Marina Silva defende o fim da reeleição e diz que Bolsonaro é um “golpista convicto”

Em entrevista ao portal de notícias UOL, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva diz, nesta terça-feira (17), a partir de São Paulo, onde vive com o marido Fábio Vaz e os filhos, que não há lugar para ruptura institucional e para a instalação de uma ditadura no Brasil, como defende o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. A reportagem fala um pouco do cotidiano da acreana afirmando que, para ela, “a melhor parte do dia de Marina Silva é a manhã — quase o fim da madrugada”, quando a ex-ministra diz levantar da cama às 4h30, todos os dias — hábito que criou ainda quando trabalhava no seringal, n o Acre —, para ter tempo de arrumar o café da manhã e aproveitar “o silêncio que favorece” a leitura dos livros que está lendo.

Seu livro de cabeceira atualmente, segundo ela, é o “O mal-estar na civilização”, de Sigmund Freud. Marina diz que se baseia no escrito do fundador da psicanálise para analisar o cenário ambiental e político no Brasil de hoje. Sua primeira análise foi sobre o desfile de tanque na esplanada dos Ministérios, em Brasília, na semana passada. “Foi deplorável o desfile de tanques de guerra protagonizado pelas Forças Armadas no dia em que a Câmara dos Deputados votou a PEC do voto impresso”, classificou.

Para Marina Silva, “as Forças Armadas se prestarem politicamente e simbolicamente ao que aconteceu é deplorável. Já é um atentado à democracia”, avalia.
Segundo ela, o presidente Bolsonaro está tentando fazer o golpe no varejo, “desmoralizando a democracia, desmoralizando os veículos de comunicação, desmoralizando as leis, desmoralizando a lógica da autonomia entre os Poderes. Ele quer mostrar que o símbolo da força, das armas, está ao lado dele.”

Apesar de classificar Bolsonaro como um “golpista convicto”, a ex-candidata à Presidência descarta que haja espaço para um golpe militar no país. “Em nenhum em contexto das democracias ocidentais. Se [o ex-presidente estadunidense, Donald Trump tivesse ganho, poderia ter algum tipo de suporte. Mas, hoje, isso não tem suportes e as consequências seriam drásticas para os interesses econômicos e sociais”, analisa. “As tentativas que vão sendo feitas não tem aderência na maioria da sociedade, no setor empresarial, nem no mundo ocidental. A resistência das instituições democráticas tem sido exemplar. O Congresso às vezes de forma retórica”, disse Marina Silva, que criticou o presidente da Câmara, Arthur Lira, por dar vazão aos arroubos antidemocráticos de Bolsonaro.

E sobre o livro que está lendo, ela diz: “Se estamos falando de Freud, não é retrocesso. O caso aqui é uma regressão. No caso do governo Bolsonaro, é voltar a um estágio anterior, ao ponto a partir de que avançamos a duras penas em diferentes governos”.

Atualmente, Marina defende o fim da reeleição. “No Brasil com a reeleição, tivemos retrocesso terrível. As pessoas focam em ganhar a próxima eleição. A presidente Dilma [Rousseff] não fez o que poderia fazer na crise de 2008 para ganhar a eleição de 2010. E assim tem acontecido”.

A ex-ministra tem se colocado como uma das representantes da chamada “frente ampla”, ideia de setores políticos de ter um candidato antagônico ao ex-presidente Lula (PT) e a Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Marina aproveita para criticar Bolsonaro e, também, distribuir alfinetadas ao PT e ao PSDB, mas não respondeu se será candidata à Presidência em 2022.”Eu estou contribuindo como candidata a que a gente tenha um Brasil melhor na saúde, na educação e no combate às desigualdades sociais”, afirma. O PT e PSDB precisam fazer uma autocritica não só sobre questões éticas, mas também sobre o fato de terem ficado tanto tempo no poder após a reconquista da democracia e não terem sido capazes de estabilizar um procedimento das Forças Armadas de completo respeito à Constituição, por exemplo”, disse.

Para a ex-senadora, é impossível pensar em um projeto de país sem levar em conta ações de preservação do Meio Ambiente, pauta de domínio e militância da historiadora e ambientalista. Freud usa o termo de prepotência da natureza. Enfraquecemos essa prepotência nos favorecendo. Usamos e desenvolvemos energia para aumentar o abastecimento de uma população que saiu de um bilhão de pessoas para sete bilhões. Mas a produção dessa energia vem de combustível fóssil, aumenta consumo, produtos e materiais. Agora, é prejuízo para economia, para a vida e para a nacionalidade de muitos povos no Brasil”.

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