CAMPO GRANDE (MS) – A arte de um dos ícones da escultura de Mato Grosso do Sul, Conceição dos Bugres, apesar até de não ser conhecida ou reconhecida no Estado, já a quase um mês, ganha status em exposição no MASP (Museu de Arte de São Paulo), capital paulista, onde fica até 30 de janeiro de 2022. O espaço para a obra é parte de um movimento do Masp para apresentar artistas que ficaram fora das histórias oficiais da arte, com o objetivo de reposicioná-los, e também de enfatizar o papel das mulheres para a linguagem escultórica no Brasil. O museu recebe e serão apresentadas 119 esculturas.
“A trajetória da Conceição dos Bugres sofreu um processo de apagamento como a de muitos artistas da chamada ‘arte popular brasileira’. A maior parte das obras em exposição são de coleções particulares. Há pouquíssimas obras dela em acervos públicos, o que demonstra esse processo de apagamento. Hoje, segundo o Masp, o trabalho de Conceição dos Bugres é encontrado apenas nas coleções do Museu Afro Brasil e do Itaú Cultural”, explicou Fernando Oliva, um dos curadores da exposição, junto com Amanda Carneiro.
Aos Sul-mato-grossenses que não conhecem, autodidata, de origem indígena, Conceição dos Bugres produziu, ao longo de três décadas, muitas esculturas em madeira ou pedra, cobertas por cera e tinta, com traços humanos. Todas foram chamados de bugres, palavra pela qual ela ficou conhecida, mas que é usada no Brasil de forma pejorativa e preconceituosa para se referir aos índios. E é essa produção de bugres que estará em exposição no Masp por oito meses.
“Um dia me pus sentada embaixo de uma árvore. Perto de mim tinha uma cepa de mandioca. A cepa da mandioca tinha cara de gente. Pensei em fazer uma pessoa e fiz. Aí a mandioca foi secando e foi ficando com uma cara de velha. Gostei muito. Depois eu passei para a madeira”. Foi assim que Conceição Freitas da Silva, mais conhecida como Conceição dos Bugres (1914-1984), disse ter dado início à confecção dos seus bugres, segundo a Enciclopédia Itaú Cultural.
Exposição Tudo é da Natureza
O curador fala que a exposição se chamará ‘Conceição dos Bugres: Tudo é da Natureza do Mundo’. “O título da mostra é emprestado de uma fala da artista a um documentário de 1979. Conceição descreve as formas de suas peças como resultado do respeito ao formato da madeira, que ‘é sábia’, em suas palavras. É a partir dessa natureza que ela, usando uma machadinha, vai construindo figuras como Mariquinha, João Grilo e Chiquinho, nomes dados a algumas de suas obras que, no entanto, não foram registrados nos documentos dos trabalhos, quase todos sem título e sem data”, ressalta Fernando Oliva.
A também curadora Amanda Carneiro, fala da ideia do Masp de enfatizar o papel das mulheres para a linguagem escultórica no Brasil. Ela lembra que partir do segundo semestre deste ano, essa mostra vai coincidir com exposições individuais de Erika Verzutti e Maria Martins (1894-1973).
“Nesse país tão plural e diverso como é o Brasil, muitas histórias e agências ficaram à margem, por isso é tão fundamental iniciar esse ciclo de exposições com uma artista cuja produção tem um valor ainda a ser reconhecido e reposicionado na história da escultura em nosso país. Este projeto reafirma uma posição de Conceição dos Bugres como parte de um cenário amplo e inclusivo, ressaltando sua valiosa contribuição para a arte brasileira”, disse Amanda.
Serviço
O Masp tem entrada gratuita às terças-feiras e nas primeiras quartas-feiras de cada mês. Nos demais dias, há cobrança de ingresso.