24 de abril de 2024

Índios denunciam em dossiê avanço de madeireiros em terras indígenas no Acre

Madeireiros peruanos, com o uso de máquinas e outros equipamentos pesados, estão avançando do território do Peru para a selva brasileira, na região do Alto Juruá, na fronteira com a Terra Indígena do Povo Ashaninka, no município de Marechal Taumathurgo, interior do Acre. O alerta foi feito às autoridades do meio ambiente do governo brasileiro pela Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa), Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) e Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), além de mais oito entidades indígenas peruanas.

O líder do povo Askaninka, Francisco Piãko, disse que o alerta do avanço dos madeireiros foi feito por índios do povo Sawawos, que vive do outro lado da fronteira, em território peruano. Os índios Sawawos, percorrem vieram à Terra Indígena dos Ashaninka avisar do avanço e mostraram a gravidade ao apontarem que cruzaram a selva por uma estrada que está sendo reaberta desde o Peru rumo ao território brasileiro. A estrada foi aberta no passado para a retirada de madeira pelo governo peruano, mas agora está sendo reaberta sem autorização ou qualquer política pública, denunciam as lideranças indígenas num dossiê.

O dossiê alertando para a ameaça às comunidades da Reserva Extrativista do Alto Juruá revela que o avanço consiste na reabertura da estrada que vai de Nueva Italia a Puerto Breu, no Peru, por empresas madeireiras e outros grupos, fronteira com o Acre. O dossiê também expõe uma série de documentos oficiais, mapas e falas das lideranças, que mostram o risco que este empreendimento representa para os povos indígenas e comunidades tradicionais da região. O avanço já está próximo à Foz do breu.

A comunidade Breu fica na fronteira com a cidade de Marechal Thaumaturgo, município isolado acreano. Segundo as associações, essa estrada foi aberta há alguns anos para transporte de madeira, porém, se mantinha fechada. “Agora, estão reabrindo a estrada sem nenhum projeto ou trâmite burocrático. Nesta semana, os invasores se aproximaram da terra dos ashaninkas. São madeireiros e grupos que agem de forma ilícita na região”, disse Piãko.

Foto: Reprodução

“No começo de agosto de 2021, o Comitê de Vigilância da Comunidade de Sawawo (Hito 40) confirmou à Associação Ashaninka do Rio Amônia – Apiwtxa, que à frente de abertura da estrada UC-105 (Nueva Italia-Puerto Breu) já se encontra a aproximadamente 11,3 km da fronteira com o Brasil, às cabeceiras do Rio Amônia, ameaçando inclusive a soberania nacional brasileira. No início de agosto de 2021, o Comitê de Sawawo realizou uma expedição no rio Amônia para verificar as ações ilegais das madeireiras na região e identificar o tamanho do impacto, quantidade de máquinas, qual empresa é responsável e quantos trabalhadores há no local”, acrescentou o líder indígena.

Francisco Piyãko diz que a reabertura dessa estrada deve acabar interferindo no aumento de crimes na fronteira, além do impacto ambiental nas comunidades nativas. “O impacto disso será muito grande, com a migração de grupos ao longo desta rodovia, trazendo para próximo da nossa fronteira e para a cabeceira dos nossos rios, extração de madeira ilegal, tráfico de drogas e outras ações ilícitas”, destaca.

Uma comissão de organizações de apoio aos povos indígenas do Peru esteve no local, nesta segunda-feira (16), segundo Apiwtxa, e apurou os relatos de invasão da última semana. “É possível ver o caminho aberto pelas máquinas, de forma ilegal, pelo território do povo Ashaninka da comunidade Sawawo Hito 40. As organizações constataram que o grupo de Sawawo já está sofrendo ameaças e o trânsito de tratores por seu território está ocorrendo sem eles poderem impedir”, pontuou a organização.

“Nós estamos percebendo que esta região do Juruá, além da estrada, representa um processo de construção sem levar em conta os cuidados, sem consulta às comunidades, sem estudo prévio. Tudo isso representa uma ameaça para nossa população. O que pode gerar um empreendimento como esse? É a abertura para muitas coisas ruins para uma região como essa. Nós estamos em uma região que estamos precisando fazer um debate coordenado, articulado com várias intuições e comunidades locais para pensar qual o desenvolvimento desta região que é necessário fazer. Quando se abre uma estrada, isso a gente conhece, ela não traz benefício para as comunidades locais. Isto está mais do que claro. Ela traz uma oportunidade para que os interesses de fora consigam acessar as riquezas locais. Ela transforma as comunidades locais em mão de obra. Vai destruir o modo de vida das comunidades”, enfatiza Piyãko.

Atualmente, segundo informações do governo federal, a unidade de conservação tem mais de 528 mil hectares e 18,4 mil habitantes. “O que ameaça uma região dessas é essa aproximação de fora para cá, com outros modos de vida, com outros valores, com outras coisas que vai querer sobrepor esse jeito de viver aqui, e esse talvez seja o lugar do mundo que tem uma qualidade que está tão pura, que não tem o mercúrio, que não tem nenhuma contaminação. A água é pura, você pode beber, você pode andar, você pode vir e comer peixe, a caça”, pontua Piyãko no dossiê.

O documento lista as comunidades indígenas a serem atingidas: Terra Indígena Kampa do Rio Amônia: Povo Ashaninka; Terra Indígena Apolima-Arara do Rio Amônia; Povo Apolima-Arara; Terra Indígena Jaminawa/Arara do rio Bagé: Povo Jaminawa/Arara; Terra Indígena Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu: Povo Huni Kuī e Ashaninka; Reserva Extrativista do Alto Juruá e Povo Kuntanawa, extrativistas e ribeirinhos dos rios Breu, Tejo, Juruá e Arara.

Os documentos foram encaminhados tanto para a Fundação Nacional do Índio (Funai), como para autoridades peruanas. Procurado, o consulado peruano no Acre não se posicionou sobre o assunto, informando que o expediente no local só vai até às 13 horas.

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