Com opiniões claras nas redes sociais e forte oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o vocalista do Detonautas, Tico Santa Cruz, ganhou apoio e também ódio nas redes sociais, principalmente pelas novas músicas que são claras críticas ao governo e familiares de Bolsonaro.
Em entrevista para o iG Gente, Tico fala sobre os haters e a oposição ao governo Bolsonaro.
Segundo o cantor, ele sofre com fake news criadas pelas “milícias digitais do presidente”, justamente por ter uma abordagem clara em temas tabus, ele sabe que tem muita gente que quer o ofender.
“Isso é sistemático, eu sou uma pessoa que por ter meus posicionamentos, sofro com isso. Meus fãs sempre me dão apoio, acolhimento. Por isso, consigo manter a sanidade até hoje, inclusive com respaldo médico, para minha saúde mental”, conta.
Apesar de lidar bem com críticas, ele tem um limite. “O que eu não gosto é quando vai além da crítica, passa para a falta de respeito, de mentira e calúnia que tragam algum prejuízo para minha imagem. Se acontece, aí normalmente eu procuro meios de justiça e atuo nesse sentido”, diz.
Desde a época em que Jair Bolsonaro (sem partido) era deputado federal pelo Rio de Janeiro, Tico se colocou como oposição clara às falas e atitudes do político. Para o cantor, Bolsonaro é uma figura “obscura, desrespeitosa, preconceituosa, machista e homofóbica”.
“Isso [oposição ao Bolsonaro] já me rendeu muitos problemas. Já tive minha página hackeada várias vezes. Tive um chip fraudado, fui à delegacia de crimes de internet por várias vezes fazer denúncias e boletins de ocorrência, processar pessoas, e claro, resguardar minha segurança. Essas ameaças são frequentes, enfim, é o fascismo”, comenta.
Para ele, o bolsonarismo é o “fascismo brasileiro”. “Lido com todos os cuidados que preciso, com a atenção que preciso, mas como artista entendo que eu preciso me manifestar diante de um governo autoritário, negacionista e que não colabora em nada com a sociedade e com o país”, acredita.
Recentemente, Tico e os Detonautas lançaram músicas contra Bolsonaro e escândalos relacionados ao presidente. Para ele, as canções são crônicas da vida real.
“Elas retratam esse momento que o Brasil está vivendo. Acredito que historicamente quando as pessoas quiserem saber o que o rock estava falando, vão ver essas músicas porque não vejo nenhum outro artista de rock fazendo música nesse momento”, afirma.
“É importante que a arte consiga fazer. No futuro teremos filmes e peças [sobre esse período], mas agora o que a gente tem é a música. Ela pode representar muito bem o sentimento das pessoas, a indignação, o inconformismo”, declara. Para Tico, suas músicas são uma forma de “se pronunciar no momento em que a cultura está sendo atacada”.
“Quem não se posiciona está do lado da vergonha”
No último dia 3, Tico criticou o vídeo de Juliana Paes em que a atriz defende que artistas não se posicionem politicamente nas redes sociais. O cantor respondeu dizendo que não tem “nada a ver com direita e esquerda, tem a ver com civilização e defesa da humanidade”.
“Eu não fiz uma crítica, eu pontuei. A Juliana Paes fez um pronunciamento justo e válido, importante que ela se pronuncie, mas fez o vídeo com pontos bastante equivocados. No caso, ela mencionou o comunismo, a extrema-esquerda, de coisas que não existem no espectro político que estamos vivendo hoje no Brasil”, diz.
Para ele, é importante que os artistas se pronunciem como Juliana fez, mas que estudem e entendam sobre o que irão falar. O músico acredita que o debate em torno das palavras da atriz gerou um despertar positivo para o atual situação sociopolítica do país.
“Qual o problema? Faz parte da política. Agora, escolher a extrema-direita não há mais espaço. Tem que ficar claro, não só para a Juliana, mas para todos os artistas e todos os cidadãos que o Bolsonaro representa a extrema-direita. Ele não está no campo democrático, nem no campo civilizatório. Ele está no campo da necropolítica”, pontua.
“Agora a direita, a esquerda estão do lado da democracia e as pessoas que são negacionistas, fundamentalistas e autoritárias estão do lado do Bolsonaro. Então ficou fácil agora de se posicionar”, diz.
Sobre artistas do rock que se mantém ao lado de Bolsonaro, Tico diz que não vê muitos se posicionando assim. “Que eu me lembre, apenas o Roger, o Lobão se arrependeu e o Digão do Raimundos não se posiciona claramente, no caso, ele defende um discurso que não assume, muito semelhante ao dos bolsonaristas”, comenta.
Para ele, o rock é libertador, e que não tem nada a ver com conservadorismo.
“Ele não exige que a pessoa seja de direita ou esquerda, o que você não pode é ser autoritário. O autoritarismo, ele tira a liberdade do rock poder criar, de poder questionar, de poder contestar. Então, se fosse um regime de extrema esquerda ou um regime de extrema direita, ambos são regimes autoritários e totalitários. Então, a gente tem de estar sempre lutando para que esses regimes não ganhem força”.