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MS tem Bonito no topo e outros oito municípios desmatadores da Mata Atlântica

Por LÚCIO BORGES ORTEGA - CORRESPONDENTE MS

Um dado triste para Mato Grosso do Sul foi divulgado nesta quarta-feira (30), colocando o Estado no topo da lista de quem mais desmatou nos últimos dois anos, o bioma da Mata Atlântica, que também faz parte do território estadual, além do Pantanal e Cerrado. MS tem nove municípios na lista, contando com Bonito, região Oeste, em primeiro lugar entre todos os 439 desmatadores.

O nosso município, então chamado de paraíso ecológico, destruí na cidade 416 hectares, o correspondente a mais de um campo de futebol por dia, conforme dados do Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica. E ainda entre os dez maiores, Miranda-MS, está em oitavo lugar. Os dados serão analisados e comentados hoje, na live “Mata Atlântica em Debate”.

O ‘Atlas’ aponta que dos 3.429 municípios que compõem a Mata Atlântica, 15% desmataram o bioma entre 2019 e 2020. São 439 municípios que somados, fizeram  13.053 hectares serem desflorestados. O ranking das dez cidades que mais destruíram a cobertura vegetal, no entanto, se restringe aos estados de MS com dois, Minas Gerais e Bahia.

Bonito, município famoso e cultuado internacionalmente pelo ecoturismo, foi onde houve o maior desmatamento no período analisado, com os 416 hectares. Em seguida vêm Águas Vermelhas (MG), com 369 hectares desflorestados, e Wanderley (BA), com 350.

Em cada um desses, o ritmo do desmatamento foi o tamanho de campo de futebol por dia. A lista dos “top 10”, segue em terceiro lugar a Montalvânia (MG), com 286 hectares; Pedra-Azul (MG), com 286; Cotegipe (BA), com 273; Ponto dos Volantes (MG), com 220; Miranda (MS), com 219; Encruzilhada (BA), com 175; e Francisco Sá (MG), com 166. Apenas essas dez cidades somam 21% do total desflorestado e 70% se concentram em apenas 100 municípios de nove estados (MS, MG, BA, PI, PR, SC, SP, SE, RJ). As outras sete cidades sul-mato-grossenses que aparecem na lista são: Porto Murtinho (79 hectares), Ponta Porã (66), Nioaque (36), Bodoquena (18), Rio Brilhante (8), Campo Grande (5) e Sete Quedas (4), conforme os dados do Atlas dos Municípios.

O estudo é realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica com a cooperação do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação. As informações completas podem ser acessadas em www.aquitemmata.org.br. 

Afetando a vida diária

O diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica, Luis Fernando Guedes Pinto, fala que o desmatamento afeta diretamente a vida de cada pessoa que habita esses municípios. “Além de fazer com que as cidades se tornem cada vez mais quentes, a redução das áreas verdes ameaça a disponibilidade e a qualidade da água. A crise hídrica que vivemos hoje é um reflexo disso. No caso de Bonito os danos podem ser ainda graves, pois coloca em risco o turismo que move a economia da cidade”, alerta.

Os dados nacionais e por Estado foram divulgados , mostrando que o desmatamento entre 2019 e 2020 nos 17 estados que compõem o bioma, apesar de tudo, caiu 9% em relação ao observado no período anterior. Por outro lado, em relação a 2017-2018, quando foi atingido o menor valor da série histórica (11.399 hectares), houve um crescimento de 14%.

Luis Fernando lembra que praticamente a totalidade dessa devastação é ilegal: o bioma, que hoje mantém apenas 12,4% da sua vegetação original, é protegido pela Lei da Mata Atlântica, que proíbe o desmatamento a não ser em raras situações – como a realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública. “Qualquer área desmatada na Mata Atlântica, por menor que possa parecer, é uma perda enorme. Não só deveríamos ter parado de destruí-la como já precisávamos ter dado um passo além, que é reverter parte das áreas degradadas por meio do reflorestamento”, afirma o diretor. Segundo ele, esse trabalho de recuperação é essencial para a sociedade e a economia brasileiras, já que na região vivem 70% da nossa população e estão concentrados 80% do PIB.

“E também é fundamental para o planeta como um todo. Restaurar a Mata Atlântica, além de ser importante para conservar a biodiversidade e mitigar a emissão de gases-estufa, é uma forma de colaborar para que o mundo alcance o cenário de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecido no Acordo de Paris”, explica.

A trajetória dos municípios piauienses merece destaque. Ao longo da década passada, dois deles – Manoel Emídio (que se manteve no indesejável primeiro lugar no período anterior) e Alvorada do Gurguéia – apareciam como líderes entre os maiores desmatadores.

Mas, este ano, o Piauí reduziu a derrubada em 76% em relação à última análise (somando 372 hectares), com União sendo a cidade do estado a figurar mais alto na lista (11ª posição, com 165 hectares). Além disso, são dois municípios do Piauí os que mantêm a maior área absoluta de mata em todo o bioma: Guaribas (176.477 hectares) e Canto do Buriti (118.411 hectares).  

Detalhes

O levantamento, que contou com a execução técnica da Arcplan, foi realizado por meio de imagens de satélite e tecnologias na área da informação, do sensoriamento remoto e do geoprocessamento. O projeto é fruto de um acordo de cooperação técnica pioneiro com o INPE, estabelecido em 1989, voltado a determinar a distribuição espacial dos remanescentes florestais e de ecossistemas associados da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações permanentemente aprimoradas e atualizadas desse bioma.O Atlas dos Municípios traz informações de todos os remanescentes de vegetação nativa e áreas naturais do bioma acima de três hectares. Para as cidades dos estados do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo é possível obter dados acima de um hectare.

“Os mapas, com a localização geográfica tanto das áreas de remanescentes de Mata Atlântica, como das áreas de desmatamento, oferecem à população de todos os municípios do bioma a oportunidade de cuidar de suas florestas e garantir os serviços ecossistêmicos, como a preservação do solo e a manutenção dos aquíferos. Sabendo onde o desmatamento ocorre, podemos fiscalizar e reivindicar medidas de proteção ou de recuperação de nossas matas”, reforça Silvana Amaral, coordenadora técnica do Atlas pelo INPE.

Todas as informações estão disponíveis no site www.aquitemmata.org.br que, de forma prática e lúdica, apresenta mapas interativos e gráficos com as informações atualizadas sobre o desmatamento e o estado de conservação de florestas, mangues e restingas nos 3.429 municípios da Mata Atlântica. A SOS Mata Atlântica preparou ainda a cartilha Aqui Tem Mata?, um guia para estimular nos espaços escolares o diálogo sobre o meio ambiente e a Mata Atlântica – sua história, situação, biodiversidade e a importância de protegê-la. O relatório completo do Atlas da Mata Atlântica 2019-2020 pode ser acessado em www.sosma.org.br e em www.inpe.br.BONITO – O município está localizado na região Centro-Oeste do Brasil, no Oeste do Mato Grosso do Sul, fazendo fronteira ao norte com Bodoquena, Anástácio e Nioaque.

Guia Lopes e Jardim ao Sul e Porto Murtinho a Oeste. Possui uma área de 4.934,318 km².

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