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Vice-prefeito de Capixaba diz ter ficado assustado com cofres do município: “Não tinha R$ 100”

Por TON LINDOSO, DO CONTILNET

Richard Lima, vice-prefeito de Capixaba, conversa com reportagem do ContilNet. Foto: ContilNet Notícias

O vice-prefeito de Capixaba, Richard Lima, experimentou duas realidades assustadoramente diferentes. Como presidente da Câmara Municipal, até o dia 31 de dezembro de 2020, o então parlamentar fiscalizava todas as ações da antiga gestão. Um dia depois, passou de fiscalizador para fiscalizado.

Preocupado com a situação do município, e ciente do desafio que teria pela frente, Richard decidiu, em conjunto com o prefeito Manoel Maia, assumir a Secretaria de Planejamento. O objetivo era ter mais clareza sobre as contas do município. Ele conta que o resultado preocupou.

“Dentro desse planejamento de 100 dias, fizemos o seguinte: nós tentamos priorizar aquilo que realmente estava se vendo no momento, como por exemplo a questão da saúde. Nós estamos em um município que, no ano passado, recebeu R$1.100.000 para o combate ao covid. Quando recebemos a prefeitura agora em janeiro não tinha R$100 na conta”.

Capixaba passou por maus bocados, mas Richard é otimista e acredita em retomada. Foto: ContilNet

Richard, além da experiência na Câmara, acumula também uma expertise como secretário. De acordo com ele, agora, ele deixa de ser pedra para ser vidraça. “Eu já fui secretário de gestões anteriores: era secretário de Assistência Social, em seguida Secretário de Planejamento na gestão do ex-prefeito Varêda [2013]; então, conheço um pouco da gestão municipal; mas assusta porque, quando eu estou na condição de Presidente da Câmara, meu papel é cobrar que as coisa aconteçam na sua amplitude, agora deixei de ser pedra e fui vidraça, né?”, afirma aos risos.

Confira nossa entrevista:

ContilNet: Vice-prefeito, qual foi o seu maior desafio até agora nessa gestão? Como o senhor tem encarado esses primeiros meses?

Nesse primeiro momento, eu, na tentativa de ajudar a gestão, assumi a Secretaria de Planejamento por quatro meses e, desde esse tempo, a temos feito levantamento das dívidas, feito planejamento das ações a tomar e, nesses primeiros 100 dias, trabalhamos apenas em função disso; as dificuldades que a gente encontrou são as mesmas que quase todos os municípios estavam, como inadimplência, máquinas quebradas e dívidas deixadas por gestões anteriores

Nossa dificuldade foi essa: tentar organizar, dentro desses 100 dias, tudo que precisávamos saber para então começar a desenvolver uma gestão sob os nossos olhares, os nossos moldes.

O senhor pode dar maiores detalhes sobre os resultados que esse planejamento todo gerou? O senhor tem algum dado de pronto para falar sobre?

Demos continuidade à alguns convênios que já existiam, tendo em vista a necessidade de determinados equipamentos no município. Estavam em andamento processos licitatórios, demos vazão agora, por exemplo, a recursos liberados pelo Ministério da Agricultura. Eles estavam pendentes e, graças ao bom trabalho da nossa equipe, alimentando o sistema de forma correta, temos esses recursos liberados.

Agora, com essa adesão, podemos pagar, por exemplo, um caminhão prancha que já havia sido entregue no município. Nós recebemos ainda, na gestão anterior, alguns tratores que não haviam sido pagos; agora, o recurso foi liberado e agora também tem um processo em andamento para aquisição de implementos agrícolas e esse recurso também já foi liberado.

Dentro desse planejamento de 100 dias, fizemos o seguinte: nós tentamos priorizar aquilo que realmente estava se vendo no momento, como por exemplo a questão da saúde. Nós estamos em um município que, no ano passado, recebeu R$1.100.000 para o combate ao covid. Quando recebemos a prefeitura agora em janeiro não tinha R$100 na conta.

Os problemas eram os mesmos: nós ainda continuamos vivendo em uma pandemia, continuamos enfrentando um grande desafio, e nós tivemos que fazer o que: nos planejar para combater com as nossas forças, nosso recurso próprio; então foi um pouco mais difícil. No entanto, o resultado foi melhor porque, mesmo diante dessa dificuldade [da falta de recurso], conseguimos manter a farmácia com medicamentos, com recursos, com medicamentos da atenção básica.

Richard já foi presidente da Câmara. Foto: arquivo pessoal

Como foi a transição do Legislativo para o Executivo?

Eu era o presidente da Câmara na gestão passada. A gente via a dificuldade que a população sofria ao buscar um remédio na farmácia, procurar um atendimento, tivemos um grande problema com o atendimento médico no início da gestão mas está sendo, aos poucos, sanado.

Por conta da pandemia, profissionais dessa área estavam escassos. Os poucos que apareciam cobravam salários que não podíamos pagar. Outros preferiram ficar próximos às suas casas, não tinham interesse em residir na cidade. Atualmente, não temos médicos que residem aqui, de pronto para atender a demanda.

Mesmo estando fora da Secretaria de Planejamento, o senhor continua dando apoio ao prefeito nessa área, certo? Qual sua visão para o restante do ano? Existe um plano?

Ainda que eu não esteja mais na Secretaria de Planejamento, eu estou aqui à disposição do prefeito, ajudando, auxiliando […] o nosso objetivo é organizar a casa esse primeiro ano, colocar as contas em ordem. Acho que um dos maiores gargalos que o município tem hoje pra resolver são as dívidas do FGTS que somam milhões de reais. Acredito que precisamos ampliar a discussão em torno disso.

Antes, o senhor estava na Câmara, cobrando. Agora, de certa forma, o senhor está do outro lado, sendo cobrado pelo legislativo. O senhor tinha noção da gravidade das coisas. Isso não te assustou em nenhum momento?

Eu já fui secretário de gestões anteriores: era secretário de Assistência Social, em seguida Secretário de Planejamento na gestão do ex-prefeito Varêda [2013]; então, conheço um pouco da gestão municipal; mas assusta porque, quando eu estou na condição de Presidente da Câmara, meu papel é cobrar que as coisa aconteçam na sua amplitude, agora deixei de ser pedra e fui vidraça, né? (risos)

Mas continuo com o mesmo compromisso: tentar fazer a coisa certa. Estou aqui do lado do prefeito hoje trabalhando junto com ele porque eu acredito nele. Se não avançamos ainda mais, é porque as coisas são realmente burocráticas e precisamos respeitar isso – licitações, prazos, normas e procedimentos. Mas o que vejo nessa gestão é o interesse em fazer, e isso motiva. Não há mácula, interesse em se beneficiar do dinheiro público.

E acredito também que estou quebrando um paradigma; o de que vice-prefeito fica em casa, balançando na rede, esperando a possibilidade de assumir o lugar do prefeito. Aqui, nós temos uma parceria, nós não temos aqui uma disputa por espaço. Acredito que ela [a parceria] se mantém ao longo desses quatro anos porque o nosso objetivo é atender os anseios da população que estão

O que o senhor diria para a população que acreditou no Richard vereador e confiou nele a posição de vice-prefeito?

O nosso compromisso é o mesmo. Ainda continuamos mantendo em nosso coração a intenção de trabalhar da forma correta para a população. Hoje, meu sentimento é de gratidão, porque eles [a população] deram continuidade ao trabalho que eu já vim desenvolvendo; eles acreditaram, eles deram esse voto de confiança e o meu principal objetivo hoje junto à essa gestão é não decepcioná-los

A gente não pode mudar o início, né? Mas a gente pode mudar o final da história. Então, é esse o papel que assumi e espero honrar.

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