Saúde mental de mães na pandemia: um cenário de exaustão

No início do ano passado (2020) presenciamos o começo de uma pandemia por Covid-19, de proporções as quais não imaginávamos, o que pensamos que seriam duas semanas, se tornaram meses. Alguns países ao redor do mundo começaram a vacinação e hoje se encontram em uma realidade distinta do Brasil. É julho de 2021, a vacinação começou há pouco tempo, estamos imersas/os em um cenário de mais de meio milhão de mortes, a vida precisou ser reorganizada e o peso das mudanças sempre maior quando se é mulher e mãe.

As mulheres na pandemia ficaram mais vulneráveis ao crime de feminicídio – assassinato de mulheres em razão de seu gênero – tendo em vista que passaram a ter mais convivência com seus algozes em virtude do isolamento social. Quando olhamos para os dados do Monitor da Violência (2020) no Brasil, o nosso estado ocupa o primeiro lugar na taxa de feminicídio.

Ainda que num passado recente mulheres tenham adentrado ao mercado de trabalho formal, essa conquista não é estável, como disse a filósofa, escritora e feminista, Simone de Beauvoir (1908-1986) “nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”. Segundo dados da Pesquisa Nacional por amostra de domicílios – Contínua (Pnad Contínua) cerca de 7 milhões de mulheres ficaram fora do mercado de trabalho formal e voltaram, exclusivamente, ao trabalho doméstico – que não é pago e sistematicamente desvalorizado – figurando um panorama de exaustão emocional e física.

Um estudo que apontou a vivencia de mães brasileiras na pandemia foi realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP/Laboratório de Pesquisa em Prevenção de Problemas de Desenvolvimento e Comportamento da Criança, esta constatou que 63% das mães passaram a apresentar sintomas depressivos durante o período pandêmico. Outra pesquisa fora realizada pela Fundação Maria Cecília Vidigal apontou que 41% das mães sentiram dificuldade de lidar com as/os filhas/os na pandemia, sendo maior a dificuldade entre as mães com sintomas depressivos e beneficiárias do Bolsa Família.

Esses dados não podem ser lidos de forma descontextualizada, é preciso demarcar de onde estamos falando, estamos em um país patriarcal, em que mulheres são responsabilizadas e sobrecarregadas por uma tripla jornada de trabalho – casa, filhas/os e trabalho formal – e essa problemática ficou ainda mais explicita no último ano. Para as mães que puderam ficar em casa em home office, houve o atravessamento das demandas das/os filhas/os; e grande parte das mulheres perderam o trabalho remunerado, essa vulnerabilidade foi/é ainda maior para mulheres negras e pobres.

Mulheres estão sofrendo e não podemos mais associar “sacrifício” e exaustão com amor, essas são palavras que não deveriam andar juntas. Onde fica a co-responsabilidade e presença paterna no cuidado das/os filhas/os? É preciso ressignificar o olhar para mulheres que são mães e escutá-las, por trás de uma mãe que “faz tudo” e constantemente se sacrifica, se esconde, por vezes, uma mulher em sofrimento.

Instagram: @psi.kahuana

 

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