A adolescência é um período marcado por um conglomerado de manifestações emocionais e mudanças no corpo. Por conta disto, os riscos e as preocupações em torno da gravidez na adolescência ainda são muito grandes, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
De acordo com os dados mais recentes do DataSUS divulgados em 2019 sobre esta temática, um em cada cinco bebês que nascem no país é filho de mães adolescentes. Além disto, entre adolescentes de 15 a 19 anos, a média registrada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 68,4 para cada mil mulheres. Este número é maior que a média latino-americana, que é de 65,5.
Este problema de saúde pública traz consigo uma série de prejuízos tanto à gestante como à criança. O DataSUS também mostra que os índices de mortalidade infantil são maiores entre grávidas de até 15 anos quando comparado com mulheres que vivenciam a gravidez entre os 25 e 29 anos de idade. Aborto espontâneo, nascimento prematuro e rompimento do útero são algumas das causas que mais vitimam bebês, justamente porque o corpo da adolescente ainda não está totalmente preparado para gerir uma criança.
ACRE
Dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (Sinasc) apontam que no Acre, os índices de partos entre meninas de 10 a 14 anos marcam 5,6 a cada mil adolescentes, estando acima da média da região Norte, de 4,8. De 15 a 19 anos, os números são ainda maiores: de mil partos, 84,6 são de meninas entre esta faixa etária. Apesar da diminuição em comparação com anos anteriores, estes registros ainda colocam o estado como o terceiro da região com mais incidência de casos, atrás apenas de Roraima e do Amazonas.
Somente em 2020 no estado, 23,04% dos nascidos vivos são filhos de mães entre 19 anos ou menos. A regional do Baixo Acre, por sua vez, registrou números inferiores, com a proporção média de 19,68%.
ACESSO À INFORMAÇÃO DE QUALIDADE
De acordo com a bióloga sanitarista do Núcleo do Adolescente da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), Karla Fernandes, as consequências vão além das fisiológicas. Questões psicossociais como depressão e dificuldade de inserção no mercado de trabalho também atingem o cotidiano destas jovens. “É como se fosse a consolidação do estado de pobreza de muitas adolescentes. Nós vemos um processo de evasão escolar muito grande entre este grupo, e quando elas conseguem empregos são, geralmente, subempregos ou trabalhos como empregadas domésticas”.
Além disto, a profissional comenta em palestra ao Telessaúde Acre que o assunto em torno da sexualidade ainda é um tabu, e que é importante que haja reflexão sobre se as informações fornecidas aos adolescentes são de qualidade. “Quando o jovem não tem um projeto de vida, fica mais difícil dizer ‘não’ a algumas situações, inclusive o de planejar a vida com esse pensamento de ‘eu quero ser mãe ou não? eu quero ser pai ou não?’. É preciso que estes adolescentes vejam para além do horizonte e que nós proponhamos este tipo de discussão”, complementa.
CASOS
A estudante Luana*, de 15 anos, engravidou aos 14 e deu à luz no dia 27 de janeiro deste ano em parto cesáreo, por não ter conseguido de forma normal. Ela contou que mesmo com a questão da pandemia atrapalhando os estudos em 2020, não deu continuidade nos moldes virtuais justamente por ter engravidado. “De primeira, foi bem complicado porque a gente não planejava, mas com o tempo eu me acostumei com a ideia (de estar gerando uma criança) e nunca pensei em abortar nem nada do tipo, e muito menos meus pais”.
Atualmente, ela mora com o namorado pai do bebê, que tem 19 anos, em um cômodo na casa dos pais dela, que ajudam na criação do bebê. Luana vende algumas peças de roupa pela internet e seu cônjuge trabalha como entregador de lanches. A jovem sabe que os gastos que eles têm são muito altos e que a rotina a pode atrapalhar para quando ela voltar às aulas presencialmente, mas sabe que faz parte. “Não planejei ter ele, mas essa responsabilidade (de cuidar da criança) eu nunca vou colocar em segundo lugar. A prioridade vai ser sempre meu filho, desde quando eu engravidei”, falou.
*Nome fictício para preservar a identidade da jovem