Ícone do site ContilNet Notícias

“Ainda estou em choque, não posso imaginar uma mãe perdendo um filho”, diz vigilante que impediu sequestro de bebê

Por CRESCER

Cristiane, 52 anos, é a vigilante que aparece nas câmeras acompanhando a suspeita dentro do hospital (Foto: Reprodução/RPC/Arquivo pessoal)

Um caso chocou o país no início desta semana. Uma mulher de 23 anos entrou em uma maternidade de Curitiba, no Paraná, vestiu um uniforme da enfermagem e pegou um bebê de um dos quartos, sob o argumento de que iria levá-lo para exames. Felizmente, a suposta sequestradora foi barrada na saída do hospital, presa pela polícia, e a mãe pôde recuperar seu bebê em segurança. Foi no fim da tarde de segunda-feira (12).

Câmeras de segurança do hospital mostraram toda a movimentação da mulher suspeita com o bebê nos braços, tentando sair do local. “Eu nunca tinha passado por uma situação assim. Foi muito tenso, muito tenso. Ainda estou em choque, não posso imaginar uma mãe perdendo um filho”, disse Cristiane Ribeiro, 52 anos, que atua há oito anos na segurança do hospital. Ela, que é uma das vigilantes que impediu que a mulher saísse com a criança, trabalha no Grupo Intersept, que presta serviço ao hospital. Ela também é mãe, tem dois filhos de 30 e 36 anos e “cinco netos maravilhosos”, afirma, e contou em detalhes como tudo aconteceu.

“Quando ela chegou na portaria, já estava com o bebê no colo. Eu estava ao lado da Lenice, a outra vigilante, que a abordou primeiro. Ela perguntou onde a mulher estava indo e onde havia consultado. A suspeita disse que seu bebê tinha engasgado e que havia trazido ele para consultar na emergência. A recepcionista conferiu no sistema e não achou o nome dela. Lenice, então, pediu que ela saisse pela portaria onde entrou. A mulher voltou para dentro do anexo, e eu olhei para ela e senti alguma coisa diferente. Pensei: ‘Tem algo errado’. Nesse momento, falei para a minha colega que iria seguí-la para ver até onde ela iria. Ela, então, subiu para o primeiro andar e eu fui atrás. Nesse momento, perguntei onde ela havia sido atendida. Ela respondeu que foi na pediatria e disse, novamente, que seu bebê chegou engasgado. Eu disse: ‘Então, vamos até a pediatria para falar com a enfermeira que atendeu o seu bebê’. Fomos até lá, conversei com as enfermeiras e elas falaram que não tinham atendido aquele bebê. Ela disse, então, que tinha entrado pelo pronto-socorro. Pedi que fossemos até lá. A mulher não estava nervosa. Estava fria, calma, serena.

Avisei que sem algum documento dela e do bebê, não a deixaríamos sair. Ela argumentou dizendo que estava com pressa e que o marido estava do lado de fora esperando. Eu pedi que ela passasse a placa do carro para que eu localizasse ele e pegasse os documentos, assim, liberaríamos ela. ‘Do contrário, não poderemos liberá-la’, falei. Deixei ela na sala da assistente social e fui procurar o marido. Saí no pátio, mas não encontrei. Foi, então, que uma enfermeira desceu correndo, pedindo ajuda, dizendo que haviam roubado um dos bebês. Eu falei: ‘É o bebê’. Ali, tive a certeza que ela tinha levado a criança. Corremos e já acionamos a polícia sobre a tentativa de sequestro.

Um tempo depois de levar o bebê do quarto, a mãe foi até o balcão das enfermeiras dizer que seu filho tinha sido levado para um procedimento e estava demorando muito. Como a enfermeira sabia que não tinha nenhum bebê em procedimento, saiu correndo para avisar que a criança havia sido levada do quarto. Eu nunca tinha passado por uma situação assim. Foi muito tenso, muito tenso. Ainda estou em choque, não posso imaginar uma mãe perdendo um filho… e sabendo que eu estava ao lado de uma pessoa que estava tentando roubar um bebê. Pensei muito e agradeci a Deus por ele ter estado conosco na hora e ter evitado que uma família fosse destruída para sempre. O que ficou foi uma sensação de gratidão à Deus, primeiramente, uma sensação de alívio… Uma mistura de sentimentos. Choramos muito, eu e a outra vigilante. Na hora que a mãe pegou seu bebê no colo foi muito emocionante. Foi uma sensação maravilhosa de dever cumprido; eu cumpri com a minha obrigação e isso não tem preço.”

O que se sabe sobre o caso

A mulher acusada de tentar sequestrar o bebê é Talita Meireles, 23 anos. Ela está presa e deve responder por subtração de incapaz. Em depoimento à polícia, ela disse, primeiramente, que venderia a criança para um vizinho. Mais tarde, afirmou que havia passado por um aborto e pretendia fingir que o bebê era dela. No entanto, em entrevista ao G1, a polícia afirmou que a história não procede. “Ela disse que estava grávida e que teria sofrido um aborto, e no dia 27 de junho teria passado por procedimento de curetagem na Maternidade Curitiba. Estivemos lá e isso não ficou comprovado. Lá consta que ela nunca esteve internada naquele hospital”, afirmou Ellen Victer, delegada do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria).

Nesta quarta-feira (14), a Justiça determinou que a suspeita seja internada no Complexo Médico-Penal (CMP), em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Ela também deve passar por um exame de sanidade mental. A defesa de Talita alega que ela estava em estado depressivo após ter sofrido um aborto. De acordo com o advogado Paulo Jean da Silva, Talita sofreu o aborto no sexto mês de gestação, no final de junho, está em estado de depressão puerperal e é “incapaz de responder pelos atos”.

Nota da Secretaria da Saúde do Paraná

Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, responsável pela administração do Hospital do Trabalhador, explicou que, “conforme protocolo de conferência de documentos e pulseiras de identificação da mãe e do bebê, neste caso, não havia a pulseira na suposta mãe e apenas na criança.” “Imediatamente a mulher foi indagada sobre a falta da pulseira e solicitado seus documentos, os quais, não foram apresentados”, disse.

“O serviço de segurança do Hospital, comunicou a autoridade policial para conduzir a mulher a delegacia e prontamente devolvida a criança a sua verdadeira mãe. Reiteramos que os procedimentos de segurança adotados no Hospital foram efetivos bloqueando a tentativa deste crime. Importante registrar que a Maternidade do Hospital do Trabalhador possui 27 anos de funcionamento sem nenhuma ocorrência desta natureza, demonstrando a qualidade dos seus protocolos de segurança”, finalizou a nota da diretoria.

Sair da versão mobile