benefícios do uso do remédio contra a doença.
Apesar da adesão ao bolsonarismo, o cantor faz questão de ressaltar que se “dá bem com todos” e elogia o trabalho das deputadas de partidos de esquerda Luiza Erundina (PSOL-SP), Benedita da Silva (PT-RJ) e Jandira Feghali (PC do B – RJ).
Afirma ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é seu fã e que ele o ajudou, quando presidente do país, na liberação de recursos para o Hospital do Amor, em Barretos (SP), referência no tratamento de câncer.
Opina, por sua vez, que a esquerda “não serve para o Brasil” e que o político não ganha de Bolsonaro em uma possível disputa em 2022.
“Não ganha nem para presidente do Corinthians, o Lula acabou, o PT acabou”, diz ele, completando que duvida das pesquisas que apontam o petista à frente do atual presidente. “Quem acredita nisso [as pesquisas] é idiota”.
No último levantamento realizado pelo Datafolha, divulgado em 12 de maio, Lula alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro.
NOVO ÁLBUM E PROGRAMA NA TV
Voltando a falar da carreira artística, Sérgio Reis afirma não ver a hora de retornar a se apresentar pelo país. “Quero voltar a fazer show. Se não, morro de fome.”
Sobre o novo álbum, que ainda não tem nome nem data de lançamento –”o mais rápido possível”, diz– o cantor revela que já está quase pronto e adianta algumas parcerias.
Com Maria Rita, ele canta “Romaria”, música que fez sucesso na voz de Elis Regina (1945-1982), mãe da artista.
“Admirável Gado Novo” tem a parceria do compositor da canção, Zé Ramalho, e “Planeta Água”, do seu autor Guilherme Arantes.
Algumas dessas parcerias surgiram, segundo ele, ao acaso. A participação de Ivan Lins, por exemplo, nasceu de um encontro casual de ambos no aeroporto Santos Dumont, no Rio, ainda antes da pandemia.
“Eu me dou bem com todo o mundo, ajudo todo o mundo, não tenho frescura. Não tenho vaidade nenhuma”, afirma. Paula Fernandes e a dupla Sá e Guarabyra também participam do álbum, revela ele.
De janeiro até o início de abril março deste ano, Sérgio Reis tinha um programa na Band, aos sábados pela manhã, em um horário comprado pela Castelo Branco Acqua Show, empresa que vende chalés e títulos em clubes de campo.
No Rancho do Serjão, ele recebia artistas para tocar moda de viola e contar causos.
Segundo o cantor, a atração foi planejada para durar um período curto de tempo.
Agora, ele diz que planeja, para ainda neste ano, um outro programa com a diretora Marlene Mattos. Não está fechado o canal que vai transmitir a atração.
“Nós estamos organizando para fazer uma coisa bonita e maravilhosa, com um bom patrocínio.”
A ideia, afirma, é viajar pelo país para conversar com artistas em diferentes estados.