Com 100% dos votos contabilizados, Castillo vence por 44 mil, mas Keiko ainda contesta resultado

LIMA — Com 100% dos votos da eleição presidencial de 6 de junho no Peru contabilizados no fim da tarde desta terça-feira, o candidato do partido Peru Livre, Pedro Castillo, um professor e sindicalista da esquerda radical, terminou com uma vantagem de 44.058 votos sobre a conservadora Keiko Fujimori, da legenda Força Popular.

Embora a apuração dos votos tenha terminado na semana passada, faltava o exame pelo Júri Nacional de Eleições (JNE) das mais de 700 atas com supostas irregularidades, como assinaturas inelegíveis. Essa verificação terminou hoje, confirmando a vitória de Castillo, que desde o fim de semana era numericamente irreversível.

O fujimorismo, no entanto, pediu ao JNE a anulação de mais de 800 atas eleitorais nos Andes e na Amazônia onde o Força Popular não obteve nenhum voto, recurso que pode demorar de duas a três semanas para ser julgado. Enquanto isso, lideranças e representantes de organizações indígenas vindos do interior se mobilizam em Lima, num movimento de contrapressão em favor de Castillo.

Em entrevista no início da tarde de hoje a correspondentes estrangeiros na capital peruana, o candidato rejeitou a ofensiva de Keiko:

— Continuam querendo enterrar uma eleição. Nós estamos esperando pacientemente um resultado. Não vamos permitir que continuem nos discriminando. O povo elegeu e isso deve ser respeitado — disse Castillo, que estava acompanhando de três especialistas em legislação eleitoral.

Na noite de domingo, enquanto os partidários de Castillo realizavam uma manifestação pelo sexto dia consecutivo diante do JNE, um ex-congressista ligado ao fujimorismo declarava na televisão que, se o tribunal não terminasse de analisar as centenas de pedidos de anulação feitos pelos fujimoristas até 28 de julho — data em que ocorrerá a mudança de comando no país — o presidente do Congresso deveria assumir o poder e convocar novas eleições.

A proposta foi rejeitada pelos especialistas, por não se enquadrar nos dois únicos fundamentos para a anulação das eleições, e disparou o alarme de que fujimorismo continuará a atrasar a proclamação dos resultados por meio de artifícios jurídicos.

— Viemos porque queremos a verdade, queremos já o resultado nacional das eleições. Somos as rondas camponesas de Puño, de onde vem o professor Pedro Castillo. Viemos de uma longa distância, pagando nossa própria passagem e nossos próprios recursos para defender nosso voto — disse Velia Elizabeth Guerrero, em Lima, na noite de domingo.

Algumas das seções eleitorais onde Keiko não conseguiu nenhum apoio ficam na região amazônica, onde vivem cidadãos indígenas, incluindo os wampís.

Em um comunicado, o Governo Territorial Autônomo da Nação Wampís rejeitou “categoricamente” o pedido da Força Popular de anulação de seus votos. “As mesas de votação foram legal e eficazmente instaladas nas comunidades da nação wampís, nas quais os e as wampís emitimos livre e voluntariamente, e sem qualquer tipo de coação, nosso voto no exercício do direito à participação política nas urnas, que se encontra reconhecido no marco jurídico nacional e internacional”, diz o documento divulgado no sábado.

Em uma conferência realizada por dirigentes camponeses e indígenas em Lima, conectados pela internet com aimarás do altiplano e apus (chefes indígenas) da Amazônia, eles se declararam em vigilância permanente para fazer valer seus votos e suas comunidades e organizações, se for necessário.

— Este é um jogo bruto da Força Popular, que confunde a população peruana. Com as declarações dos assessores fujimoristas, de conteúdo racista, dizem que a região serrana preencheu as urnas a seu gosto. Eles continuam a nos tratar como pessoas de segunda categoria em pleno século XXI. Estamos cansados disso: vimos ao longo de toda esta campanha o desprezo pelos povos indígenas. Se o voto rural não for respeitado, vamos avançar para uma medida de luta. Por enquanto vamos aguardar o resultado das anulações — disse Víctor Maita, presidente da Confederação Nacional Agrária e Pecuarista e camponês em sua terra, Cusco.

Em entrevista à televisão no domingo, o Prêmio Nobel de Literatura de 2010, o escritor Mario Vargas Llosa, renovou seu apoio à filha do autocrata Alberto Fujimori, como fez durante a campanha eleitoral.

— Estamos apoiando a senhora Fujimori porque não queremos a catástrofe que poderia acontecer se o senhor Castillo ganha as eleições, isso é uma coisa evidente para a imensa maioria dos peruanos, especialmente os peruanos das cidades, que estão mais informados do que o resto — disse.

O historiador José Ragas considera que a desqualificação dos eleitores de Castillo revela a ansiedade das elites de Lima por medo de perder o controle político. Segundo ele, essa ansiedade se manifesta de várias formas, desde reclamações legais de advogados até manifestantes com símbolos neofascistas. Tudo para buscar anular o voto de regiões que apoiaram maciçamente o Peru Livre, no caso, a serra”.

— Não é um fenômeno novo. É parte de uma tensão do início da República, quando o peso demográfico da população andina determinava quem era o presidente. Para anular isso, em 1896 eles estabeleceram o sufrágio direto e eliminaram o voto da população que não soubesse ler nem escrever. O resultado foi reduzir o universo de eleitores a homens adultos, urbanos, alfabetizados e culturalmente brancos — explica o professor, vinculado ao Instituto de História da Universidade Católica do Chile.

Algumas das seções eleitorais onde Keiko não conseguiu nenhum apoio ficam na região amazônica, onde vivem cidadãos indígenas, incluindo os wampís.

Em um comunicado, o Governo Territorial Autônomo da Nação Wampís rejeitou “categoricamente” o pedido da Força Popular de anulação de seus votos. “As mesas de votação foram legal e eficazmente instaladas nas comunidades da nação wampís, nas quais os e as wampís emitimos livre e voluntariamente, e sem qualquer tipo de coação, nosso voto no exercício do direito à participação política nas urnas, que se encontra reconhecido no marco jurídico nacional e internacional”, diz o documento divulgado no sábado.

Em uma conferência realizada por dirigentes camponeses e indígenas em Lima, conectados pela internet com aimarás do altiplano e apus (chefes indígenas) da Amazônia, eles se declararam em vigilância permanente para fazer valer seus votos e suas comunidades e organizações, se for necessário.

— Este é um jogo bruto da Força Popular, que confunde a população peruana. Com as declarações dos assessores fujimoristas, de conteúdo racista, dizem que a região serrana preencheu as urnas a seu gosto. Eles continuam a nos tratar como pessoas de segunda categoria em pleno século XXI. Estamos cansados disso: vimos ao longo de toda esta campanha o desprezo pelos povos indígenas. Se o voto rural não for respeitado, vamos avançar para uma medida de luta. Por enquanto vamos aguardar o resultado das anulações — disse Víctor Maita, presidente da Confederação Nacional Agrária e Pecuarista e camponês em sua terra, Cusco.

Em entrevista no início da tarde de hoje a correspondentes estrangeiros na capital peruana, o candidato rejeitou a ofensiva de Keiko:

— Continuam querendo enterrar uma eleição. Nós estamos esperando pacientemente um resultado. Não vamos permitir que continuem nos discriminando. O povo elegeu e isso deve ser respeitado — disse Castillo, que estava acompanhando de três especialistas em legislação eleitoral.

Na noite de domingo, enquanto os partidários de Castillo realizavam uma manifestação pelo sexto dia consecutivo diante do JNE, um ex-congressista ligado ao fujimorismo declarava na televisão que, se o tribunal não terminasse de analisar as centenas de pedidos de anulação feitos pelos fujimoristas até 28 de julho — data em que ocorrerá a mudança de comando no país — o presidente do Congresso deveria assumir o poder e convocar novas eleições.

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