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Mulher trans que foi violentada se recupera em casa e busca por um futuro com ‘saúde, paz e tranquilidade’

Por G1

Camila carrega no corpo as marcas do crime que sofreu e olho se encha de lágrimas ao relembrar do trauma. — Foto: Carla Salentim/TV Morena

Camila Ferreira, de 54 anos, tem uma paixão: o carnaval. Natural de Corumbá (MS), veio para Campo Grande com um amigo buscar a vida e, durante todo o trajeto, a mulher trans diz que nunca pensou que o preconceito a atingiria de forma tão brutal.

A carnavalesca contou ao G1 que o dia 18 de junho de 2021 não irá sair da memória dela cedo, neste dia Camila foi estuprada, violentada e abandonada em um via pública de Campo Grande.

Em decorrência da violência, ela ficou internada por 20 dias no Hospital Universitário, na capital, para tratar de mutilações, feridas e infecções.

Agora, na casa de uma amiga e iniciando a recuperação do trauma, Camila quer ter “força e retomar da onde parei. Voltar com a minha paixão que é o carnaval e o artesanato. Ficar bem com todos e levantar a cabeça”.

Camila detalha que o trajeto da vida dela foi marcado por preconceito. A carnavalesca disse que o crime cometido contra ela deixou marcas no corpo e na memória dela. Durante os dias no hospital, Camila foi submetida a duas cirurgias, uma de emergência e categorizada como delicada.

“Foram várias cirurgias. Tive que ficar de jejum o dia inteiro para conseguir fazer uma ressonância e constataram que por dentro, eu estava muito machucada. Isso foi em decorrência da contaminação”, descreveu.

Durante um dos dias internada, Camila relembra que não sentia uma das pernas. Uma das cirurgias deixou 13 pontos, do umbigo até a região do órgão genital dela.

“Fiz a segunda cirurgia, foram treze pontos que me abriram inteira para limpar. Desde então fiquei com soro por 24 horas. Eles acompanhavam as impurezas que saíam. Eu fiquei praticamente sem mexer. Nos dias de dores que passei, não sentia uma das minhas pernas. A cirurgia foi urgente e delicada. Me abriram muito para limpar”, com a voz embargada, falou.

Medo da rua

Camila segue se recuperando das agressões — Foto: Camila Ferreira/Arquivo Pessoal

Camila segue se recuperando das agressões — Foto: Camila Ferreira/Arquivo Pessoal

A rua, para Camila, é um dos maiores medos. Na casa de uma amiga dela, o espaço que ela percorre é o do quarto para sala e vice e versa.

Na rua você não sabe quem é quem. Eu peguei um trauma de rua. Estou assustada. Eu não sei que nome dar à sensação de quando tenho que sair na rua. É muito recente. Meu caminho é da cama a aqui, essa é minha rotina”, detalha.

Camila relembra que foi surpreendida na rua pelos dois criminosos. “Quando a delegada foi ao hospital, ela me perguntou se tinha raiva deles, eu respondi: eu não tenho raiva, eu tenho ódio. Ao mesmo tempo que aconteceu comigo, amanhã pode acontecer com outra”.

Na cama, descansando, ao fechar os olhos, Camila revive o pesadelo. “Nesses dias, tem vezes que até sonho com o momento. Aí acordava desesperada, aí não conseguia mais dormir”. Mesmo com a vinda das imagens “de terror”, a vítima se mantém e deixa claro: “eu vou superar”.

Apoio

Camila é ajudada por uma amiga e segue em busca de apoio psicológico. “Eu sei que existe gente ruim, mas eu tive a prova. A gente não sabe a cabeça das pessoas para onde vai”, falou.

“Sempre busquei tratar bem as pessoas, mas isso aconteceu. Eu estou recebendo apoio de pessoas que nem me conhecem. Seja uma palavra de ajuda ou até mesmo uma mensagem”, com um breve sorriso, encoberto pela máscara, pontuou Camila.

Para ajudar a custear o tratamento e como Camila não está trabalhando, uma amiga fez uma “vakinha virtual” para ajudá-la. Para contribuir, acesse este link.

O crime

O crime que aconteceu no dia 18 de junho, está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da capital como crime de LGBTfobia.

A vítima foi sequestrada por dois homens no bairro Vila Sobrinho, na capital, e levada para uma residência, onde ocorreu o estupro.

Após ser abandonada na rua com vários ferimentos, a mulher precisou passar por cirurgia devido a complicações decorrentes da violência sexual sofrida.

Conforme a ocorrência, logo após o crime, Camila precisou passar por uma cirurgia às pressas. Devido aos ferimentos, precisará colocar uma bolsa de colostomia. A investigação segue em sigilo.

A Deam informou que o caso segue em investigação como crime de LGBTfobia, termo utilizado para compreender as violências cometidas contra a população LGBTQIA+.

O caso foi registrado como sequestro, estupro coletivo (praticado por duas ou mais pessoas), injúria racial e lesão corporal dolosa.

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