Estudo do Instituto Trata Brasil, que monitora os serviços de saneamento básico no país, revela que os serviços de água e esgoto foi o único serviço de utilidade pública, dentre os comparados no estudo (energia elétrica, telecomunicações e gás) que apresentou redução de despesa média neste primeiro semestre de 2021, na região Norte. Sob o título “As Despesas da Família Brasileira com Água Tratada e Coleta de Esgoto”, o estudo faz balanço inédito sobre os gastos familiares com serviços de saneamento básico nas cidades brasileiras, comparando com outras infraestruturas (energia, telecomunicações, gás), bem como o que significam esses gastos frente à renda familiar.
O estudo buscou exemplificar a importância do peso das despesas em relação à necessidade dos serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgotos para a qualidade de vida dos brasileiros. No país, o atendimento de água potável para a população brasileira ainda precisa evoluir para atender a toda população, na qual mais de 35 milhões de pessoas não tenha acesso à água tratada nem para lavar as mãos em tempos de pandemia – população equivalente ao do Canadá. Em relação à coleta dos esgotos, mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso ao sistema, e menos da metade do esgoto gerado é tratado sendo descartado diretamente na natureza.
Nos últimos dez anos (período entre 2008 e 2018), os serviços de saneamento básico apresentaram avanço, isto é, mais famílias tiveram acesso aos serviços de água e coleta dos esgotos, como demonstra o estudo. O aumento foi de 2,2% ao ano de famílias com acesso às redes de água e de 3,7% ao ano de famílias ligadas às redes de coleta de esgoto. Em valores, a despesa nacional média das famílias com as contas de água e esgotos não aumentou, pelo contrário, houve ligeira queda de 1,0% no período, passando de R$ 68,86 em 2008 para R$ 68,20 em 2018. Comparando com outros serviços, por exemplo, a despesa das famílias brasileiras com telecomunicação foi de R$ 117,31 e com energia elétrica de R$ 124,75, em média.
De acordo com outros dados presentes no estudo, 9,2 milhões de famílias não pagavam a conta de água e esgoto em 2018, o que demonstra outro desafio para as empresas operadoras e autoridades dos municípios. Nas áreas urbanas, houve aumento no número de famílias que pagavam a conta de água e esgoto, saltando de 38,2 milhões em 2008 para 46,2 milhões em 2018. Nas áreas rurais também, saíram de 2,2 para 3,2 milhões respectivamente.
Privação do saneamento básico de acordo com a renda familiar, idade e raça
O estudou apontou que a privação às redes de esgoto foi superior a 50%, para famílias com rendimento médio mensal entre R$ 1.908,01 a R$ 2.862,00.
Além disso, é possível analisar de acordo com dados do estudo, que existe uma carência maior dos serviços de saneamento para a população jovem, com idade de até 19 anos. Em 2018, 1/3 dessa população não tinha acesso água.
Analisando os índices de privação aos serviços de saneamento presentes no estudo, foram registrados que as populações parda, indígena e preta apresentam índices maiores que a da população branca e amarela, isto é, 32% da população preta não têm abastecimento de água e 37% não têm rede de esgoto; 36,5% da população parda não tem água e 48,7% não tem esgoto; 33,7% dos indígenas não têm água e 45,2% não tem esgoto.
O estudo analisa que ao mesmo tempo em que os serviços de saneamento básico avançaram de 2008 para 2018, foi possível detectar estabilidade dos gastos das famílias brasileiras com água encanada e coleta e tratamento dos esgotos. Significa que no Brasil os serviços de saneamento básico não apresentaram um peso excessivo às famílias comparados com à energia elétrica e telecomunicações.
Como conclusão, o estudo também aponta que existe uma quantidade significativa de famílias com acesso aos serviços de saneamento básico não paga, principalmente pela vulnerabilidade, o que acaba sobrecarregando toda a sociedade, além de implicar em desafios maiores para as empresas e autoridades locais, responsáveis pelo saneamento básico.