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Dia do Estudante: no AC, aluno realiza sonho de ter quarto próprio após mobilização feita por ex-professora

Por RENATO MENEZES, PARA CONTILNET

Nesta quarta-feira (11), onde se comemora o dia do estudante, o ContilNet conta a história de um acadêmico de Direito que recebeu doações para a construção de um local apropriado para realizar os estudos remotos. A atitude foi encabeçada por uma professora do Instituto Federal do Acre, que se sentiu tocada com a garra do ex-aluno e resolveu ajudar

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Esta frase do educador Paulo Freire resume, com maestria, a mobilização que a professora de geografia, Renata Abreu, fez em prol do estudante de Direito, Paulo Ricardo Alves, de 20 anos, para que ele tivesse um lugar mais confortável e propício para estudar.

Esta história começa quando o então estudante do ensino médio do Instituto Federal do Acre (Ifac) ganhou alguns livros da servidora para se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019. “Ele me dizia que era difícil de estudar em casa, mas nunca disse o motivo. Como nós temos no Ifac um laboratório de ensino, e como alguns professores estavam afastados para o doutorado, eu ofereci o espaço para que ele pudesse ir estudar lá. Então assim aconteceu: todas as tardes ele ia e fazia as pesquisas dele”, disse.

No início do ano seguinte, Paulo conseguiu uma bolsa integral, através do Programa Universidade para Todos (Prouni), para cursar Direito em uma universidade privada de Rio Branco. No entanto, como ele mora com mais sete pessoas em uma pequena casa de poucos cômodos na periferia da capital, os desafios em torno de como ele se manteria no decorrer da graduação preocupou a ex-professora, que já conhecia um pouco da realidade dele.

“Em contato com ele, já na pandemia, eu perguntei como estava a vida acadêmica, e se já estava estudando pelo computador, e ele disse ‘não, estudo pelo celular’, aí eu fiquei pensando em como que era possível fazer e guardar os trabalhos do curso de direito tendo somente um aparelho móvel. Aí eu e meu filho, em acordo com o pai, resolvemos doar nosso computador de mesa. Quando eu cheguei lá, não tinha nem onde pôr porque (a casa) só tinha três cômodos, e o quarto ele dividia com dois irmãos”, complementou.

Quarto levou 7 meses para ser finalizado pelo avô do estudante, pois a construção dependia da chegada das doações. Foto: Arquivo pessoal

CAMPANHA

Preocupada com a situação, Renata pensou sobre como poderia contribuir para que ele tivesse boas condições, inclusive, para poder se destacar no mercado de trabalho futuramente, uma vez que a área do direito é sempre muito concorrida. Desta maneira, ela resolveu lançar uma campanha nas redes sociais em prol da construção de um pequeno cômodo individual para que Paulo pudesse realizar os estudos.

“Inicialmente, a campanha era só entre o pessoal do Ifac. Nós fizemos um card, pedimos para ele gravar um vídeo, e mesmo com vergonha ele topou. Publicamos e divulgamos, e ele começou a receber as doações. Uma professora do campus que também viu a campanha, disse que no condomínio onde ela morava estava tendo uma construção, então ela decidiu perguntar se eles tinham algo que não estivessem mais usando para colaborar na construção do quarto. Eles acabaram doando todos os tijolos e cimentos necessários”, falou.

Os gestos de solidariedade não se materializaram apenas na construção completa do quarto, que foi construído pelo pedreiro e avô de Paulo, em um período de 7 meses. O jovem também ganhou livros da área de direito, cama e mesa de estudos.

Professora enxergou os esforços que o estudante enfrentava em jornada estudantil e criou vakinha virtual para que Paulo Ricardo lograsse êxito na graduação e na vida profissional. Foto: Arquivo pessoal

LEGIÃO DO BEM

Questionada sobre qual foi o motivo que a fez impulsionar a iniciativa, a professora respondeu que via a força de vontade que ele tinha em seguir em frente com os estudos, mesmo não tendo muitas condições.

“Às vezes eu choro, me emociono. Eu me identifiquei muito porque, igual a ele, meu sonho também era de estudar, e de vir para Rio Branco (pois sou de Xapuri), e eu também vim de família humilde. Hoje eu sou doutora em geografia porque houveram pessoas que me ajudaram no meio do caminho. Eu nunca pensei que minha ideia fosse chegar a tantas pessoas. Tivemos doadores de fora do estado, inclusive. Hoje ele tem um espaço confortável, onde ele pode ter a privacidade dele, pode participar das aulas remotas sem barulho, e também ficar estudando até tarde com a luz acesa, essas coisas”, disse.

GRATIDÃO

De fato, a mobilização foi um verdadeiro sucesso. Amigos do estudante, ex-professores e outras pessoas que se sensibilizaram com a história de Paulo Ricardo, fizeram uma verdadeira legião do bem, justamente por acreditarem no poder de transformação da educação.

“Minha reação foi de gratidão. Em meio a pandemia, pessoas se dispuseram a ajudar, seja doando dinheiro para ajudar na construção do quarto, seja doando livros e móveis. Nunca pensei que teria esse resultado gratificante”, pontuou o acadêmico, que sonha em terminar o curso, fazer a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ser juiz.

Atualmente, Paulo cursa o 4º período da graduação, e expressa muito agradecimento pelo ato encabeçado pela professora. “É uma felicidade muito grande para mim e minha família, agradeço a Deus por ter concluído o quarto com ajuda de pessoas tão generosas, como da professora Renata Abreu, que é um exemplo de superação e inspiração para mim, e a de tantas outras pessoas, pois foram mais de uma que me estenderam a mão. Sem eles, não teria chegado a lugar nenhum”, finalizou.

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