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‘Brasil em chamas’: 57% do Pantanal foi queimado ao menos uma vez entre 1985 e 2020, aponta pesquisa

Por G1

Chamas atingem mata de cerrado em Itirapina — Foto: Reprodução/EPTV

Entre janeiro de 1985 e dezembro de 2020, nenhum bioma brasileiro foi tão atingido pelo fogo como Pantanal, com 57% da área total queimada, segundo os dados do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Clima, divulgados neste domingo (15).

Com a pesquisa, os especialistas buscaram entender o impacto do fogo sobre o território nacional e foram categóricos ao dizer que o “Brasil está em chamas”.

Os dados apontam que 60% dos territórios dos biomas investigados (Pantanal, Amazônia e Cerrado) queimaram mais de uma vez, e em relação ao Pantanal, o número saltou para 67%, nesses 36 anos analisados pela iniciativa.

Para chegar aos números que demonstram o rastro do fogo no Brasil, a Coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, explica que mais de 150 mil imagens foram geradas por três satélites para entender as localidades que foram afetadas pelas chamas.

“Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30 m X 30 m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, independente do uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas revelando áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo”, detalha.

Pantanal em chamas

Entre os 57% da área total do Pantanal queimada, Ane explica que a partir das análises foi possível olhar pontos prejudicados mais de uma vez. “Tiveram áreas que queimaram muitas vezes, inclusive que queimou 15 e 16 vezes, uma área pequena”, pontua a pesquisadora.

  • 20% do bioma queimou duas vezes;
  • 13% queimou três vezes;
  • 9% queimou quatro vezes.

Há cada ano investigado, um mapa foi criado e com a sobreposição dos materiais a recorrência do fogo se tornou evidente aos mais de 15 especialistas que trabalhavam no campo. A especialista do MapBiomas explicou que a reincidência do fogo no Pantanal é comum e faz parte do bioma, mas a queima em grande quantidade é alarmante.

“No caso do Pantanal, o fogo faz parte do bioma de forma natural. Várias coisas impactam na área queimada. Entretanto, o que temos visto é que áreas muito grandes estão sendo queimadas, tem uma recorrência maior de fogo e o fogo está acontecendo em um período de extrema seca. Isso impacta muito na quantidade e qualidade deste fogo e dificulta a capacidade de regeneração do bioma. Acaba favorecendo espécies que são muito adaptadas ao fogo”, detalha Ane.

Ane comenta que o fogo vem sendo utilizado de forma errada para “regular a paisagem do Pantanal e os impactos para a fauna, flora e serviços ecossistêmicos são evidentes”.

Em 2020, quase 60% dos focos de incêndio no Pantanal foram provocados por ações humanas, segundo estudo apresentado pelos Ministérios Públicos de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso. De acordo com o levantamento, foram 4,5 milhões de hectares do bioma, devastados pelo fogo no ano passado.

Para o futuro do Pantanal, a especialista diz que mais incêndios são fatídicos. “Podemos esperar que possa ter mais eventos com incêndios. Uma vez que uma área queima, área de floresta, há suscetibilidade para que haja outros incêndios.

Os eventos de seca extrema vão ser cada vez mais frequentes se não fizermos nada. Estes eventos de seca causam um ambiente ideal para que este fogo se espalhe, e no Pantanal isso fica mais latente”, prevê.

Nos outros biomas

 

Chamas atingem mata de cerrado em Itirapina — Foto: Reprodução/EPTV

Chamas atingem mata de cerrado em Itirapina — Foto: Reprodução/EPTV

“São números alarmantes. O Brasil tem estado em chamas e ele pode continuar em chamas se a gente não focar em controlar o fogo, as fontes de ignição, quem acende o fósforo”, destacou a pesquisadora Ane Alencar.

Em relação a Mata Atlântica, os dados do MapBiomas mostram que os meses de agosto, setembro e outubro, da série de anos analisados, constituem o período em que mais ocorrem queimadas, sendo que mais de 80% das queimadas ocorreram em áreas agropecuárias ou campestres.

Já o Cerrado ocupa a vice-liderança entre os biomas que tiveram seu território queimado pelo menos uma vez no período, com 733.851 km², ou 36% de sua área, seguido pela Amazônia (690.028 km², 16,4%).

“Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite entender mudanças fundamentais no regime de fogo e seu avanço sobre o território brasileiro. Saímos de menos de 200 mil km² de área queimada em 1985 para chegar perto de 2 milhões de km² em 2020 em uma escalada constante e ininterrupta”, detalha Ane Alencar.
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