Num diálogo recente, na sede do Tribunal de Justiça do Estado do Acre (TJAC), entre o desembargador Francisco Djalma, então presidente do Poder Judiciário, e o deputado estadual Jenilson Leite, na condição de vice-presidente da Assembleia do Poder Legislativo, o magistrado, ex-juiz em Tarauacá e em sabendo que o parlamentar vinha daquela cidade, quis saber sua origem e o que ele fazia na cidade.
– Eu estudava e trabalhava engraxando sapatos. Engraxei muito os seus sapatos em sua casa – disse, para a surpresa do magistrado, que não reconheceu o menino a cujos préstimos recorria quando queria lustrar sua coleção de calçados.
Esta é parte da história de um homem que tinha tudo para ser apenas mais um das centenas de milhares de acreanos que engrossam os bolsões de miséria do Estado. Mas, quis o destino e ele próprio que sua história de vida fosse escrita de outra forma.
Nascido no seringal Mucuripe, nas barrancas do rio Muru, distante cinco dias de barco do município de Tarauacá, o atual deputado estadual em segundo mandato, Jenilson Leite (PSB), aquele menino que tinha tudo para ser apenas mais um, hoje, médico infectologista com formação em Cuba, aos 43 anos de idade, casado com e pai de três filhos, tem algum orgulho do próprio passado.
Sua mãe era costureira e o pai agricultor, o perfil típico de acreanos pobres, ainda mais dos que vivem isolados nas barrancas de rios como o Muru. Aos seis anos de idade, criança ainda, saiu da casa dos pais para vir morar em Tarauacá, na casa da avó Maria Batista, para começar a estudar.
Além de estudar, começou também a trabalhar muito cedo, fazendo de tudo um pouco, engraxando sapatos ou atuando como vendedor ambulante. Mas havia algo de diferente naquele menino, que se recusava a ser apenas mais um.
Ainda na adolescência, engajou-se nos movimentos sociais através da Pastoral da Juventude, integrando a Juventude Cristã Tarauacaense, movimento da Igreja Católica. Depois, ingressou na juventude estudantil, sendo eleito presidente da UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas) Tarauacaense e esteve à frente da UJS (União da Juventude Socialista), ligada ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil), em Tarauacá, até sair do município.
Após concluir o primeiro grau em Tarauacá, mudou-se para um colégio interno em São Paulo, aos 14 anos, onde estudou numa escola agrícola. Em 1996 formou-se em Técnico em Agropecuária, No ano de 1999 assumiu a coordenação regional da Secretaria de Produção de Tarauacá, Feijó e Jordão, municípios nos quais desenvolveu um trabalho junto aos produtores rurais, indígenas e pescadores. Foi também professor de escola pública durante dois anos, oportunidade que lhe permitiu vivenciar o dia a dia do educador em nosso estado.
Em 2003 foi estudar medicina em Cuba. Após concluir o curso, foi coordenador e membro fundador da Associação Médica Nacional Maíra Fachin. Em 2010 coordenou a Missão Internacionalista dos Médicos Formados em Cuba que foram prestar socorro humanitário ao povo haitiano. Foi eleito deputado pela primeira vez em 2014 e reelegeu-se em 2018.
Não por acaso, o nome daquele menino que se recusou a seguir o destino de ser mais um começa a surgir como candidato ao Senado ou ao Governo do Estado em 2022. Para saber o que pensa e o que o deputado tem a dizer sobre essas possibilidades, ContilNet destacou o repórter Tião Maia para a entrevista a seguir:
ContilNet – Seu nome começa a surgir como um possível candidato a cargo majoritário, ao Senado ou ao Governo. Qual será esse cargo que o senhor disputaria em 2022?
Jenilson Leite – Primeiro, nós estamos conversando com as pessoas, o meu partido, PSB, tomou essa decisão de lançar uma candidatura majoritária em 2022. Mas ainda não sabemos se será para Governo ou Senado, pois estaremos conversando com as pessoas e dialogando com outras forças políticas. Essa construção deve ser coletiva.
ContilNet – Qualquer um desses cargos não é um passo muito grande para quem está, por assim dizer, começando na política, apenas no segundo mandato de deputado estadual?
Jenilson Leite – Já fiz de tudo um pouco na minha vida, desde trabalho braçal a boas experiências de gestões, e quando você trabalha com o coração, determinação e gosta do que faz, sempre o resultado é positivo. O Acre pós-pandemia não admite mais governos reativos aos acontecimentos, precisamos de governos programáticos, pé no chão, que conheça a realidade na beira dos rios, dos ramais e das periferias, e que seja capaz de pensar o Estado para além de quatro anos, com metas a serem cumpridas.
ContilNet – No caso de ser candidato a governador, qual seria sua principal plataforma de campanha? O que o senhor apresentaria de novidade ou alternativa aos demais candidatos?
Jenilson Leite – Nossa principal meta é cuidar das pessoas. Há muita gente passando fome no Acre. O quilo de carne com osso custa 30 reais.Eu nunca passei fome, embora venha de família humilde, mas já vi muita gente sofrer com fome. Temos ainda muitas crianças sem acesso a um litro de leite. Também tem muita gente doente que morre nas menores cidades pelas precárias condições dos hospitais. Vamos estruturar todas. Só é possível fazer isso, produzindo mais e gastando menos. Vamos fazer a digitalização de todas as secretarias do Estado, e dos serviços públicos, com isso iremos economizar milhões e usaremos para empregar nossa juventude com aptidão em tecnologia da informação. Para desenvolverem programas e aplicativos para o governo disponibilizar seus serviços. O cidadão sair de sua casa 4 horas da madrugada para pegar uma ficha de consulta, quando ele poderia fazer remotamente por um aplicativo ou ligação.
Precisamos apoiar de verdade quem produz no Acre, do pequeno ao grande, reduzir impostos para alguns insumos agrícolas, fortalecer a Assistência Técnica e criar a escola do produtor rural como uma forma de gerar novos conhecimentos aos filhos dos produtores. Iremos fazer mudanças na grade curricular. A escola rural precisa ajudar a criar expectativa de sobrevivência no campo, pois nossos jovens estão morrendo todos os dias nas periferias das cidades. Precisamos valorizar o empresário local em detrimento dos que vêm de fora, pois quem investe e gera emprego são os daqui. Precisamos fortalecer o esporte e a cultura, se acabaram os festivais, as gincanas, os torneios, os campeonatos, as quadras das cidades estão criando lodo.
Bom tem tanta coisa boa que pode ser feita.
ContilNet – Como o senhor avalia a disputa para o Governo? Quem seria seu principal adversário, na sua avaliação?
Jenilson Leite – Até agora não pensei nisso. Estou ajudando na pandemia, também não está definido se nossa candidatura será ao Senado ou ao governo.
ContilNet – Fala-se que já haveria uma espécie de pré-acordo entre o senhor e o ex-governador Jorge Viana, que seria candidato ao Senado com o senhor compondo de governador. É isso?
Jenilson Leite – O PSB apenas definiu que teremos uma candidatura majoritária em 2022. Não temos nenhum acordo ou pré-acordo com o ex-senador Jorge Viana.
ContilNet – O senhor acha que, com toda essa movimentação de Direita no país, com Bolsonaro à frente, as esquerdas e o PSB em especial, têm alguma chance de vitória?
Jenilson Leite – Vivemos numa democracia e quem pode nos avaliar isso é a população acreana. Para além dessa briga intransigente que vive o país, as pessoas avaliam também quem está ou poderá apresentar respostas para seus problemas do dia a dia. Perguntas como: Minha vida está melhor ou pior? P ode melhorar ou piorar ? São bases para boa tomada de decisão. O povo é inteligente, não podemos subestimá-lo ao ponto de achar que sua decisão se dará apenas por cores ou siglas.
ContilNet – O senhor está mesmo disposto a enfrentar o governador Gladson Cameli com toda a popularidade que ele tem?
Jenilson Leite – Sim, não vejo nada demais nisso! Aprendi na vida a enfrentar grandes desafios desde muito cedo. S saí de casa aos 6 anos de idade para estudar na cidade na casa de minha avó, saí sozinho do Acre aos 14 anos para uma escola interna em São Paulo, sai do Brasil sozinho para fazer medicina em um país (Cuba) em que nunca tinha andado sem saber falar a língua deles. Fui para o Haiti ajudar as pessoas no meio de um terremoto, fui ajudar em Brumadinho no desastre, me afastei do parlamento e fui para dentro de uma UTI para lutar contra um vírus mortal nesta pandemia. Qual o problema de enfrentar o Gladson? Respeito ele como ser humano, até gosto dele devido seu jeito de ser como pessoa, mas acho que na gestão é possível fazer mais pelo Acre do que ele faz em três anos como governador.
ContilNet – Como ficará sua relação com a ex-prefeita Socorro Neri, que passou a fazer parte do governo como secretária de Educação? O senhor não acha que ela deveria pedir licença do Partido para assumir um cargo no governo de Gladson, que o senhor diz que vai enfrentar na campanha?
Jenilson Leite – Tenho grande respeito pela Socorro. Ela é minha amiga independente da decisão política e do lado que ela estiver. Claro que ela vai ter que se manifestar partidariamente, mas isso cabe a ela.
ContilNet – O PSB vai continuar mantendo essa simbiose histórica com o PT? Vai apoiar Lula para presidente?
Jenilson Leite – O PSB é um partido que atuará para eleger um presidente que cuide melhor do Brasil e do povo brasileiro do que o que aí está. Está tudo caro, salários congelados, a fome aumentou no Brasil, ainda não está definido se teremos um candidato a presidente ou se iremos compor com alguém. Vamos aguardar e com certeza se tivermos um candidato, será um que pense um Brasil melhor.
ContilNet – Como médico, como o senhor avalia a gestão do governador e de seu secretário de saúde na gestão da pandemia do coronavírus? Gladson é ou não um negacionista na sua avaliação? Se o governador tivesse agido diferente, mais pessoas teriam morrido no Acre?
Jenilson Leite – O Gladson acertou em construir hospitais para atender as pessoas, mas errou em dar pouca importância para as medidas preventivas, gastou todo dinheiro da COVID-19 no polo que obtém menos resultados que é a assistência. Deveria ter investido mais na prevenção incluindo a compra da vacina. O Alysson é um sujeito esforçado, gosta de ouvir as pessoas, mas me parece que teve pouca autonomia e dormia secretário e no dia seguinte já não era mais, depois era chamado, agora saiu novamente.