Um provérbio chinês diz que o segredo da longevidade é comer a metade, andar o dobro e rir o triplo. O amazonense Tertuliano Monteiro de Miranda, de 83 anos, morador de Rio Branco (AC) desde jovem, acrescentaria mais um item à lista: trabalhar sempre, mesmo que seja na dura atividade de estivador, como ele fez ao longo da vida.
Como acreano e filho de cearenses, Tertuliano, antes de vir morar na cidade, onde fez de tudo um pouco, como padeiro e depois como estivador, também foi seringueiro. Cortou seringa no antigo Seringal Andirá, na região de Porto Acre, e só saiu para cidade para poder colocar os 11 filhos na escola. Os primeiros 11 filhos são de um único casamento, e teve outros três, segundo estima, “por fora”. Atualmente solteiro, ele revela que ficou viúvo “umas seis vezes”, inclusive da mãe de seus primeiros 11 filhos.
Apesar da idade avançada, Tertuliano é um homem sadio e muito disposto. Atualmente aposentado, ele diz que, se fosse necessário, voltaria a fazer o que fazia no passado, nos barrancos do porto do rio Acre, na rua Primeiro de Maio, no bairro Seis de Agosto, como estivador. Seus amigos confirmam que, naquela época, o viram carregando, por exemplo, de uma vez só, quatro sacos de cimento, cada um com 50 quilos cada um. “Eu tirava isso de letra. Eu tinha mesmo muita força, mas, muito mais que isso, eu tinha coragem. Não tinha medo de nenhum tipo de trabalho”, conta. “O trabalho, por mais duro que seja, não mata nem adoece a gente. Pelo contrário”, acrescenta.
Segundo ele, o que acaba com o ser humano, com o homem, é a cachaça e a perda de sono. “Viver farreando na noite, isso acaba com o homem”, diz. O que aprendeu com seu pai, Francisco Miranda, cearense de Acaraú, ele repassou aos filhos sobre a importância do trabalho para a dignidade do homem. Os filhos cresceram sob sua guarda. Entre eles está o empresário e político Manuel Miranda, gerente de uma concessionária de carros de luxo da marca Mitsubich em Rio Branco. “O que ele aprendeu, nos ensinou. Um homem só é feliz se tiver trabalho e gostar do que faz”, diz Manuel Miranda, um dos 11 filhos.
“Eu tive mais uns três fora do casamento, mas, graças a Deus, nenhum dos meus filhos me fez vergonha na vida. Todos são trabalhadores e trabalhadoras”, revela o ancião. Com a sabedoria dos 83 anos, Tertuliano de Miranda diz que uma das causas da violência é a falta de trabalho para a juventude, causada pelo falta de oportunidades oferecidas pelo governo e também porque muitos pais reproduzem em relação aos filhos os erros de seus pais. “Muitos dos nossos jovens querem um sapato novo, um bom tênis, um bom telefone. Como não têm trabalho e também porque não aprenderam a fazer nada, acabam indo para o crime, em busca de dinheiro fácil, e acabam gerando essas matanças e a onda de crimes que a gente ver todos os dias”, disse.