O professor Jesaias Teixeira trabalha na rede pública de ensino do município de Senador Guiomard. Por este motivo, ele escolheu a localidade a qual leciona para dar início à sua exposição “Identidade Acreana”. O projeto foi financiado pela lei de incentivo à cultura, lei Aldir Blanc, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) e está exposto no hall da prefeitura da cidade. Ao todo, uma média de 20 obras seguem em exibição até o dia 5 de agosto.
Pela primeira vez, o município recebeu um projeto de artes visuais direcionado exclusivamente para ele. Há muito tempo o artista tentava realizar a exposição, porém não possuía condições financeiras para a execução. A iniciativa nasceu dentro da sala de aula, quando ele começou a detectar uma grande necessidade e carência nos seus alunos em ter contato com a arte. “Tem muitos alunos aqui do nono ano que nunca foram numa exposição de arte e não sabia o que era.”
Em seus quadros, Jesaias buscou registrar muitas atividades agrícolas, como a pesca, agricultura e plantações, pois são as atividades que ele cresceu vendo seu avô e seus pais desempenharem. Cada imagem e paisagem pincelada por ele perpassa esse cenário acreano das colônias, zonas rurais e ribeirinhas buscando retratar um pouco dessas histórias contadas e vividas por muitas pessoas no estado.
Na memória do artista, ainda vive um cotidiano simples. “A gente dormia de dois, três dias dentro de um barco, a trazia os produtos para vender na cidade e aí voltava para casa no mesmo barco e trocava os produtos por outras mercadorias.”
Por meio da arte, o artista também conta um pouco sobre a sua infância, destacando suas lembranças no Rio Xapuri. “Toda tarde a gente pulava de uma rampa na beira do rio”. Desde os 12 anos de idade ele pinta, entretanto, essa é a sua primeira exposição individual.
Para a composição de suas obras ele utilizou lápis de cor aquarela, nanquim e café. Ele trabalha o grão de café de uma maneira mais profunda, pois participa de todo o processo artístico que começa desde o plantio do grão à moedura e extração do pigmento. O artista consegue extrair cerca de 8 tonalidades, as quais ele aplica em suas telas, e o uso da aquarela de café o permite demonstrar o quanto as suas lembranças do trabalho agrícola incentivam e interferem em sua arte.
Com a exposição, o professor espera que as pessoas se reconheçam por meio de suas obras e que o sentimento de pertencimento à cultura acreana possa vir mediante o contato com os quadros. Jesaias possui uma preocupação não só artística, mas social, pois no interior, principalmente na zona rural, não há possibilidade de muitos alunos se deslocarem até a capital para participar de exposições de arte. O educador enxerga a Arte como um agente transformador que resgata pessoas e as direciona para algo melhor.
Portanto, ele espera aproximar cada vez mais as comunidades de ações como essas que podem atingir e inspirar mais pessoas e despertar futuros artistas. “ Se as pessoas não podem ir até a arte, que a arte possa ir até elas.” A ideia é que a exposição passe em todos os municípios do estado para levar a vivência e os saberes do povo acreano para que tenham conhecimento de sua identidade.