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No Dia do Curupira, a notícia é: a Amazônia volta a arder em chamas; entenda

Por TIÃO MAIA, PARA O CONTILNET

Queimada e vista em meio a área de floresta na Região Norte. Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real (Ilustração)

O “Dia do Curupira”, personagem do folclore nacional e tido como entidade protetora das matas, neste sábado (17), chega sem que haja muito a comemorar, pelo menos na região amazônica, a maior floresta tropical do mundo. Novamente este ano, a Amazônia arde em chamas.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), foram 2.308 focos de calor no mês passado, aumento de 2,6% em relação ao mesmo mês em 2020, que já tinha batido o recorde histórico de fogo para o mês. Estudo divulgado pela Aliança Global pela Saúde e Clima, os incêndios florestais geram vários problemas: jogam toneladas de carbono na atmosfera, contribuindo para elevar a temperatura do planeta e desestabilizar o clima; contaminam o ar com fuligem, um material perigoso quando inalado, sobretudo para crianças, gestantes e idosos; matam animais ou destroem suas casas; e reduzem a umidade — o que no longo prazos pode alterar o regime de chuvas.

O momento para uma terceira temporada devastadora de fogo na Amazônia não poderia ser pior. O Brasil ainda tem muitos pacientes com covid-19, além de um grande número de pessoas se recuperando das sequelas da doença, e um ar mais poluído é tudo o que elas não precisam. E com pouca água nos reservatórios para abastecimento e hidrelétricas, reduzir a umidade da atmosfera é o mesmo que dar um tiro no pé.

A Amazônia não pega fogo sozinha. Em inglês, esse tipo de floresta — que também existe no centro da África e em pontos da Ásia, como na Indonésia — é chamado de “Rainforest” ou “Floresta de Chuva”.

Esse tipo de ecossistema é extremamente úmido, geralmente comportando bacias hidrográficas generosas, como é o caso da Bacia Amazônica. Para uma floresta deste tipo pegar fogo, é necessário combustível e ação humana. E cortar essa quantidade de floresta para depois queimar exige maquinário e um número razoável de trabalhadores — uma operação de custo bastante elevado, mostra o Inpe.

Estudos recentes indicam que a Amazônia pode estar chegando ao seu “ponto de virada”, quando o ecossistema deixaria de ser uma floresta de chuva para se tornar uma savana tropical semelhante ao Cerrado, mas com biodiversidade degradada. Já há pesquisas indicando que esse processo está em curso na fronteira sul da Amazônia, e as mudanças climáticas atuam para acelerar o fenômeno.

Com a tecnologia disponível hoje, é possível combater crimes ambientais, como desmatamento e incêndios florestais. Sistemas de satélite disponíveis tanto no Brasil, como no exterior são capazes de emitir alertas de fogo em tempo real, e geram imagens detalhadas das áreas que estão sendo desmatadas ou que estão sob risco de redução da cobertura vegetal. No caso do desmatamento para garimpagem ilegal de ouro, as crateras abertas na floresta são facilmente detectáveis pelos sistemas de vigilância.
O drama do fogo na Amazônia acaba ofuscando a destruição de outros biomas também vitais para a saúde do planeta e para a biodiversidade, como o Gran Chaco, o segundo maior sistema florestal da América Latina depois da Amazônia. Este bioma muitas vezes não é contabilizado entre os biomas brasileiros, mas ele ocorre em um pequeno trecho do estado do Mato Grosso do Sul, com sua maior área na Argentina, no Paraguai e na Bolívia.

Como todas as florestas úmidas, o Chaco também é rico em biodiversidade e recursos hídricos, mas esse sistema vem sendo substituído por pastagens nas últimas décadas – 25% do Chaco já foi perdido.

A exploração de uma terra tropical sem um manejo sustentável não se justifica diante da tecnologia e do conhecimento científico dos dias atuais. Mas a história de destruição da Mata Atlântica, que reinou soberana sobre 1,3 milhões de km² antes da colonização europeia e hoje tem apenas 200 mil km² aproximadamente, é um alerta sombrio do que pode acontecer com a Amazônia e o Gran Chaco.

É desta floresta que vem também a esperança — segundo estudo publicado na revista Nature, a Mata Atlântica faz parte de um grupo de ecossistemas em que a restauração de 15% da sua área evitaria 60% da extinção de espécies previstas. Ao mesmo tempo, sequestraria o equivalente a 30% do CO2 lançado na atmosfera desde o início da revolução industrial.

Qualquer pessoa com acesso à internet pode acessar imagens de satélites que detectam focos de incêndio na floresta Amazônica e no Gran Chaco — ou em qualquer floresta do mundo.

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